Dentro das duras críticas ao sistema capitalista, “Round 6” mostra claramente aspectos de desigualdade social, preconceitos de todos os tipos e a busca pelo “eu” humano que, muitas vezes se perde em sua avareza, ganância e amor ao dinheiro, já que no jogo passa a valer a falência da autonomia e prevalece a potencialização das necessidades materiais e monetárias. Delimitando o retrato da felicidade pelo consumo.

Um jogo macabro que imita brincadeiras de criança, mas que transforma a punição em mortes acentuadas e à queima roupa. Além disso, dentre tantas reflexões provocadas pela série, duas são mais latentes. Primeiro: até onde o ser humano vai pela conquista do dinheiro? Segundo: se as crianças assistirem essa série poderão desenvolver atitudes similares à psicopatia ou agressividade assassina?

Equilíbrio emocional

Fica claro a real necessidade do autocontrole diante da instabilidade da vida, onde não podemos nos deixar abater e, consequentemente, fazer escolhas erradas que podem custar nossa sanidade mental e nosso equilíbrio emocional. No meio do pânico como o ser humano reage? Vale refletir sobre, tanto que quem consegue ter mais tranquilidade e clareza diante de situações aterrorizantes do jogo, são aqueles que mais conseguem sobreviver por mais tempo, sem perder a vida em uma das competições.

Adrenalina e tensão fazem com que seja suscitado e estimulado no telespectador, o instinto natural do Voyeur que faz com que ele se questione, por exemplo, se estivesse ali o que faria? Como agiria? No meio de tudo, todo sangue, toda adrenalina, todas as mortes, se tivesse a chance de ganhar dinheiro e resolver a sua vida e também da família, mas tivesse que fazer escolhas pesadas, como escolher continuar mesmo com a morte de muitas pessoas próximas, o que faria? Além disso, aqui também entra um outro fator crucial: o espelhamento.

Relação de identidade

Afinal, temos características inerentes ao ser humano que nos permitem criar afinidades e empatia, fazendo com que nosso inconsciente crie uma relação de identificação com um ou outro personagem. E é aqui que entra, talvez uma das maiores reflexões deixadas pela série: O dinheiro resolve todos os dilemas, inclusive o moral? Devo colocar meus sentimentos de lado? Infelizmente, na vida acabamos optando por caminhos mais curtos e que julgamos rápidos para resolver as questões. Mas no fundo pode ser o caminho mais doloroso e prejudicial. Ou seja, independente do desespero ou do que estejamos passando, nossas escolhas acontecem dentro de um contexto. É preciso respeitar a escolha e os limites de cada um e ao mesmo tempo saber considerar a história de cada pessoa, sem sucumbir ao desespero.

Portanto, a série é rica em informações, mas ela não é capaz de criar uma hostilidade assassina dentro de ninguém. Não é porque a criança ou o jovem assistiu a série que vão sair por aí atirando nas pessoas. Apenas podem ter um pouco mais de dificuldade para lidar com o impacto da dor. Ou seja, em tempos de vida líquida, compreender se os fins justificam os meios fará com que sejam acessados mecanismos de defesa e autocontrole necessários para separar o certo do errado, entendendo que a ficção e a arte podem espelhar duras críticas a uma sociedade capitalista fragilizada.

E MAIS…

“ROUND 6” acessa nossos mais profundos recursos simbólicos

Muitas são as críticas, comentários, “spoiler” e reflexões sobre a série sul-coreana de maior sucesso da plataforma Netflix: “Squid Game” ou “Round 6”. A narrativa provoca profundas análises e tem um enredo complexo que gira em torno de pessoas que se encontram altamente endividadas, vulneráveis socialmente e que acreditam que a única solução possa estar na possibilidade de resgate de sua vida caótica por meio de um game perigoso que, utiliza brincadeiras lúdicas de criança (“batatinha frita 1,2,3; “cabo de guerra”; “bola de gude”…) para promover sua dinâmica macabra, onde quem perde é assassinado a sangue frio, ou seja, mais do que ser eliminado do jogo, ele é eliminado da vida. Uma punição extremamente severa. E em meio a tanta violência, tortura e manipulação psicológica, o lado sombrio do ser humano se desponta. Destaque para os traços revelados de psicopatia, perversidade, dupla personalidade entre outros distúrbios psicológicos que se apresentam diante da pressão por manter a vida.

Neste cenário sangrento e doloroso é natural que nossas emoções sejam reviradas e que sentimentos como repulsa, aflição, medo, ódio, pena, dor, tristeza, alívio, ira, desejo de vingança, perversidade, desconforto, entre outros, sejam potencializados através do acesso aos nossos recursos simbólicos e pessoais, que leva a nos questionar: como resolvemos nossos problemas?