No atual momento em que vivemos no mundo, é necessário ainda fazer o link com a questão da pandemia, ou seja, de que forma as pessoas foram afetadas (mortes, isolamento social, medo etc.) e como isso influencia um possível retorno em um médio prazo à “vida normal”, sem o uso de máscara e com a maior parte da população vacinada. Será que as pessoas estarão preparadas mentalmente para este retorno?

De que forma as pessoas foram afetadas pela Síndrome da Cabana e como “se curar” dela para o pós-pandemia. Com a pandemia, houve o aumento no número de casos de depressão e suicídio em decorrência do isolamento social, medo, perdas/luto, desemprego, etc. Nesse sentido, a rede de apoio das pessoas é de extrema relevância, familiares e amigos podem auxiliar quem sofre com quadro de depressão e potenciais suicidas, acolhendo, ouvindo e orientando a buscar ajuda profissional.

A favor do bem-estar

A saúde mental tem conceito complexo e historicamente influenciado por contextos sócio-políticos e pela evolução de práticas em saúde. A maior parte das pessoas, quando ouve falar em “Saúde Mental”, pensa em “Doença Mental”. Mas, a saúde mental implica muito mais que a ausência de doenças mentais

A Organização Mundial da Saúde – OMS define saúde mental como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças, e uma pessoa saudável é bem mais que a simples ausência de doença, deve ser esse completo estado de bem-estar físico, mental e social.

O termo “bem-estar”, presente na definição da OMS é entendido como um constructo de natureza subjetiva, fortemente influenciado pela cultura. A OMS também define saúde mental como “um estado de bem-estar no qual um indivíduo percebe suas próprias habilidades para lidar com os estresses cotidianos, poder trabalhar produtivamente e ser capaz de contribuir para sua comunidade”. São pessoas capazes de enfrentar os desafios e as mudanças da vida cotidiana com equilíbrio e que sabem procurar ajuda quando há dificuldade em lidar com conflitos, perturbações, traumas ou transições importantes nos diferentes ciclos da vida.

No ano de 2021 a saúde mental teve destaque mundial após a norte-americana Simone Biles, fenômeno da ginástica artística, abandonar competições em Tóquio (Japão), a favor de seu bem-estar.

Habilidade de resiliência

Segundo pesquisa do Fórum Econômico Mundial, 53% dos brasileiros declararam que seu bem-estar mental piorou um pouco ou muito no último ano. Essa porcentagem só é maior em quatro países: Itália (54%), Hungria (56%), Chile (56%) e Turquia (61%).

A saúde mental envolve a qualidade em como se lida com os próprios pensamentos, sentimentos e emoções durante o dia, nas atividades e nas relações com as pessoas, como reage às exigências da vida e ao modo como harmoniza seus desejos, capacidades, ambições, ideias e emoções.

Uma saúde mental debilitada também colabora para significativas alterações sociais e condições de trabalho precárias, acentua a exclusão social e expõe o indivíduo ao risco de violência em virtude da incapacidade mental de autodefesa. As pressões socioeconômicas influenciam continuamente os riscos para a saúde mental individual e coletiva, sobretudo, sobre as camadas mais populares.

Todos nós estamos suscetíveis a desenvolver algum tipo de transtorno psicológico ao longo da vida, independentemente de idade, gênero, raça ou classe social. Um relatório da OMS apresentado em 2017 revelou que a depressão afeta 322 milhões de pessoas no mundo, quase metade da população de toda a Europa. O mesmo estudo aponta que outros 300 milhões sofrem de algum tipo de transtorno de ansiedade. No Brasil, os números chegam a 11,5 milhões.

Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde do Brasil com mais de 17 mil pessoas, mostrou que 86,5% dos entrevistados apresentavam quadro de ansiedade. Atualmente, o nível de estresse está alto e, neste contexto, ansiedade e depressão, junto com as demandas profissionais e pessoais. Estudo realizado pela Fiocruz com outras seis universidades em meados de 2020 dizia que “sentimentos frequentes de tristeza e depressão afetavam 40% da população adulta brasileira, e sensação frequente de ansiedade e nervosismo foi relatada por mais de 50% das pessoas”. Além do medo de contrair a doença, a COVID-19 tem provocado sensação de insegurança em todos os aspectos da vida, da perspectiva coletiva à individual, do funcionamento diário da sociedade às modificações nas relações interpessoais. No entanto, segundo a OMS, o risco de alguém ficar deprimido aumenta com a pobreza, o desemprego e com algum fato da vida, como a morte de um parente ou amigo, o fim de um relacionamento, debilitação física ou problemas causados pelo consumo de álcool ou drogas.

Sequelas da pandemia

Quanto à saúde mental, é importante dizer que as sequelas de uma pandemia são maiores do que o número de mortes. Os sistemas de saúde dos países entram em colapso, os profissionais de saúde ficam exaustos com as longas horas de trabalho e, além disso, o método de controle mais efetivo da doença, que é o distanciamento social, impacta consideravelmente a saúde mental da população.

Estamos no terceiro momento da crise que pode ser compreendido como uma fase de reconstrução social. Após o declínio do número de novos casos e a diminuição da transmissão comunitária, as medidas de distanciamento social são reduzidas e o surto de contaminação tende a estar mais sob controle, ainda que não seja necessariamente inexistente. As pessoas começam a retomar as atividades habituais, há o retorno gradual do funcionamento das escolas, instituições e comércio, além de um menor nível de exigência de proteção contra o contágio.

Apesar da progressiva retomada da rotina diária em curto prazo, uma série de consequências da pandemia demanda prazos médio e longo para serem revertidas. O isolamento social gerado pela pandemia trouxe e trará inúmeros efeitos na saúde mental das pessoas.

A Síndrome da Cabana

Nesse cenário, a Síndrome da Cabana se manifesta quando a pessoa, mesmo sem uma ameaça próxima ou imediata, já não se sente segura fora de casa. Como se o nosso cérebro ficasse acostumado a uma nova rotina e aprendesse que estar em casa é a única possibilidade de segurança e proteção diante do Coronavírus.

Ainda protegida, ela tem dificuldade de voltar à rotina. Uma angústia e um medo paralisantes a impedirão de manter o seu dia a dia, o que intensifica o problema.

Na contramão do aumento de doenças mentais está o acolhimento. Falta não só apoio às pessoas que sofrem de transtornos psicológicos, como também o mundo tem déficit de profissionais especializados na área.

Portanto, seja no dia 10 de outubro ou em todos os outros dias, é fundamental e urgente abordarmos as questões de saúde mental, com responsabilidade e acolhimento.

E MAIS…

Fenômeno relacionado às mudanças bruscas de comportamento

A Síndrome da Cabana está envolta a uma polêmica na comunidade médica e científica, pois para muitos é tida como uma síndrome e para outros não é considerada uma doença. Para alguns especialistas da área de saúde, ela tem relação direta com a síndrome do pânico. A diferença fundamental é que, na segunda, o indivíduo só se sente seguro isolado, enquanto que, na primeira, é o isolamento que leva a pessoa a ficar angustiada.

É importante ressaltar que apenas uma avaliação médica poderá identificar a Síndrome da Cabana ou se existem outras patologias e diagnósticos associados à sua situação.

Principais sintomas:

  • sentimento de angústia;
  • perda ou ganho de apetite;
  • inquietação;
  • falta de motivação;
  • irritabilidade;
  • dificuldade de concentração;
  • dificuldade para dormir ou excesso de sono;
  • desconfiança das pessoas;
  • tristeza persistente;
  • taquicardia;
  • sudorese;
  • tontura;
  • falta de ar.
Referências
World Health Organization. (2020b). Report of the WHO-China joint mission on coronavirus disease 2019 (COVID-19) Geneva: Author.
Retrieved from http://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/who-china-joint-mission-on-covid-19-final-report.pdf

» http://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/who-china-joint-mission-on-covid-19-final-report.pdf