Quando o estresse surge e não é elaborado, o mal estar se instala diante de um impasse e cria-se sintomas, que podem ser os mais diversos, inclusive a agressividade. É importante destacar que o estresse é diferente da angústia e que crianças também podem senti-lo de forma intensa. Muitas situações cotidianas vividas pelos pequenos desencadeiam esse sintoma, como por exemplo, estudar para uma prova pode ser o gatilho para o surgimento do estresse, ou ainda, quando precisa fazer uma apresentação diante de outras pessoas, o nascimento de um irmão, entre outros.

Estresse precoce

O estresse infantil pode ser notado através de alguns sinais como o terror noturno, pesadelos, irritabilidade, choro excessivo sem motivo aparente, insegurança, medo, dificuldade nas relações interpessoais, dificuldade de concentração, insônia.

Os sintomas também podem ser físicos como a fadiga, tique nervoso, bruxismo, falta de apetite, apetite excessivo, dores de cabeça frequentes, gagueira, xixi na cama, entre outros.

Desde muito cedo, esse estresse pode ser notado. Os bebês, por exemplo, já podem apresentar sinais de que algo não vai bem por meio do choro excessivo, da dificuldade de alimentação, evacuação e sono.

Aparelho psíquico incipiente

Muitos questionam os motivos pelo qual as crianças sofrerem de estresse. Isso ocorre porque a criança possui um aparelho psíquico incipiente, portanto, sem competência emocional para lidar com determinadas situações que ultrapassam sua capacidade mental. As crianças estão mais vulneráveis ao estresse justamente pela precariedade do seu aparelho psíquico. E como podemos ajudar as crianças? Um adulto calmo e sensível pode ajudar e ensinar a criança a se acalmar, isto é, reorganizar e realocar os sentimentos que ela expulsa para fora, de volta para dentro dela, só que mais organizado. O adulto, ao se desesperar, não irá conseguir ajudar. Porque ambos – o adulto e a criança – estarão fazendo o mesmo movimento: expulsando os sentimentos para fora, ao invés de arrumá-los dentro.

A criança precisa de uma outra mente, adulta, que a ajude na decodificação e nomeação desses sentimentos que ficam misturados. A criança não só precisa ser olhada, ela precisa ser vista. E isso ocorre por meio da disponibilidade afetiva.

Rotina saudável

A rotina excessiva de atividades, sem que haja tempo livre para a criança brincar; ambiente disfuncional onde haja conflito dos pais, gritos e violência, ausência de limite (o limite ajuda a criança a se sentir protegida e segura); podem ser alguns motivos para o desenvolvimento do estresse na criança.

Um ponto extremamente importante é a presença da tecnologia de forma excessiva na vida da criança, podendo sim, contribuir para o estresse infantil, afinal, tudo em excesso não deve ser considerado como saudável. A tecnologia pode ser útil se utilizada com limites, respeitando a faixa etária da criança e não substituindo o contato físico e emocional.

É através do relacionamento interpessoal, dos vínculos, das experiências emocionais vivenciadas com o outro, e das atividades lúdicas que podem ser desenvolvidos os laços afetivos e o amadurecimento. A criança precisa interagir com o ambiente e não só ficar conectada a tecnologia.

Sintomas físicos e psicológicos

Além dos sintomas que podem surgir repetidamente – dores de garganta- insônia – dores de cabeça, entre outros; a criança pode desenvolver doenças dermatológicas e doenças alérgicas. É necessário que os pais e responsáveis acompanhem de perto os filhos através da conversa e do brincar e estejam atentos às oscilações emocionais, às mudanças bruscas de atitudes, aos sintomas físicos e psicológicos e a qualquer sinal que demonstre a interrupção da continuidade de seu desenvolvimento emocional.

Um olhar atento e não invasivo contribui para a observação da criança; estar atento às suas brincadeiras, seus desenhos, dar apoio emocional, conversar, observar os sinais de estresse e saber a hora, se necessário, de buscar tratamento psicológico.

E MAIS…

Como ajudamos as crianças a arrumarem os sentimentos dentro delas?

Isso pode ser feito com certeza por meio da conversa. É preciso que alguém com um aparelho psíquico mais coeso colabore na junção dos sentimentos.

Vou dar um exemplo:

– “oi fulano, eu sei que você gostou muito da chegada do seu irmãozinho, mas estou percebendo que isso também te deixou incomodado. Vi até que você arrancou minha planta na varanda, não gostei disso. Vejo que que estava com raiva! Olha, eu sei que você ama seu irmão, mas que também não queria dividir a mamãe com ele. É difícil amar e ficar com raiva ao mesmo tempo, não é mesmo? Sabe, meu filho, a gente pode conversar sobre isso”.

A criança pode querer ou não conversar e ter um comportamento reativo, pois é o mais natural, frente ao sentimento de defesa que tenta expressar, mas a partir de uma verbalização carinhosa, se sentirá compreendida e acolhida. A incompreensão gera uma confusão enorme de sentimentos. E a criança não se sente sendo vista.

Esse é o valor e a força do vínculo tão importante nas relações. É por meio do afeto, da verdade e da confiança, que o mundo interno da criança vai sendo mobiliado.