Estima-se que 970 milhões de pessoas no mundo vivam com pelo menos um transtorno de saúde mental, de acordo com dados de 2019. E o que é saúde mental? De acordo com uma definição da OMS, a saúde mental é caracterizada por um estado de bem-estar no qual uma pessoa é capaz de apreciar a vida, trabalhar e contribuir para o meio em que vive, ao mesmo tempo em que administra as suas próprias emoções.

Potenciais mal-entendidos

Essa definição, ao mesmo tempo em que representa um progresso substancial no que diz respeito à mudança da conceituação da saúde mental como estado de ausência de doença mental, levanta preocupações e se presta a potenciais mal-entendidos quando identifica sentimentos positivos e funcionamento positivo como fatores-chave para a saúde mental. Por isso, é criticada por alguns autores1. Pessoas em boa saúde mental podem estar muitas vezes tristes, indispostas, irritadas ou infelizes, e isso ser parte de uma vida plenamente vivida para um ser humano.

Apesar disso, a saúde mental tem sido muitas vezes conceituada como um afeto puramente positivo, marcado por sentimentos de felicidade e senso de domínio sobre o meio ambiente. Isso faz com que seja ainda mais importante falarmos sobre saúde mental e sobre possíveis sinais que nos ajudem a entender as situações de adoecimento.

Precisamos estar atentos aos sintomas de alerta de possíveis processos de adoecimento, como alteração no sono, na alimentação, na motivação, na energia, nas relações, nas atividades escolares ou laborais, bem como e em muitos outros sinais de que algo não está bem.

Gatilhos para doenças

Nesse cenário de pandemia enfrentamos muitos desafios como sociedade e como indivíduos, o que também impacta o mundo corporativo. Apesar de alguns grupos profissionais serem mais vulneráveis, como os profissionais de saúde, há questões individuais e estressores individuais e fatores prévios pertinentes à história de cada um. Independentemente do segmento, e mesmo antes dos estressores associados à pandemia, muitos profissionais nos últimos anos têm vivenciado sensações em comum: ansiedade, angústia, culpa, insegurança. Basta conversar com um amigo próximo sobre a rotina e esses sentimentos entram em pauta.

Não podemos considerar o bem-estar em quaisquer situações como um aspecto fundamental para a saúde mental, pois sabemos que isso é difícil de conciliar com muitas situações de vida desafiadoras, em algumas das quais sentir bem-estar pode até ser insalubre. Porém, sabemos que estressores externos e internos são gatilhos para muitas doenças, o que inclui os transtornos mentais, e é preciso que estejamos ainda mais atentos nesse momento, pois novos estressores foram acrescentados à equação.

Superação dos próprios limites

A busca por uma carreira bem-sucedida, por parâmetros muitas vezes idealizados, está, muitas vezes, associada a estresse e outros tipos de sofrimentos mentais, que podem ser gatilhos para processos de adoecimento. Enfrentar desafios – desde que lhe sejam prazerosos e tragam retornos positivos – é uma prática saudável. A realização profissional virá das conquistas e superação dos próprios limites, sem focar em comparações improdutivas da nossa condição com a de pessoas que, na realidade, tiveram educação e trajetórias muito diferentes. Para evitar o esgotamento emocional no ambiente de trabalho é necessário respeitar aptidões e limites, e isso deve partir da liderança.

É bom perceber que cada vez mais empresas também participam ativamente com iniciativas de conscientização, que promovem ações para que seus colaboradores busquem saber mais sobre saúde mental. O assunto precisa ganhar mais espaço e as empresas podem ter um papel importante nesse processo ao informar as pessoas sobre as doenças e transtornos mentais, bem como seus possíveis impactos, uma vez que o estigma associado às mesmas ainda é muito relevante.

As organizações e instituições devem também adotar estratégias tanto durante a pandemia – por exemplo, de monitoramento da saúde e promoção da segurança no trabalho – quanto após o fim da mesma, por exemplo, prevenindo o estigma, fornecendo apoio social, oferecendo treinamentos específicos.No momento que estamos vivendo os esforços em saúde mental serão essenciais para prevenir um novo surto, que pode estar relacionado ao estresse ocupacional: o surto de transtornos mentais.2

E MAIS…

Exposição ocupacional a estressores psicossociais comprometem a saúde mental.

Para que tenhamos ideia da relevância do tema, os transtornos mentais foram a 3ª principal razão para a concessão de benefícios por incapacidade no Brasil entre 2008 e 2011. Os transtornos mentais e comportamentais estão entre as principais causas de perda de dias de trabalho no mundo e no Brasil. Tais condições são frequentes e comumente incapacitantes, muitas vezes levando ao absenteísmo e à redução da produtividade.2

REFERÊNCIAS
1 – Galderisi S et al. Toward a new definition of mental health. World Psychiatry. 2015;14(2):231-233. doi:10.1002/wps.20231
2 – da Silva AG et al. Working during pandemics: the need for mental health efforts to prevent the outbreak of mental disorders at the workplace. Braz J Psychiatry. 2021 Jan-Feb;43(1):116-117, doi:10.1590/1516-4446-2020-1120