Quem já não se sentiu frustrado?  Todos nós, e mais de uma vez, não é mesmo? Desde o nascimento somos seres desejantes e, por isso, somos frustrados, pois nem todos os nossos desejos são atendidos.

O bebê chora porque está com fome, porque quer o colo, porque quer ser embalado, sente-se abandonado naqueles poucos minutos que sua mãe o deixa no berço para preparar a mamadeira. Aos poucos, vamos percebendo que não seremos sempre atendidos pelos outros. Mais ainda, que teremos, nós mesmos, que nos cuidarmos e não podemos esperar que o outro o faça.

Ao longo da vida sofremos inúmeras perdas, de trabalho, de amores, de pessoas próximas e queridas. Vamos nos transformando. As frustrações, embora doloridas, muitas vezes fazem parte do desenvolvimento humano e são importantes para o crescimento do indivíduo. A questão está em como cada um de nós reage a elas. 

Daí falarmos em saúde emocional como a condição de conseguirmos lidar com as nossas frustrações, nossas emoções, como o amor, a raiva, a tristeza, sem adoecermos. É manter o equilíbrio, o que pode parecer fácil, mas não é.

Desequilíbrio das emoções

Saber lidar com as nossas emoções é muito importante, talvez mais do que explorar um dom ou ser um expert em determinada área. Assim, não é o bastante deter conhecimento acerca de determinado assunto. Por isso, encontramos pessoas que possuem grande talento, com MBA, mestrado, doutorado, pós-doutorado, mas não sabem lidar com suas frustrações, suas dores e com uma perda ou separação, por exemplo. Ao encarar situações como essas, ficam totalmente desequilibradas e perdem o chão.

Quantos filhos reclamam que seus pais nunca lhes disseram “eu te amo”, ou lhes perguntaram, olhando nos olhos “como você está se sentindo”? Não pretendo evocar a culpa dos pais ou a falta de amor por parte deles, mas evidenciar uma dinâmica familiar que ainda existe, mesmo nas famílias mais jovens, e que vem sendo passada de geração a geração. A “dinâmica do silêncio”, a ideia de que não é preciso falar “dessas coisas”, de que é suficiente manter os filhos em um bom colégio, patrocinar um intercâmbio, prover a subsistência, transmitir alguns valores e, claro, tentar evitar que eles tenham muitas frustrações.

A dificuldade de explicitar o que se guarda no peito, quer seja amor ou ódio, não fica apenas no âmbito familiar mais restrito. Ela acaba tomando conta da vida do indivíduo, que passa a não conseguir falar de si, que passa a atuar segundo esse padrão na vida profissional, social e amorosa.

Não dizer o que sente, além de impedir o compartilhamento das emoções com o outro, pode dar margem a interpretações variadas e fazer o indivíduo adoecer, ou cometer atos extremos. Os sentimentos vão sendo represados e, um dia, são liberados de uma forma aguda e, muitas vezes, surpreendente e inesperada para todos.

Em busca do autoconhecimento

Por isso, mais importante do que buscarmos a expertise em alguma área, é buscarmos o autoconhecimento. Mais do que investirmos em inúmeros cursos, de línguas, acadêmicos, especializações – importantes sem dúvida – devemos investir na nossa saúde emocional. Para mantermos o equilíbrio, o controle das nossas emoções, precisamos saber por quê não conseguimos conter a raiva, o ciúme, por quê não conseguimos suportar uma humilhação, por quê não damos conta de um fim de relacionamento, de sermos demitidos? Ao invés de ficarmos presos reclamando do outro, do parceiro que não nos atende como gostaríamos, que nos faz sofrer, ou do chefe que não nos reconhece como merecemos, ou dos nossos pais que não nos amam como deveriam, temos que olhar mais para nós mesmos perguntando: por quê desejo tanto ser sempre atendido, por quê preciso tanto ser reconhecido ou por quê necessito tanto ser amado?

Eleger prioridades

Além do autoconhecimento, outra questão muito importante que está relacionada com a saúde emocional é a de eleger prioridades. Você já se perguntou quais são as suas?

Muitas pessoas, ao pontuarem, consideram como primeira prioridade o trabalho. Será que isso é saudável emocionalmente?  Será que devemos investir tanto assim no nosso trabalho? 

Eu diria que uma boa receita é sabermos distribuir nossos investimentos. Vale dizer, pensarmos em vários aspectos importantes da nossa vida, como relacionamentos, vida familiar, vida social, lazer, vida sexual, prática de atividade religiosa, vida profissional, saúde física. O ideal é cuidarmos de todos esses itens de uma forma mais equilibrada, pois, no momento em que investimos demais em qualquer deles, outros fatalmente ficarão negligenciados, afetando nossa saúde emocional.

Você quer saber como anda a sua saúde emocional?   Te convido, então, a colocar num papel vários setores de sua vida e dar uma nota de 0 a 10 a cada um deles, de forma verdadeira. Todos aqueles que apresentarem nota abaixo de 8 ou 7 podem estar “esquecidos”, apontando que estão a merecer maior investimento e que, portanto, sua vida emocional está em desequilíbrio e merece cuidados.

Infelizmente, ainda há muita resistência à análise pessoal. Mesmo hoje, encontramos pessoas que se recusam a fazer uma terapia dizendo “posso resolver sozinho” ou “isso é para gente louca”. Mas é a partir dela que o indivíduo pode se conhecer e aprender a cuidar e a gerir suas emoções e sentimentos, para ter uma vida emocional mais saudável, equilibrada e plena.

E MAIS…

O estopim para atos de agressão, chacinas e suicídios

A falta de saúde emocional afeta o indivíduo, marca a sociedade e pode ser reconhecida em diversas ocorrências que presenciamos todos os dias. Por exemplo: o homem que, não conseguindo controlar o ciúme, a possessividade e a insegurança, tenta controlar sua parceira, agredindo-a ou até cometendo o feminicídio; o jovem que não consegue suportar as humilhações e o sofrimento ocasionados pelo bulliyng e comete uma chacinaem sua escola;  o sujeito que discorda dos ideais políticos do outro e parte para a agressão e até mesmo o homicídiodo seu opositor;  o empregado demitido que, sentindo a rejeição, retorna ao local de trabalho para se vingar;e a adolescente que não suporta o rompimento de um relacionamento e comete o suicídio.

Por quê será que algumas pessoas reagem dessa forma, aparentemente desproporcional, ao fato que gerou a frustração? A resposta é complexa, todos nós temos registros desde o nascimento, de abandono, de ausência de amor, desamparo, e os levamos pela vida. Assim, por exemplo, “um fora” do namorado pode representar para determinada pessoa muito mais do que o fim de um relacionamento, porque a faz reviver, ainda que de forma inconsciente, na emoção, um registro antigo, da infância talvez, e então a intensidade da dor de hoje é exacerbada.

Mas, se não temos a resposta, talvez possamos pensar que existe algo comum nessas pessoas: a dificuldade de demonstrar, de explicitar seus sentimentos, suas emoções, e de gerenciá-los.

Claro que esses indivíduos podem ter uma patologia, como a esquizofrenia, mas também pode ser que tais fatos sejam apenas  o “estopim”, o “detonador” para um ato extremo, porque elas não aprenderam a lidar com  suas emoções; porque não conseguem dizer “eu te amo”, “perdão”, “desculpa”, “não”; não conseguem impor limites; não suportam a rejeição.