“Eu ainda quero acreditar na humanidade e nos relacionamentos!”, está cada dia mais desafiante dizer e/ou escrever essa frase. Os que me conhecem, já me ouviram dizer essa frase algumas vezes, bem como “o dia que eu parar de acreditar nas pessoas e nos relacionamentos, terei de parar de trabalhar”. Busco muitos temas para escrever, referentes à minha prática de vinte anos de consultório,  às minhas experiências e às pessoas ao meu redor.

E o assunto que paira nas últimas semanas, no pós-Covid – se é que podemos chamar assim, pois ainda não acabou por completo – após uma pandemia que nos obrigou a reflexões, isolamentos e um novo jeito de viver e de nos relacionar, essa “abertura”, ou “brecha”, referente ao retorno, ou tentativa de voltarmos a planejar futuros, viagens, encontros, eu o tenho chamado de tentativa de sair da caverna e espiar o mundo lá fora.

Por dentro e por fora

Está tão confuso aqui dentro, Fabiana, e vem você sugerindo que eu observe o mundo lá fora?

Sim, tenho provocado alguns pacientes e amigos, e essa frase vem à tona com muita frequência.

Como já ouvi, algumas vezes, de uma pessoa que passou em minha vida – “o mundo não para, para você curar suas feridas” – dolorido, mas verdadeiro.

Então, chegamos à constatação de que estamos ainda mais confusos referente a nós, a nossos quereres e aos nossos relacionamentos. Ótimo!

Desse modo, por que não assumimos nossa condição humana e, com calma e humildade, recomeçamos?

Recomeçamos a pensar e a nos trabalhar no que queremos? Por que não saímos com calma da caverna? Já acenderam a luz, de repente, após estar muito tempo no escuro? Então, é isso o que acontece quando nos desesperamos, quando achamos que não temos mais tempo a perder, quando somos consumidos pela ansiedade e queremos, a qualquer, custo ter alguém.

Mas qual o TOTS?

Outro dia, perguntei a uma paciente que estava muito triste porque mais uma investida não tinha dado certo: “Mas, Fulana, esse rapaz tinha as características que você deseja de um parceiro?” E a resposta foi a seguinte: “Não Fabi, mas sabe… (e vieram todas as justificativas, carências, ansiedades e desespero)”.

Colocamo-nos muitas metas, tempos e objetivos, muitas vezes jogados e misturados à vida excepcional que desenhamos para nós, com suas excelências e “times” muitas vezes sem nenhum sentido.

Passo sessões e sessões – e colocam sessões nisso – desenhando TOTS com meus pacientes. Na verdade, essa é a expressão que eles mais ouvem. Qual o TOTS?

Em PNL Sistêmica TOTS significa “uma estratégia metal é tipicamente organizada em um circuito básico de feedback chamado T.O.T.S.”(Miller, etc., 1960).

Robet Dilts, pai da PNL Sistêmica, complementa dizendo “As letras T.O.T.S. significam Teste-Operação-Teste-Saída. O conceito de T.O.T.S. afirma que todos os programas mentais e comportamentais giram em torno de se ter um objetivo fixo e uma variedade de caminhos para o alcance deste objetivo. Este modelo indica que, quando pensamos, definimos metas em nossa mente (consciente e inconsciente) e desenvolvemos um TESTE para quando a meta for alcançada. Se esta meta não for alcançada, nós OPERAMOS para mudar algo ou fazemos algo que nos aproxime da meta. Quando nosso critério de TESTE for satisfeito, nós então SAÍMOS para os próximos passos”.

A perda do objetivo real

Importante nesse conceito é que o OBJETIVO é FIXO, mensurável, atingível e com evidências de que foi atingido. O que se movimenta são as OPERAÇÕES “uma variedade de caminhos/meios para atingir esse objetivo”(Robert Dilts). É muito comum as pessoas mudarem os objetivos o tempo todo justamente por não ter esses objetivos bem definidos. O adequado é ter o objetivo fixo e modificarmos as estratégias para alcançarmos esse objetivo, e não mudar o objetivo, se perdendo em si, dando aquela sensação de não saber onde está, onde quer chegar e o que está fazendo de sua vida.

E TOTS vale para tudo. É importante termos um objetivo muito bem elaborado e pensado para cada coisa que nos propormos fazer, pois, caso contrário, nunca saberemos se o atingimos, e ficamos assim perdidos, justificando nossas carências e ansiedades.

Uma reflexão necessária

Pare agora e por favor responda para você mesmo, qual seu TOTS referente a se relacionar amorosamente?

E, após isso, perceba, pergunte e sinta se a pessoa com quem está desejando se relacionar está no mesmo TOTS que você. E têm mais!  Muitas vezes, eles ou elas dirão que sim, que querem isso ou aquilo, mas cabe a você perceber para onde “essa carruagem corre” e freá-la, mudar a rota, etc. etc. etc. Afinal, muitas vezes, nos relacionamos com pessoas tão ou mais perdidas que nós. Parafraseando uma frase famosa de Sêneca que diz que “Quando não sabemos para que porto estamos indo, qualquer vento nos é favorável”. O outro também não direciona seus objetivos e coloca a emoção e a ansiedade para dirigirem a vida, portanto, pode falar o que você quer ouvir (e faz isso com a frequência e a naturalidade envolvida nessa dinâmica), pois o prazer momentâneo é sanar a carência.

Aí você pode questionar. Mas esse pode ser um objetivo? O objetivo de não ficar sozinho? Bom, aqui podemos abrir mais um leque de debate, porém, pode ser tema de outro texto. Neste eu insisto na auto reflexão de que não há como sanar a carência da solidão, quando não temos a real parceria. O objetivo de “curar” uma carência é individual, singular e egoísta. Supri a necessidade egóica do EU. Não do NÓS. Pensei nisso!   

Ah! E é muito importante lembrar que mudar a rota não significa necessariamente mudar o outro!

E MAIS…

Sugestão de roteiro TOTS

Algumas perguntas são essenciais em seu roteiro de auto reflexão para desenhar um TOTS referente a relacionamento:

  1. O que você quer ao se relacionar com alguém?
  2. Referente a esse querer acima, o que te impede?
  3. Referente a esse querer acima, o que cabe a você e o que cabe ao outro também querer?
  4. Ao conhecer alguém, ele (a), possui as características que cabe a ele?