O que acontece em nossos cérebros que nos faz sentir medo, raiva, amor, irritação e alegria? Para LEDOUX (1998), professor do Centro de Ciência Neurológica da Universidade de Nova York, apresenta, em sua obra O CÉREBRO EMOCIONAL, uma pesquisa pioneira sobre a natureza e a origem das emoções, e que como os contextos emocionais levam o humano a construir expectativas, apegos, sentimentos de pertencimentos, pois, sendo o humano  o único animal no planeta a reconhecer seus processos de finitude, perdas, que muitas vezes são necessárias, para executar determinadas tomadas de decisões. 

Estudo das emoções

Ainda em LEDOUX, observa- se que o estudo das emoções a partir da compreensão do funcionamento do cérebro permite um conhecimento que vai além daquele proporcionado somente  por meio da experimentação psicológica, em especial, sobre o papel das Amígdalas Cerebrais, estruturas fundamentais do sistema emocional, nas reações de medo, do luto, da fuga, da raiva – e também as investigações de que modo muitas emoções existem como parte de um complexo sistema neurológico desenvolvido para nos tornar aptos à sobrevivência, e como que esses processos cerebrais emocionais, podem também nos trazer desordens psicológicas como ansiedade, fobias e ataques de pânico.

De acordo com DAVIDSON (2013), os correlatos cerebrais às emoções negativas não ocorrem apenas no tronco cerebral ou no sistema límbico, e sim no córtex pré-frontal. O cérebro humano exerce funções superiores, sendo organizado por uma citoarquitetura de células especializadas, denominadas “neurônios espelho”. Estas exercem uma função fundamental na interpretação dos fatos nas situações emocionalmente vividas, na imitação entre os humanos, na compaixão e na possibilidade de se colocar no lugar do outro intencionalmente, na empatia.

A descoberta dos neurônios-espelho

Os neurônios-espelho foram descobertos por acaso pela equipe do neurocientista Giacomo Rizzolatti, da Universidade de Parma, na Itália, que a princípio foram encontrados em uma determinada espécie de macaco. A pesquisa realizada estava relacionada ao uso de eletrodos na cabeça para verificar quantas vezes o animal realizava uma determinada atividade. Cada vez que o macaco cumpria uma tarefa, como apanhar uvas-passa com os dedos, por exemplo, os neurônios no córtex pré-motor, nos lobos frontais, disparavam. Mais tarde, exames de neuroimagem mostraram que nós temos neurônios-espelho muito mais sofisticados e flexíveis que os dos macacos. Nosso conhecimento motor e a nossa capacidade de “espelhamento” nos permitem compartilhar uma esfera comum de ação com os outros.

Os neurônios-espelho mudaram o modo como vemos o cérebro e a nós mesmos, e têm sido considerado um dos achados mais importantes sobre a evolução do cérebro humano. Se a tarefa exige compreensão da ação observada, então as áreas motoras que codificam a ação são ativadas. Isso indica que há uma conexão no sistema nervoso entre percepção e ação, e que a percepção seria uma simulação interna da ação.

Empatia e compaixão

E um questionamento importante que vem sendo discutido, é o que os neurônios – espelhos têm a ver com os processos empáticos, com a compaixão, com os relacionamentos sociais, por conseguinte, na capacidade de se colocar no lugar do outro? Por exemplo: se vemos uma pessoa chorar por algum motivo, os neurônios-espelho nos permitem lembrar das situações em que choramos e simular a aflição dela. Sentimos empatia por ela, sentimos o que a pessoa está sentindo. A capacidade de simular a perspectiva do outro estaria na base de nossa compreensão das emoções do outro, de nossos sentimentos empáticos.

Não nascemos com sentimento da empatia, aprendemos a desenvolvê-la e a potencializá-la. Biologicamente, os neurônios- espelho, são células que se desenvolvem na organização do processo da neurulação, que é uma etapa do desenvolvimento do embrião humano, ainda dentro útero materno. A ciência vem nos norteando, que a princípio, são estas estruturas microscópicas que nos habilitam para a capacidade e possibilidade de construir atitudes empáticas da compaixão, do amor ao próximo, além de estarem diretamente ligadas as aprendizagens cognitiva, motora e social. Por isso, torna- se fundamental estudar estas células para compreender, como a neurofisiologia pode contribuir para o entendimento sobre o desenvolvimento das habilidades socioemocionais, e assim, respeitar os limites e a dor do outro, no momento em que esteja vivendo o luto.

Intensidade emocional

Dependendo da intensidade do luto, em relação ao tempo vivido, muitas vezes, pode- se “suspeitar” de um estado depressivo, por isso, precisa-se acompanhar o indivíduo em suas necessidades emocionais e intencionais. O sistema nervoso do indivíduo em luto, existe uma alteração na produção de dois neurotransmissores, a noradrenalina e a serotonina — uma dupla de importantes mensageiros químicos entre os neurônios.

Qualquer alteração na quantidade de uma dessas substâncias já é suficiente para abalar a dosagem da outra. O desequilíbrio entre os dois neurotransmissores atinge principalmente as áreas cerebrais relacionadas à memória, à motivação, à capacidade de atenção e de planejamento, tornando- o um indivíduo melancólico, triste.

Acontecimentos cadastróficos na vida humana, como as tragédias, podem trazer alterações psiconeurofisiológicas no cérebro e na mente, desencadeando disfunções comportamentais. É normal que alguém se sinta infeliz depois de romper um namoro, casamento, perder o emprego ou quando morre um parente, por algum tempo, a pessoa fica em um estado que podemos chamar de depressão reativa, aquela detonada pelo momento ou pelo ambiente em que se vive.

Disfunções comportamentais

Mas um luto que se estende por vários meses denuncia que algo errado está se passando com o organismo, a sensação de perda pode ser um fator ambiental que precipite as disfunções orgânicas. Os médicos tentam bloquear o avanço do problema com uso de medicamentos, rotulados como antidepressivos, porém, o apoio terapêutico, clínico, o amor, a compaixão, a empatia e a fé, são elementos fundamentais para o acompanhamento deste indivíduo com objetivo de resgatá-lo para vida integradora das interações sociais. Precisamos exercer mais a empatia e a amorosidade entre os humanos!

E MAIS…

Respostas viscerais

O sistema nervoso autônomo e as reações hormonais podem ser consideradas respostas viscerais, reações dos órgãos internos e glândulas (as vísceras). Quando essas reações viscerais e comportamentais expressam-se, criam sinais corporais que retornam ao cérebro e são considerados fundamentais para que ocorra o sistema de alerta físico e emocional.

Referências:
DAVIDSON, RThe Emotional Life of Your Brain: How Its Unique Patterns Affect the Way You Think, Feel, and Live-And How You Can Change Them, New York Best Seller, 2013.
LEDOUX, J.  O CEREBRO EMOCIONAL, Editora Objetiva, SP. 1998.
RELVAS, P.M. CÉREBRO CONTEXTOS, NUANCES E POSSIBILIDADES. Editora WAK, RJ. 2019.