Roselene Costa, psicóloga e coordenadora do departamento de Psicologia Budista do Centro Nyingma de Budismo Tibetano, no Rio de Janeiro, é destaque no estudo da Terapia Focada na Compaixão e fala como a Psicologia Budista complementa o tratamento.

A Psicologia Budista tem sido ampla e didaticamente abordada pelas publicações, concepções didáticas e educacionais/curriculares específicas e sobretudo os ensinamentos do Lama Chefe Tarthang Tulku Rinpoche. Ele vive na Califórnia, EUA, desde 1967. Entre as dezenas de publicações em português, encontra-se o best seller “Gestos de Equilíbrio” da série da Psicologia Budista.


O que é a compaixão e a autocompaixão na visão do Budismo?

Roselene Costa“Como o Sol, que emite inumeráveis raios, a compaixão é a fonte de todo crescimento interior e de toda a ação positiva.” Baseado nos estudos da Psicologia Budista e no livro “Gestos de Equilíbrio” (Tarthang Tulku Rinpoche), o foco está em aprender como fazer um balanço da nossa experiência honestamente. Identificando áreas na nossa vida onde pode começar a desenvolver um esforço individual para o nosso próprio bem estar. As práticas e estudo vão ajudar-nos a reconhecer e guardar nossos valores humanos mais preciosos, de modo que possamos ver que direção tomar na nossa vida; encontrar coragem e força interior para superar frustrações e dificuldades básicas da vida e cultivar as qualidades positivas que são centrais para nossa realização como seres humanos saudáveis, mais felizes e confiantes.

Quando tocamos em padrões de sofrimento, como mudamos? Como evitamos esses padrões de falta de autocuidado e autocompaixão?

Roselene Costa – Em primeiro lugar, começamos a tomar consciência dos nossos pensamentos e das nossas ações. A partir daí já ficamos alertas para os nossos sentidos e para os nossos sentimentos. Prestamos atenção às nossas emoções e às nossas atitudes, com interesse e curiosidade. Todos nós temos a capacidade de desenvolver essa consciência, basta saber como exercitá-la.

Depois, em segundo lugar, a proporção que nos tornamos mais conscientes começamos a perceber os padrões. Começamos a ver os efeitos dos nossos pensamentos e dos nossos sentimentos sobre nós mesmos, ou o efeito das nossas atitudes nos outros. Passamos a ver o efeito das nossas ações nas situações que delas decorrem. E isso tudo representa crescimento, e também um conhecimento valioso e ambos são fruto da nossa própria experiência. Podemos apreciar profundamente os padrões que observamos, e esse tipo de conhecimento não é algo que nos tenha sido ensinado diretamente na escola, pelos nossos pais ou pelos outros.

Em terceiro lugar, à medida em que continuamos a fortalecer a nossa consciência e a observar os nossos padrões começamos a tentar fazer mudanças. Podemos testar os sentimentos positivos e ver como eles afetam a forma com que sentimos a nosso respeito e como nos vemos. Podemos passar a adotar pensamentos e atitudes encorajadores e observar como isso nos influencia e influencia os que nos cercam. Com a nossa consciência cada vez mais desenvolvida começamos a perceber que, cada pequena mudança que fazemos no sentido do positivo, vai nos levar a mais coisas positivas ainda nas nossas vidas.

Como a Psicologia Budista nos ensina a lidar com as resistências com o outro, mágoas e ressentimentos?

Roselene Costa – Os estudos do Gestos de Equilíbrio nos guiam numa jornada que nos ajuda a afrouxar as emoções. Com as práticas nós compreendemos e podemos gradualmente fazer escolhas de como responder nas nossas vida ao invés de agir habitualmente e reflexivamente com  emoções. A dor que experimentamos na vida é diferente das emoções. Quando é física a dor é uma experiência clara e sensível nos nossos corpos. Sensações fortes nas nossas mentes como ressentimento, sentimento de solidão e ciúmes nas nossas vidas ao invés de apenas repetirmos como reflexos com emoções. Gradualmente, podemos fazer escolhas de como respondemos nas nossas vidas. Todos experimentamos a dor.

A dor que experimentamos na vida é diferente das emoções. A dor física é uma reação clara no corpo, às vezes uma sensação realmente forte! A dor na nossa Mente, no Coração e o Espírito é também muito real. Nós conectamos à sensação de dor real.

E MAIS…

Como cuidar de nós mesmos?

Roselene conta que todos os seres humanos experimentam dor, é a condição de estarmos vivos neste mundo. Portanto, podemos aprender a nos relacionar com a dor de uma maneira radical, ou seja, realmente cuidando de nós mesmos. Como começar?

O primeiro passo é reconhecer nossa dor e nos tornarmos mais tolerantes a ela. À medida que começamos a observar, vemos que uma reação comum é colocar a dor para longe, suprimí-la ou responsabilizar outras pessoas ou algo externo pelas nossas dificuldades. Descobrimos que quando começamos a abraçar a dor começamos a ver a maneira como tentamos suprimí-la e vemos que estes comportamentos são muito destrutivos e, às vezes, cruéis com nós mesmos”. 

Uma maneira de afrouxar este modo de nos machucar é mudar o foco do drama emocional usual e nos permitir tocar a dor subjacente na nossa experiência. “Gradualmente nos tornamos tolerantes, começando a abraçar a dor. Fazendo assim,  podemos descobrir uma gentileza natural, uma nova maneira de cuidar de nós mesmos. Esta é a verdadeira cura”, finaliza.