A pandemia veio para mostrar o quão importante é a união das pessoas para minimizar o contágio e superar esse mal que assola o país e dizima famílias. Entretanto, ela nos fez perceber que o processo educativo é realmente uma ação intencional e, para que essa ação ocorra, precisaremos reinventar a realidade e perceber que esse processo ultrapassa os espaços escolares.

Foi o momento para nós, educadores, gestores e pais revermos o que poderemos explorar de tecnologia para que nossos educandos não fiquem na inércia do tempo, deixando-se enraizar pela ignorância e se tornando mais um alienado subalterno, aumentando assim a massa de manobra.

É um momento de reflexão para repensar nos verdadeiros valores do antes e depois da Covid-19. Dito isso, poderemos ter a certeza que a pandemia será o marco para necessárias mudanças comportamentais e atitudinais, bem como na política pedagógica, para que transcorra da melhor maneira o processo ensino aprendizagem.

Pais ausentes

Antes da pandemia, tínhamos escolas com pais ausentes, que faziam delas um depósito de crianças. Hoje, temos espaços escolares “virtuais” que, por meio da pandemia, fez com esses mesmos pais tornassem mais presentes no processo de educação e mais participativos, estreitando, dessa forma, os laços afetivos com os seus filhos, já que nas séries iniciais a afetividade é de suma importância para o desenvolvimento cognitivo da criança.

Desta maneira, pode-se perceber que realmente a pandemia implicou em uma mudança do cenário educacional, pois alguns pais tiveram que reaprender para ensinar seus filhos e até mesmo aprender com eles os conteúdos ministrados pelos professores, que também continuam a se esforçar para manter sempre o seu profissionalismo e oferecer o melhor de si.

Assim sendo, vale perceber que o cenário da sala de aula deu lugar as telas de celulares e/ou computadores. O professor virou uma espécie de youtuber (influencer). Embora alguns tenham explicitado certa insegurança com tal tecnologia, o professor não se deixou abalar pelo desafio e abraça a profissão com amor e dedicação.

Aprendizagem fria e distante

Realmente houve uma mudança de cenário. Aquele método outrora aplicado em sala de aula pelo professor deu espaço para novas metodologias de forma prender a atenção da criança, que se encontra muitas vezes desmotivada a enfrentar horas de uma aprendizagem fria e distante, já que ela não tem o calor das conversas com os amigos, a atenção e o olhar dedicado do professor.

A mudança de uma aula presencial para uma aula online exige mais autonomia de nossos educandos e, de forma concomitante, o professor precisa repensar como trabalhar isso. Ao invés de se preocupar em passar todo um conteúdo que poderá se tornar estéril ao educando, o professor precisa agora ser um fomentador dos quatro Cs, muito bem explicado nas falas do professor israelense de história Yuval Noah Harari, em seu livro “21 Lições para o Século 21”, publicado pela Companhia das Letras, em 2018. Segundo o autor, educar focando os 4 Cs é educar desenvolvendo o pensamento crítico, comunicação, colaboração e criatividade.

Isso foi um momento ímpar para reencantar nossos alunos e entrar de vez em seu mundo, já que nós professores estávamos aquém dessa realidade. Interessante perceber nas falas do sociólogo Pedro Demo, em seu livro “Saber Pensar”, publicado pela Cortez, em 2000, a relevância em se trabalhar a autonomia do educando. Mesmo com a tecnologia da informação nos distanciando dele, é possível que nós, professores, consigamos desenvolver no educando o humanismo, conceito que mesmo em aulas presenciais deixava a desejar.

Paulo Freire

As aulas online fizeram com que nós, professores, aplicássemos, de forma enfática, as ideias do educador e filósofo Paulo Freire, muito ressaltadas em seu livro “Educação e Mudança”, publicada pela Paz e Terra, em 1979. Como defendia esse ícone da educação, é preciso fazer o aluno deixar de ser um sujeito passivo, tolhido de criatividade e discernimento, e desenvolver nele uma consciência crítica e ativa. Isso será alcançado com um protagonismo social, trabalhando a autonomia, criatividade e evitando o instrucionismo.

Essa ideia é corroborada pelo filósofo Thomas Ransom Giles em seu livro “Filosofia da Educação”, publicado pela EPU, em 1983, ao elucidar que o educador é o firmar-se na prática da liberdade, desenvolvendo, dessa forma, a consciência do educando em poder ser mais, percebendo que o mundo é baseado no coletivo.

Assim, chegou a pandemia no Brasil. Abalou a economia, a política e até mesmo a fé de alguns. Entretanto, para nós professores, apenas reforçou as falas de Dalai Lama ao dizer que “o período de maior ganho em conhecimento e experiência é o período mais difícil da vida de alguém”.

Assim sendo, cabe perceber que esta pandemia nos tirou de uma zona de conforto, entretanto, nos mostrou o quanto somos adaptáveis e capazes de levarmos a educação onde quer que seja necessário, pois nunca perderemos “a estranha mania de ter fé na vida”.

E MAIS

Enfrentamento da Covid-19 leva o professor a se comunicar a partir da tecnologia da informação

A Covid-19 trouxe como consequência o isolamento social. Foi o momento para desenvolver o autoconhecimento, as novas aprendizagens e as descobertas, inclusive por parte do professor. Ele passou a ser conhecedor de tecnologias da informação direcionadas para conferências online, algo que até então estava distante de sua realidade, pois muitos se encontravam dependentes de uma lousa e pincel. Porém, eles tiveram que abrir mão desta arcaica tecnologia para embrenharem nas lives, criando vídeos, fazendo edições e enviando via WhatsApp, Facebook, dentre outras que antes eram usadas apenas para uma “interação social virtual” , e que do dia para noite passou a ser um também um lugar de aprendizagem.