O ambiente corporativo muito se assemelha ao ambiente hospitalar, pois toda informação é relevante em uma tomada de decisão para ação. Assim, conhecer bem a linguagem do corpo se torna primordial, principalmente para gestores.

A linguagem corporal, propriamente dita, pode ter diferenças em gestos conscientes, como apresenta o biólogo inglês Desmond Morris em seu livro Bodytalk: a world guide to gestures. Seriam os gestos simbólicos que podem mudar de significado, dependendo da cultura local. No entanto, os movimentos e posturas mais naturais e inconscientes podem apresentar informações sobre o estado de ânimo e emoções reinantes no sujeito.

Canais sensoriais

Nem todos os humanos se relacionam com o mundo de igual forma; alguns podem ter canais sensoriais privilegiados em detrimentos de outros. Os seres humanos, de acordo com muitos autores, podem ser divididos em auditivos, sinestésicos e visuais. Dessa forma, a possibilidade de ler o outro começa com uma identificação de qual perfil de canal sensorial é predominante na pessoa.

Visual

Caso a pessoa seja altamente visual, o seu mundo será regido pelas cores, arrumação, beleza, organização e uma constante preocupação com sua aparência perante os outros. Assim, esse indivíduo visual terá características próprias de comportamento, que influenciarão diretamente na forma como ele se comunica com outras pessoas. Sua fala, muitas vezes, pode ser pobre de detalhes específicos e ele poderá usar recursos gestuais – desenhando com as mãos no ar – para complementar o que está faltando no conteúdo verbal.

Sinestésico

Outro perfil é o sinestésico. Pessoas sinestésicas privilegiam o tato, olfato e paladar na sua relação com o mundo. São mais sensíveis ao calor, frio e sempre preferem conforto à estética. Os cinestésicos preferem o toque e são pessoas que não dispensam um aperto de mãos ou um abraço afetuoso. Sempre que se dirigem a outra pessoa, usam o toque como confirmação do que está sendo dito. Elas geralmente ficam tocando, com as mãos, as pessoas com quem se relacionam durante a fala.

Auditivo

O último perfil dos três é o auditivo. Para o auditivo, a relação com o mundo exterior é extremamente valorizada pelos processos mentais relacionados à audição. O self talk – conversa interna mental – dessas pessoas é muito forte. Quando pensam, podem subvocalizar as palavras e mover, levemente a boca, mimetizando o pensamento por meio dos movimentos labiais. São sujeitos que podem falar sozinhos em voz alta, tornando os pensamentos materializados pela verbalização.

Leitura corporal

No que tange à leitura corporal, um item de destaque é que os auditivos, quando estão conversando com outra pessoa, podem tender a virar a face de lado, o que pode parecer desinteresse pelo assunto aos que não o identificam como auditivos. Na verdade, esse movimento de girar o pescoço, colocando a face voltada para outra direção, e não diretamente olhando para o seu interlocutor, sucede porque o auditivo está ofertando o que tem de melhor ao outro: o ouvido. Dessa forma, um movimento corporal de real interesse no processo comunicacional pode ser entendido de forma equivocada. Para o auditivo, ouvir o que está sendo dito é muito importante e, para não ter nenhum prejuízo na sua audição, ele coloca o ouvido na direção direta da fala do emissor.

Programação Neurolinguística

Esses três perfis de canais sensoriais preferenciais são amplamente aceitos por muitos autores ligados à linguagem corporal e à Programação Neurolinguística (PNL). Embora não tenha forte relação com o ambiente das emoções propriamente ditas, o conhecimento dessas estruturas pode auxiliar na compreensão do outro e na forma de comunicar com os seus pares.

Existem os gestos que, aparentemente, são geridos pela memória filogenética. Um estudo feito sobre a linguagem corporal, focando a questão do surgimento de estruturas emocionais de orgulho e vergonha, com atletas cegos e com visão que participaram das competições de judô nos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2004, demonstrou que a linguagem corporal de ambos os grupos (com e sem visão) apresentava o mesmo padrão no final das competições.

O estudo, publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, em 2008, concluiu que, sendo cegos de nascença, os competidores não poderiam ter aprendido os aspectos não verbais relacionados ao orgulho de ter ganhado uma competição ou a vergonha da derrota. Dessa forma, pensa-se que essas manifestações não verbais sejam inatas respostas biológicas que foram incorporadas à estrutura do ser humano ao longo da evolução.

Resultados da pesquisa

O artigo The spontaneous expression of pride and shame: Evidence for biologically innate nonverbal displays usou como método fotografias dos atletas, tiradas durante e imediatamente após (pelo menos 15 segundos) cada competição de judô (TRACY; MATSUMOTO, 2008). A população base da pesquisa era composta de 26 atletas com visão normal e 10 cegos oriundos de 19 países diferentes.

Na vitória, os atletas, independentemente de serem cegos, mostravam sinais corporais de elevação de braços, sorriso, e movimentação mais acelerada, o que os pesquisadores denominaram como orgulho pela conquista. Já na derrota, os sinais eram manifestados em menor velocidade com cabeça e braços para baixo e expressão de tristeza ou vergonha, como os autores denominaram na face.

Até mesmo a maneira com andamos, a marcha do caminhar, pode revelar alguns aspectos sobre nós. Um estudo aponta que o estado de humor afeta o modo de andar de uma pessoa. Michalak et al. (2009), no artigo Embodiment of Sadness and Depression—Gait Patterns Associated With Dysphoric Mood, apresenta a diferença no modo de andar de pessoas depressivas, em comparação aos que não apresentam tal estado de humor: o movimento dos braços, a oscilação do corpo, os movimentos verticais, postura e velocidade.

A diferença é perceptível, pois, os depressivos apresentam menor movimento na oscilação dos braços, maior amplitude na oscilação do corpo, menor amplitude nos movimentos verticais, postura mais inclinada e menor velocidade ao andar.

Postura profissional

Podemos obter muitas informações sobre quem está à nossa frente se tivermos um bom conhecimento da linguagem do corpo. Melhor ainda: podemos gerir nossos gestos em busca de alcançar uma comunicação mais adequada com nossos semelhantes e essa leitura corporal pode ser muito benéfica em reuniões de negócios, na observação do gestor sobre seus colaboradores, na adequação de postura de uma equipe. É uma técnica que vem sendo mais explorada e que pode trazer muitas mudanças não só no mundo corporativo, mas em todo tipo de relação em que a linguagem não falada diz mais que mil palavras.

E MAIS….

Mais um estudo relevante

Em um segundo estudo, ainda dentro deste artigo, os pesquisadores induziram estado de tristeza e felicidade e não encontraram alterações significativas na marcha dos voluntários. A alteração do humor foi induzida por meio da audição de peças de músicas tristes e alegres; depois, ao sujeito foi solicitado que caminhasse por um tapete vermelho para a análise da marcha. Essa pesquisa revela que pode ser possível, com uma técnica mais apurada, um diagnóstico do estado emocional ou sintomático de uma pessoa na observação do seu modo de caminhar, já que tristeza (estado de humor) e depressão (doença) apresentaram no estudo perfis diferentes na análise dos elementos que compõem a marcha do andar.