A ACT é uma psicoterapia comportamental de origem americana, indicada para diversos quadros, com um modelo de flexibilidade psicológica por meio da aceitação e desfusão cognitiva do cliente frente aos seus eventos internos, com abertura e aceitação, com resultados científicos promissores.
Indubitavelmente o sofrimento humano é uma realidade presente em todas as pessoas, nas mais diversas culturas e nos diferentes tempos. Conforme o modelo da ACT, as mazelas humanas se originam dos processos psíquicos naturais, e independente da sua dor emocional ou de um diagnóstico, o cliente é um ser humano que pensa, sente e recorda. Desse modo, todo indivíduo possui suas dores, todavia, uns mais que outros (HAYES; STROSAHL & WILSON, 2021).
Flexibilidade psicológica
Sob essa perspectiva, a Terapia de Aceitação e Compromisso (do inglês acceptance and commitment therapy); ou ACT, pode ser definida como uma psicoterapia comportamental criada por Steven Hayes e colaboradores no ano de 1987 e propõe como objetivo oportunizar flexibilidade psicológica aos indivíduos, com intuito de favorecer a aceitação dos eventos internos, isto é: memórias, sentimentos e pensamentos, ainda que desagradáveis, em vez de fugir ou se esquivar deles, e concentrar as ações do indivíduo a serviço de uma vida com mais sentido (SABAN, 2015).
Hayes e colaboradores desenvolveram dentro dessa psicoterapia, o chamado hexaflex, um modelo do funcionamento humano e de mudança de comportamento descrito na figura.
No modelo do hexaflex, observa-se a presença da rigidez psicológica, o que é segundo os autores, a causa essencial do sofrimento e do funcionamento humano mal-adaptativo (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021).
Inteligência experimental
A Esquiva Experiencial se caracteriza como um padrão comportamental de evitar, suprimir, ou eliminar experiências privadas indesejadas como sentimentos desagradáveis por exemplo. Com essa esquiva, a capacidade do indivíduo de perceber o momento presente reduz, e a longo prazo as situações a serem evitadas pelo sujeito se ampliam e deterioram o repertório do mesmo, o que leva à restrição do próprio viver (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021), e causam desse modo prejuízo na inteligência experimental (SABAN, 2015).
Na Fusão cognitiva, o cliente não se difere das próprias cognições, isto é, há uma fusão entre os eventos encobertos e o próprio self, diluindo a própria consciência, assim, acreditam literalmente nos conteúdos de suas mentes, não os diferencia de si mesmo (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021). Por levarem o conteúdo de suas mentes ao pé da letra, sofrem demasiadamente (SABAN, 2015).
O Self, como conceito é observado quando indivíduo se descreve por meio de narrativas ou classificações como: sou ansioso, estou deprimido, sou igual meu pai, sou assim porque me aconteceu aquilo, o que indica narrativa que não considera os diferentes contextos pelos quais o indivíduo passou e experienciou ao longo do tempo, como se aquelas histórias por si só o definissem (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021).
Comportamento é funcional
Para se compreender a transição do funcionamento da rigidez para o da flexibilidade psicológica, é necessário que o terapeuta tenha em mente de que todo comportamento é funcional, ou seja, tem uma função, produz algum reforço, alguma vantagem ao paciente. Dá-se início assim a fase da desesperança criativa, que é a mudança de postura do paciente, de desistir do controle diante dos eventos encobertos. Perguntas como: o que ele quer da terapia, se pudesse mudar algo em sua vida, o que mudaria? O que o cliente já tentou fazer para solucionar seu sofrimento? Quais são os valores de vida para o cliente? Aqui metáforas e exercícios específicos em um ambiente seguro promovem mudança de contexto, o que favorece enfraquecimento de suas esquivas (SABAN, 2015).
Self como contexto: O self se expande ao invés de se limitar, é imaterial, atemporal, e a consciência se expande através das épocas, das pessoas e dos lugares, é transcendente, com perspectiva social, consciente da própria dor e consciente da dor das outras pessoas, com compaixão e auto aceitação (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021)
Valores: São consequências livremente escolhidas, dinâmicos e progressivos, com engajamento pelo próprio indivíduo, apropriando-se das ações, focado nas escolhas pessoais (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021).
Aceitação: É uma postura, ação, modo de se relacionar com os eventos. Aceitar a manifestação de um evento encoberto e não evitar entrar em contato com ele, acessar e aprender com a experiência sem se fundir a elas (SABAN, 2015). Uma postura ativa, aberta e flexível (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021).
Desfusão: Auxiliar o paciente a ver os eventos encobertos como um observador, sem julgamentos, percebendo-os como são: pensamentos, memórias e sentimentos e não como determinante de sofrimento insolúvel. (SABAN, 2015).
Resultados promissores
A ACT tem revelado resultados promissores em quadros como estresse no trabalho, dor, tabagismo, ansiedade, drogadicção, TOC, câncer e diabetes (ZETTLE, 2003 apud HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021).
Como toda ciência está em constante crescimento e desenvolvimento, porém, não é indicada para todos os quadros psiquiátricos e está em aprimoramento como toda a ciência psicológica.
O terapeuta tem um papel fundamental
Os indivíduos em sofrimento psicológico costumam se julgar com muito rigor, assim, ambientes disfuncionais e ou invalidantes dificultam que os clientes descrevam o que pensam, ou o que sentem, ou ainda encorajam a esquiva experiencial do indivíduo em vez de oportunizarem sua expressão adequada (HAYES, STROSAHL & WILSON, 2021). O terapeuta tem um papel fundamental no processo de tradução da dor emocional e encorajamento de expressão ao sofrimento e , assim, aplicar o tratamento por ACT.