A Aprendizagem Baseada em Equipes (ABE), também conhecida como Team Based Learning (TBL) é uma estratégia educacional baseada em outras duas, a Sala de Aula Invertida (ou Flipped Classroom), e pode ser confundida com outra, a Aprendizagem por Solução de Problemas (ou Problem Based Learning), ambas já abordadas aqui nesta Coluna. Ela foi concebida por Larry Michaelsen, nos anos 1970, para suas turmas do curso de Administração.

Em termos simples, a técnica consiste em distribuir-se os alunos em equipes (normalmente preconiza-se entre cinco a sete alunos) com a finalidade de estimular a cooperação e proporcionar aprendizagem de alto rendimento. Para tanto, estabelecem-se macrounidades ou temas principais de aprendizagem, nas quais o conteúdo é dividido.

Outros pontos a destacar se referem à ampliação dos objetivos da aprendizagem, que sai do âmbito da simples memorização de conteúdos e passa ao âmbito das aplicações práticas, e do papel do professor, que sai da mera aula expositiva e passa a ser gerenciador e mediador do conhecimento produzido pelos alunos. Vamos ver alguns de seus pressupostos.

Como funciona?

Para a implantação da ABE em classes, são descritas três etapas básicas para cada macrounidade, que podem ter desde 25 alunos até grupos maiores com 100 alunos. Estas três etapas são chamadas de Preparação, Garantia de Preparo e Aplicação de Conceitos.

  1. Preparação – A preparação, ou preparo, consiste de uma série de passos prévios para que o estudante possa ter as condições necessárias para aprender sob esta estratégia. Em uma forma de Sala de Aula Invertida, ele estuda previamente o conteúdo a ser desenvolvido em sala posteriormente, por meio de leituras prévias, sites, vídeos, podcasts ou qualquer outra forma instrucional. Cumpre instruir os estudantes sobre a importância desta etapa, pois sem ela todo o restante do processo ficará prejudicado.
  2. Garantia do Preparo – esta etapa consiste na aplicação de testes em sala de aula, seja em nível individual, seja em equipe. Iniciando-se pelo teste individual, coloca-se as equipes para realizar, sem consulta, o mesmo teste coletivamente. A fase seguinte desta etapa é a apelação, caso uma ou mais equipes discorde das respostas do teste. Daí, o professor faz uma explanação sobre o tema, de forma a dirimir dúvidas e eventuais dificuldades, e dá um feedback sobre o processo.
  3. Aplicação de Conceitos – a etapa final da aula consiste na aplicação de atividades diversas, que envolvam a resolução de problemas e as tomadas de decisão. Esta última etapa pressupõe a utilização de quatro critérios básicos por parte do professor, de acordo com o site Tutor Mundi:
    • “Problema significativo (Significant) – Os problemas propostos devem envolver situações reais, contextualizadas e que possam acontecer no cotidiano.
    • Mesmo problema (Same) – Cada equipe deve receber o mesmo problema.
    • Escolha específica (Specific) – as respostas devem ser curtas e de fácil entendimento para as outras equipes.
    • Relatos simultâneos (Simultaneous Report) – as respostas devem ser apresentadas simultaneamente, a fim de inibir que os grupos sejam influenciados pela argumentação das outras equipes”.

Rodrigo Krug e colaboradores apresentaram o seguinte quadro sobre aplicação da ABE.

Quadro adaptado de Krug et al (2016)

Aspectos importantes

São os seguintes os principais aspectos que envolvem a ABE.

  • Feedback – um dos pontos principais da aplicação da ABE na prática é o feedback proporcionado pelo professor aos alunos. É um ponto balizador do sucesso das atividades dos alunos, especialmente em turmas principiantes. Esse feedback deve corrigir eventuais desvios de rota na aplicação da técnica, enfatizar a importância do estudo fora de sala de aula, e buscar agir no sentido de coorganizar as equipes para o cumprimento das tarefas.
  • Responsabilidade e Disciplina – um dos pontos fundamentais na aplicação da ABE é a autodisciplina e a responsabilidade do aluno na condução de seus estudos e das tarefas que lhe são confiadas. Este é um ponto que deve ser trabalhado para o sucesso da técnica. Não é automático, e demanda esforço e compromisso dos alunos em evitar a procrastinação e em estabelecer horários de estudo em seu cronograma semanal.
  • Equilíbrio Individual x Coletivo – claro que o esforço individual deve ser estimulado sempre na condução do processo ensino-aprendizagem. Porém, o aluno deve ser estimulado a saber também trabalhar em equipe, de forma a saber compatibilizar suas opiniões e quereres com a dos outros alunos e pensar coletivamente, em especial nas tomadas de decisão.
  • Formação das Equipes – outro ponto importante diz respeito à formação das equipes. Recomenda-se que sejam entre cinco e sete membros, número ímpar, para que haja sempre uma maioria nas tomadas de decisão mais difíceis. Outra questão diz respeito ao fato de a equipe ser permanente, ou seja, que após ser decidida sua constituição, não seja mais modificada, a não ser em casos de posterior incompatibilidade entre seus membros. Um dos critérios para composição da equipe pode ser o da relação entre seus membros, e outro pode ser o da distribuição equânime dos alunos mais talentosos nos grupos.
  • Planejamento – como em toda metodologia ativa, o planejamento das ações deve ser feito com cuidado. As atividades devem ser integradas entre si e deverão ter conexão com a macrounidade principal do conteúdo com a disciplina.
  • Avaliação – o processo avaliativo é de suma importância, sendo normalmente usada uma composição de notas, que envolvem os testes individuais, os testes em equipes, os exercícios de aplicação dos conceitos e (se utilizado) os exercícios de avaliação dos pares, que permite comparar a autoavaliação do aluno com a avaliação dos outros colegas. Existem inclusive softwares usados para tal fim, como o iPeer e o SparkPlus.

E MAIS…

Há pontos positivos e negativos

Como em todas as técnicas e metodologias, a ABE apresenta pontos a favor e contra sua aplicação, que resumimos no quadro sinóptico a seguir.

PONTOS POSITIVOSPONTOS NEGATIVOS
Análise profunda dos temas estudados, contra uma análise mais superficial dos estudos individuaisAlunos podem não estar devidamente acostumados, se tornando necessária formação, de forma a que se acostumem à cultura da autodisciplina e protagonismo nos estudos. Esta aquisição não é automática
Ênfase na aplicação prática dos temas, em detrimento dos estudos puramente teóricosProfessores podem não estar devidamente motivados para mudar sua metodologia de ensino. Podem também necessitar de formação
Desenvolvimento da criatividade e das ideias inovadoras, que emergem das discussões em grupo 
Estímulo ao trabalho em equipe e colaborativo, essencial para o âmbito do trabalho 
Desenvolvimento de habilidades cognitivas, interpessoais e socioemocionais 
Referências
BOLLELA, V.R.; SENGER, M.H.; TOURINHO, F.S.V.; AMARAL, E. Aprendizagem baseada em equipes: da teoria à prática. Medicina (Ribeirão Preto);47(3):293-300, 2014.
FAZ EDUCAÇÃO & TECNOLOGIA. Como Aplicar a Aprendizagem Baseada em Equipes na Escola? Disponível em: <https://www.fazeducacao.com.br/post/aprendizagem-baseada-em-equipes-na-escola>. Acesso em: 23/07/2021. Atualizado em: 08/04/2020.
KRUG, Rodrigo de Rosso et al. O “Bê-Á-Bá” da Aprendizagem Baseada em Equipe. Revista Brasileira de Educação Médica, 40 (4): 602-620; 2016.  DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1981-52712015v40n4e00452015
TUTOR MUNDI. Aprendizagem Baseada em Equipes (TBL) em suas aulas. Disponível em: <https://tutormundi.com/blog/aprendizagem-baseada-em-equipes/>. Acesso em: 22/07/2021. Postado em: 06/11/2020.