Eu sempre digo: “depois que inventaram o pedir desculpas, a vida ficou muito fácil”. Sim, perdoar é grandioso e faz muito bem à saúde emocional, mas o ato de perdoar, repetitivamente, sem processar o acontecido, apenas porque o social diz que é o correto, não faz bem a ninguém.

Valores e crenças em jogo

Permissibilidade é descrita no dicionário como a “qualidade do que é permissível”. Parece simples não? E o que é permissível? Como o que é permissível e o que deve ser desculpado estão completamente conectados a valores e crenças, é algo diferenciado para cada indivíduo, de acordo com o meio cultural, familiar e, principalmente, no qual está inserido; é desafiante eleger o que é certo e errado, mesmo porque o que é certo e errado também são valores.

As nossas crenças são baseadas no modo como interpretamos a nossa realidade. Ou seja, o significado que damos a determinados pensamentos ou experiências e o modo como interpretamos tais fatos que nos ocorrem. Por crescermos em famílias, culturas e contextos diferentes, cada pessoa desenvolve o seu sistema de crença.

Consciência primitiva

Aquilo que chamamos de consciência moral tem bem pouco a ver com uma consciência que esteja de acordo com princípios divinos. Bert Hellinger, criador da Constelação Familiar, percebeu que existe nos grupos (nações, comunidades, famílias) uma espécie de consciência primitiva, que atua sem que seja percebida conscientemente. É uma consciência inconsciente e só conseguimos perceber sua presença e atuação pelas consequências.

O que quero ressaltar nesse texto é muito maior que a formação de nossas crenças e valores. Sim, é o aumento que percebo, em consultório, dos pedidos de desculpas, recorrências e a discussão sobre quando isso se torna uma permissibilidade prejudicial.

Colheita das consequências

Gostaria muito que esse texto trouxesse a reflexão sobre os pedidos de desculpas, antes da colheita das consequências. Muitas das patologias descritas nos meus textos anteriores, como Dependências Afetivas, Codependência, Amor Patológico, entre outras, falam sobre essa recorrência permissiva e a dificuldade em eleger os comportamentos que não vou admitir nos meus relacionamentos amorosos, bem como qual o limite dos pedidos de desculpas.

Qual é esse limite? A resposta parece simples, quando o comportamento faz mal a nós, ao outro e ao relacionamento, porém, o desafio está, como muito bem descrito por Bert Hellinger, em perceber isso antes das consequências.

Por outro lado, isso também esclarece que há uma grande possibilidade do outro só mudar esse comportamento recorrente que lhe faz mal, e o pedir desculpas, após consequências reais. Lembram-se da história de que só mudamos pelo amor ou pela dor? Portanto, é exatamente assim. Se o seu parceiro não aprendeu que tal comportamento dele faz mal a você pela conversa, pelo primeiro pedido de desculpas e pelo seu perdão, então, ele só aprenderá pelas consequências.

PNL Sistêmica

Como dizemos em PNL Sistêmica, “os mesmos caminhos, levam aos mesmos lugares”. Se você só ficar reclamando, e não se posicionar de maneira diferente, há uma grande possibilidade de você obter as mesmas respostas do seu parceiro.

Como nossas crenças e valores são muito individualizados, o que digo em consultório quando o tema é “como devo me posicionar para não passar mais por isso, chega” é: conversem e expliquem no que acreditam, crenças e valores não são nada óbvios. Também é muito importante firmar contratos em todos os relacionamentos. Pode parecer sério e formal, mas você só poderá cobrar do outro algo que lhe fez mal, se ele souber que isso lhe faz mal, assim como, e o mais adequado, é que aplique consequências que foram combinadas. Quando a aplicação de uma consequência for surpresa ao parceiro, tem algo inadequado.

E mais…

Pequenas ações mudam comportamentos

Algumas orientações podem ajudar a mudar a dinâmica desse comportamento repetitivo de pedir desculpas.

  1. Crenças e valores não são óbvios, conversem muito sem julgamento, e sim, em entendimento.
  2. Não deixem passar pequenos incômodos.
  3. Não idealizem o seu parceiro ou seu relacionamento, saibam e digam o que desejam.
  4. Tenham flexibilidade. É desafiante equilibrar valores e crenças de dois indivíduos únicos.
  5. Não esperem acumular desgostos.
  6. Procurem ajuda, antes que os machucados sejam irreversíveis.
  7. Terapia de casal é autoconhecimento.