Na fase do namoro, relacionamento sério e/ou relacionamento assumido, como preferirem chamar, é a fase quando dois indivíduos combinam entre si que estão num compromisso.

Amor não depende do outro, ou não deveria depender. É um estado de espírito, é uma predisposição a amar. Deveria ser, um ato incondicional, um estado de maturidade individual e, melhor ainda, seria quando essa maturidade é atingida pelo casal.

Teoria diferente da prática

Ao procurar amor incondicional nas literaturas, encontramos o significado de amor pleno, completo, absoluto, que não impõe condições ou limites para se amar. Quem ama de forma incondicional não espera nada em troca. O amor está em primeiro lugar. O amor incondicional é generoso, altruísta e infinito. Lindo não? Agora vamos à prática!

No relacionamento entre um casal, definitivamente, sempre (raramente utilizo essa palavra) há uma ou várias expectativas, o que é diferente de condições. No dicionário, Expectativa diz que é: “situação de quem espera a ocorrência de algo, ou sua probabilidade de ocorrência, em determinado momento”. E Condição tem o conceito de: “obrigação, encargo, cláusula que se impõe ou que se aceita”.

As pessoas – homens e mulheres – confundem muito essas duas palavras. Na verdade, sempre geramos expectativas quando decidimos entrar na fase do namoro – o que esperamos do outro, o que desejamos de nós, quais comportamentos, valores morais, o como será a relação do ponto de vista dos combinados.

Nada disso é óbvio

Não exagero ao dizer que 90% dos casais ou indivíduos que chegam ao meu consultório, com queixas de relacionamento, não possuem problemas complexos, como incompatibilidades de valores ou identidade; os problemas estão no nível de crenças, capacidades e comportamentos; a grande maioria “só se esqueceu de fazer os combinados”. Por exemplo, esqueceram de combinar se gostariam de ter filhos, idade em que desejam engravidar, como desejam criar os filhos, qual educação seguir, divisão de tarefas da casa, trabalho e lazer, finais de semana, visita aos pais, amigos, o futebol e as horas extras referentes ao trabalho.

“Mas, Fabiana, isso é obvio!”, é o que geralmente ouço. Não, nada disso é óbvio.

Lembre-se que estamos juntando, numa mesma casa e/ou vida, duas pessoas distintas, de criações, vivências e traumas diferentes. Como esses combinados podem ser óbvios? Isso, sem contar as pessoas que desejam que o outro adivinhe suas expectativas, complexos, desejos… mas esse tema vou deixar para outro texto.

Há um passo do amor patológico

Condição não cabe num relacionamento que tem como base o amor – “Você tem de fazer algo, ser algo, esse é o certo, você está errado de ser assim!” – todas frases que não cabem no amor. Como eu digo sempre: “Você não tem que nada, pois se tiver que algo, já está tudo errado”.

Geralmente, quando entramos no ciclo do amor condicional, em sua grande maioria, estamos a um passo do amor patológico e/ou dependente.

Dependência vem do amor patológico, que é um dos seis tipos de amor descrito por Alan John Lee, que ele chama de Mania, “fusão dos amores Eros e Ludus”. Nossa! O amor é classificado? Sim, desde a época de Freud, muitos estudiosos estão mergulhados nesse assunto.

“O amor torna-se patológico quando praticamente só causa sofrimento.” (Dr. Fernando Gomes Pinto). O amor é sentido como uma emoção obsessiva, por isso o chamamos de dependência; é como um vício; existe a necessidade de ter a atenção do parceiro a todo momento e dominam os pensamentos e atitudes de quem o sente, não há controle, ele precisa do outro”.

Dependência é o oposto do amor

Ao achar que só vamos existir se o outro estiver conosco e nos der o seu “amor”, criamos dependência emocional e não amor. A dependência amorosa, geralmente, traz à tona o que temos de pior, tanto do indivíduo que sente a dependência, quanto do parceiro, que chamamos de co-dependentes (mas isso também é assunto para outro texto. Acompanhem a coluna).

Pode parecer assustador, mas é o mesmo mecanismo de todas as dependências – incluindo drogas e medicações – levando o indivíduo a não conseguir mais realizar ações do cotidiano, e fazendo os familiares sofrerem diante das dinâmicas de brigas, discussões, ofensas e desrespeitos instaurados.

No amor patológico, o amor é vivenciado como uma emoção obsessiva, capaz de controlar os pensamentos e atitudes do indivíduo. Há cobrança, o tempo todo, de ter a atenção do parceiro, e o ciúme está presente em todos os casos.

Ciúme também não é amor

Numa cultura em que o ciúme é reverenciado como sinônimo de amor, definitivamente, as coisas complicam drasticamente. As pessoas chegam ao consultório com um amontoado de informações desconexas, somadas a mágoas, a dores e insegurança e, num primeiro momento, só me cabe desatar esses nós, separar tudo o que é expectativa do que é condição, e facilitar a reflexão do que deseja fazer com todo esse conteúdo. E, é claro, do outro lado há outro indivíduo com seus amontoados de informações, mágoas, dores, e tudo mais.

Normalmente, a dependência é correlacionada à simbiose, que é o primeiro estado que conhecemos na vida, afinal, na primeira fase, dependemos do outro para sobreviver, tanto emocionalmente como fisicamente. De maneira geral, uma das possibilidades é que, se existirem falhas nessa primeira fase do desenvolvimento, iremos nos tornar pessoas subnutridas, e, por isso, poderemos ser adultos com muitas necessidades infantis.

Ou seja, é possível sintetizar que a dependência destrói, suga, pesa, é controladora e temida. Já o amor constrói, é leve, livre e vivo.

E MAIS…

Cuidado com o padrão do amor patológico

Colocar como condição, ou até mesmo expectativa, o que o outro não é capaz ou não tem a oferecer é o passo certo para a dor e o sofrimento. Muitas vezes, projetamos nossos desejos e buscamos nossa satisfação em decorrência das atitudes e comportamentos do nosso parceiro, e isso é um risco muito grande. É importante lembrar que somos os únicos responsáveis pela nossa felicidade.

E é preocupante ver como o conceito de que “o amor machuca” tem tomado proporções alarmantes. Uma legião de pessoas das idades mais variadas tem evitado amar, construir vínculos, estabelecer relações mais duradoras, na maioria dos casos, por pura proteção praticamente inconsciente. Relatos no self terapêutico reverberam a ideia de que é mais seguro não amar.

Pois é possível destruir crenças limitantes e construir dinâmicas saudáveis de amor. Busque ajuda profissional, autoconhecimento e liberte-se dessa dependência, rumo à conquista de saúde emocional e entre no estado de espírito do amor!