De acordo com algumas teses inspiradas na teoria do evolucionista britânico Charles Darwin acerca da seleção de natural, a natureza teria determinado que as mulheres fossem mais seletivas, fiéis e zelosas com a prole.
Segundo os pesquisadores Wendy Saltzman e Dario Maestripieri, da Universidade da Califórnia, em artigo “A neuroendocrinologia do comportamento maternal dos primatas”, os neuro-hormônios definem o comportamento materno.
“Em primatas não humanos e humanos, semelhantes a outros mamíferos, os hormônios não são estritamente necessários para a expressão do comportamento materno, mas, no entanto, influenciam a variação na responsividade materna e no comportamento parental entre os indivíduos”, dizem os autores.
Estrogênio
Segundo os estudos realizados pelos cientistas, altas concentrações de estrogênio circulante durante a gravidez aumentam a motivação materna e a reação positiva em relação aos estímulos do bebê, enquanto os efeitos dos estrogênios e progestogênios pré ou pós-parto no comportamento materno são menos evidentes.
Segundo eles, outro achado é que níveis elevados de cortisol, hormônio cuja função é ajudar o organismo a controlar o estresse e reduzir inflamações, parecem aumentar a excitação e a capacidade de resposta aos estímulos infantis em primatas fêmeas jovens e inexperientes, mas prejudicam a expressão do comportamento materno em mães mais velhas e experientes.
“Tanto o alto hormônio liberador de corticotropina como os baixos níveis de serotonina no cérebro parecem inibir o comportamento materno em primatas”, dizem Saltzman e Maestripieri.
Prolactina
Os pesquisadores também acreditam que a prolactina tem um papel importante no cuidado paterno em primatas. No entanto, pouco se sabe sobre a relação entre esse hormônio e o comportamento materno.
Evidências indicam que a oxitocina, também conhecido como neurohormonio do amor, e os opioides endógenos, pequenas proteínas que se ligam a receptores analgésicos naturais no corpo chamados endorfinas e encefalinas, afetam o apego materno aos bebês. Esse comportamento inclui o contato, limpeza e resposta à separação.
A serotonina, por sua vez, afeta a ansiedade e a impulsividade, podendo afetar os comportamentos maternos, como a recuperação do bebê ou a rejeição das tentativas dos bebês de fazer contato com a mãe, dizem os pesquisadores.
Comportamento maternal
“Embora nossa compreensão dos correlatos neuroendócrinos do comportamento maternal dos primatas tenha crescido substancialmente nas últimas duas décadas, muito pouco se sabe sobre os mecanismos subjacentes a esses efeitos, por exemplo, até que ponto esses mecanismos podem envolver mudanças na percepção, emoção ou cognição”, dizem os pesquisadores.
Os homens que se tornam pais pela primeira vez também são semelhantes às suas parceiras, defendem Katherine E. Wynne-Edwards Catharine J. Reburn, da Queen’s University, no Canadá.
“Esses estudos recentes ainda são correlacionais, mas prometem iluminar o comportamento materno e validar biologicamente as experiências dos pais envolvidos”, dizem.
Estilo de vida
O estudo de Wynne-Edwards envolve os impactos do estilo de vida no sistema endócrino e no cérebro, assim com sua influência no desenvolvimento de doenças crônicas. Seu laboratório é especializado na extração de esteroides de tecidos não convencionais, como a saliva.
Por se comportarem tanto como neurotransmissores quanto como hormônios, a oxitocina e vasopressina apresentam um amplo espectro de atuação, seja em humanos, seja em outros mamíferos. Entre as funções da oxitocina, por exemplo, envolvem a estimulação para a dilatação cervical, a contração uterina durante o parto, a liberação do leite em mães lactantes e o orgasmo durante a atividade sexual.
Comportamentos sociais
No cérebro, a oxitocina está envolvida em complexos comportamentos sociais e reprodutivos, como cuidado parental, escolha do parceiro, modulação do estresse e ansiedade, segundo o geneticista comportamental Richard Ebstein, professor do Departamento de Psicologia da Universidade Nacional de Cingapura e professor emérito do Departamento de Psicologia da Universidade Hebraica.
Em seus estudos, ele demonstrou que a arginina, a vasopressina e a oxitocina modulam o comportamento social humano. Segundo ele, existem evidências crescentes que sugerem que esses neuromodulares estão envolvidos nos transtornos do espectro do autismo. Polimorfismos genéticos nessas vias da contribuem para déficits nas habilidades de socialização nesse grupo de pacientes.
A oxitocina, molécula de sinalização provenientes de um peptídio ancestral, aparece em diferentes variantes em todos os vertebrados e várias espécies de invertebrados. “Ao longo da evolução animal, a sinalização neuropeptidérgica foi adaptada por organismos para regular a resposta a ambientes que mudam rapidamente”, diz o pesquisador.
Cuidados paternos
Estudos feitos com primatas mostram que os machos podem tolerar ou interagir pouco com a cria. Em outros casos, podem ter pouco cuidado com os filhotes. O cuidado paterno estaria envolvido flutuações dos hormônios sexuais estrógeno e de progesterona. Esses hormônios também estão envolvidos no parto e na lactação, segundo Saltzman e Maestripieri.
As bases hormonais do cuidado paterno envolvem outros neuromoduladores, como a oxitocina, a vasopressina, a prolactina e a testosterona, escreveram Wynne-Edwards e Reburn.
Modelo em hamsters
Em seus estudos, Wynne-Edwards está interessada em entender a base hormonal e neuroendócrina do comportamento dos pais, usando um modelo excepcional de paternidade em hamsters.
”A paternidade mamífera envolve uma versão silenciosa da experiência materna. Apesar de suposições anteriores em contrário, os hormônios influenciam o comportamento paterno dos mamíferos. Naturalmente, os pais experimentam mudanças dinâmicas nos mesmos hormônios envolvidos no comportamento materno e esses hormônios têm acesso às mesmas vias cerebrais”, explicam.
Um estudo realizado pelas pesquisadoras com amostras de sangue de hamsters demonstrou que há maior nível de prolactina e menor testosterona no comportamento paterno durante o início da lactação. Além disso, as concentrações de cortisol foram reduzidas após o estabelecimento de um vínculo com os filhotes.
O estudo mostrou que os machos tinham cortisol elevado antes do nascimento. Os resultados apoiam a hipótese de que o comportamento paterno dos mamíferos uma resposta hormonal parecida ao comportamento materno.
Impulsos sensoriais
No cérebro dos mamíferos, são descritos mais de 100 neuropeptídeos. A maioria deles é sintetizada e liberada do hipotálamo, região do cérebro que processa impulsos sensoriais recebidos do músculo liso. Eles atuam em sistemas periféricos, longe do cérebro, por isso agem também como hormônios endócrinos.
Alguns desses elementos apresentam somente nove aminoácidos: são os chamados nonapeptídeos. Desses, os mais estudados são a oxitocina e a vasopressina, que provavelmente surgiram a partir da duplicação de um gene ancestral, a vasotocina, há 600 milhões de anos, segundo Christian W Gruber e Markus Muttenthaler, da Universidade de Viena, na Áustria. A vasotocina, por exemplo, foi encontrada nos ciclostomados (lampreias) e em peixes ósseos.