É nesse processo de transição que se inicia a maternidade, pois é quando a mãe se depara com o bebê real (diferente do imaginário idealizado durante a gestação), como produto seu, do seu corpo, que mostra a capacidade ou incapacidade de gerar uma criança.

O parto é uma experiência extremamente importante na vida da mulher que repercute sensações nos seus planos físicos, emocional e social. O puerpério vai do nascimento do bebê até o aparecimento da primeira menstruação. Pode ocorrer entre 40 e 45 dias após o parto, caso a mãe não esteja amamentando, mas se estiver, o ciclo menstrual pode atrasar.

É o período de recuperação pós-parto, em que a mãe se divide entre os cuidados para sua boa recuperação e os primeiros contatos com o bebê, que em geral se dá por meio da amamentação e higienização.

Diante de todos os acontecimentos surgidos nesse período, torna-se necessário um acompanhamento psicológico gerando:

1. Na mãe: autoconfiança, segurança, maturidade, valorização da maternidade e preparação para o parto;

2. No feto: fortalecimento e segurança em relação ao seu desenvolvimento e nascimento. E prepara o novo ser, assegurando a existência de um mundo que o aguarda e pais/ família que o desejam e esperam.

Muitas mulheres podem sofrer sintomas característicos da transição do parto ao puerpério.

Blues puerperal

Atinge até 60% das mães e acontece nos primeiros dias após o parto podendo durar até três semanas. Os sintomas principais são: mudanças repentinas de humor, perda do apetite e sentimento de solidão. É uma tristeza profunda, uma desesperança na vida, sensação de que não vai dar conta de cuidar adequadamente do bebê e de que não será uma boa mãe, choro fácil. Não é necessário o uso de medicamentos, pois seu ciclo é rápido, não gerando sequelas.

O tratamento do blues é bem simples, muitas vezes, apenas algumas noites bem dormidas ou criar situações de laser e divertimento, retirando um pouco a mulher do seu dia a dia de responsabilidade com a criança, já podem resolver ou melhorar muito o quadro. É um período de transição que a mulher está vivendo que potencializa e denuncia certa fragilidade emocional, pouca segurança e confiança em si, medos e limitações de atuação frente ao novo desafiador.

Depressão pós-parto 

Cerca de 10% das mulheres relatam os sintomas que começam a se apresentar após alguns dias do nascimento e podem durar até um ano. Os sintomas se assemelham ao quadro de Blues puerperal, porém muito mais fortes e intensos, isto configura um transtorno mais comprometedor. Incluem os sintomas a falta de interesse sexual, perda ou ganho de peso excessivo, sentimento de incompetência generalizada, falta de sentido na vida, abandono dos cuidados da criança, rejeição da criança, baixa autoestima e isolamento social.

É necessário o uso de medicamentos psicofármacos (antidepressivos), receitado por um médico especialista. Monitoramento da relação mãe-bebê, pois ocorre a negligencia com os cuidados básicos do bebê. Período muito atribulado e difícil não só para a mulher, mas, para todos do seu convívio, já que ocorre uma mobilização para cuidar na mãe e também do bebê. Aspectos como: conflitos pessoais ou familiares, gravidez não planejada e instabilidade (profissional, familiar ou econômica) estão entre as causas desencadeadoras deste tipo de depressão.

Psicose puerperal 

Este é um transtorno mais comprometedor que atinge de uma a quatro entre 1000 mulheres no pós-parto, e como dá para perceber na discrepância dos dados, não existe consenso quanto ao índice estatístico. É uma doença psiquiátrica grave, incapacitante onde a mãe apresenta sintomas de desrealização – perda do contato com a realidade – tais como: alucinações e delírios. Por isso, a mulher neste transtorno pode não ser capaz de reconhecer seu bebê como um bebê. Geralmente acha que não é o seu filho, que foi trocado ou que o bebê é uma máquina ou mesmo uma entidade do mal que veio para destruí-la. 

Por isso, o índice de infanticídio é tão alto nesta psicose. Apresentam ainda um vasto repertorio de sintomas que denunciam a gravidade da patologia: ideias persecutórias, desorientação temporal, desorganização espacial, despersonalização, confusão mental, insônia, agitação psicomotora e mental, episódios de fúria e raiva intensos.  Não se encontram em condições de tomar decisões a respeito da vida doméstica. A atuação da medicina psiquiátrica deve ser intensa, com uso de antipsicóticos, antidepressivos, ansiolíticos ou outra associação medicamentosa necessária para o controle dos sintomas. É expressamente recomendado o total afastamento do bebê. Em muitos casos a internação em uma clínica psiquiátrica por meses, se faz necessária. Geralmente a mulher já apresentava algum tipo de transtorno psiquiátrico, não necessariamente já diagnosticado, que neste período foi potencializado ou mesmo ampliado. Por exemplo, pode ter um transtorno bipolar leve pré-existente.

E MAIS…

Risco de adoecimento mental puerperal  

Alguns estudos indicam que até três anos após o nascimento do bebê, a mulher apresenta risco de adoecimento mental puerperal, sendo o primeiro ano o mais crítico. Existem fatores biológicos envolvidos nas alterações psiquiátricas do pós-parto, pois, com a queda dos hormônios, o organismo tem um aumento da enzima Monoamina Oxidase no cérebro, que quebra os neurotransmissores Serotonina, Dopamina e Noradrenalina, que são responsáveis por transmitir os sinais entre as células nervosas, e também influenciam o nosso humor. Logicamente há fatores psicológicos e sociais importantes, que vão desde o apoio e desejo da gravidez, passando pela estrutura de personalidade (seu equilíbrio ou não), até psicopatologias mais desorganizadoras que podem corroborar com o surgimento dos transtornos psíquicos pós-parto.