As crianças muito pequenas precisam de uma literatura que forme valores. Isso é possível com a leitura de fábulas moralizantes, o bem sempre vence o mal, o bom está na frente do mal e assim por diante.

É costume atribuir a dificuldade de o livro chegar até a criança por falta de dinheiro, mas com a internet essa justificativa caiu por terra. Há muitas crianças com acesso a internet que não acessam o livro, ou seja, tem o recurso, mas não querem, não gostam, não tem hábito. Por outro lado o livro também chegou, em poucas quantidades, mas chegou às escolas. Dificilmente você vai encontrar hoje uma escola sem livros infantis, mas apesar de eles já existirem o hábito da leitura, ainda não foi garantido e isso acontece porque ler é um prazer solitário, por observação e por pratica, mas a criança muitas vezes não vê o pai lendo, não vê a mãe lendo e não vê a professora e o professor lendo, quer dizer, ela terá que fazer algo que ninguém faz.

Incentivo à leitura

Cabe ao professor incentivar o gosto das crianças por obras literárias, mas é preciso que eles também leiam! Se o professor brasileiro ler, ler de tudo, ler com as crianças, ler na frente das crianças e ler para as crianças já é um bom começo. Da mesma forma o pai e a mãe deveriam se comportar. Ler para a criança, ler com a criança e conversar com a criança sobre leituras. Isso é o que forma o hábito.

É preciso começar a ler livros pela imagem, depois evoluir para livros com textos breves e com poucas personagens e por fim, já dar início a leitura de textos mais elaborados, com mais cenários, mais personagens e mais tramas. Esse crescimento é respeitoso como leitor em construção, pois ele precisa ter cognição e memória suficientes para manter o fio narrativo do livro e quando isso não acontece ele abandona a leitura.

É importante que a escola providencie um acervo aberto. Aquele que a criança entra e viaja até escolher o que deseja. Quando o acervo é fechado, aquele típico que tem uma moça na porta que pergunta qual o livro a gente quer, ou já coloca sobre a mesa o livro escolhido por ela a criança, tem restrição demais para poder desenvolver a paixão pelo livro. O livro precisa do namoro da criança. Ele precisa despertar na criança o encantamento e a vontade de tocá-lo.

Protagonismo na escolha

Mas a questão é: a literatura infantil perdeu sua época. Os livros de hoje não reconhecem a criança de hoje. Os livros de hoje ainda trazem as temáticas da literatura do inicio do século passado. As crianças de hoje estão carentes de materiais que dialoguem com elas e este dialogo só pode acontecer com as temáticas deste tempo. A criança de hoje quer ser protagonista, quer ser o ator de sua história, quer se ver e se reconhecer em suas características e nesse caso o livro infantil não tem dado esta possibilidade. Ainda fazemos livros infantil com bichinhos, passarinhos e outros elementos que não teriam problemas algum se fossem múltiplos, só que os livros na maioria das vezes só trazem estas temáticas.

A realidade virtual, o mundo em 3 dimensões, a realidade aumentada, a virtualidade, o mundo por destras dos super poderes e dos heróis. A criança deste tempo é magica, mística, multifacetada. E isso, gostemos ou não é a criança deste tempo. Quando estreia no cinema um filme com estas características as salas ficam lotadas e o que é mais interessante, as crianças variam de 3 a 90 anos. Há crianças de todas as idades interessadas nesse mundo interativo.  

E MAIS…

A emoção educa

Importante ressaltar que a sociedade não está ouvindo, vendo, e compreendendo a criança deste tempo. A criança deste tempo está sem voz, está sem representação nas instituições que tomam as decisões por ela. Há um descompasso. As crianças estão cada vez mais independentes, protagonistas de suas escolhas e a educação ainda insiste em restringi-la. Até do ponto de vista psicológico, elas estão mais maduras. Portanto, é fundamental mudar a mentalidade e as práticas de aprendizado que estimulam a leitura. Hoje, esse incentivo precisa estar associado ao exemplo do adulto. Não cabe mais à educação a máxima do dito popular: “faça o que falo e não o que faço”. E além disso, há a importância de associar o incentivo à leitura à vivência emocional do aluno. Afinal, vivemos em uma era em que a emoção e o afeto andam de mãos dadas com o aprendizado efetivo.