É essencial que o professor no exercício de sua profissão, perceba-se como aquele que irá contribuir na construção da noção de identidade, através do estabelecimento de relações entre identidades individuais, sociais e análise crítica de uma memória que é transmitida ao seu aluno.

Compreender esse processo é imprescindível para a transformação da realidade em que vivemos, é fazer o aluno escrever sua própria história, produzir uma cultura e se perceber enquanto sujeito histórico. Para assim ter possibilidade de ser um cidadão crítico e consciente de seus direitos e deveres, percebendo que o mundo pode ser mudado, transformado, reinventado, vivido.

Contexto de complexidade

Atualmente, vivenciamos diversos desafios, transformações sociais, culturais, econômicas e tecnológicas, estas inseridas no contexto socializador para as novas gerações e tornando necessário às escolas apresentarem propostas curriculares e algumas produções didáticas que considerem todo esse contexto de complexidade, valorizando práticas educativas da história do cotidiano, da história local, costumes, lendas, tradições, memórias e vivências no cotidiano escolar. É desafiador!

Hoje é muito importante uma educação que esteja intrínseca com a história de seus alunos, suas histórias de vida e local, independente da área do professor. Pois assim o professor, exercerá seu papel social, sendo mediador de conflitos, desafios, lutas por esses alunos; por exemplo, a educação da atualidade exige maior sensibilidade e perspectivas das escolas, para refletirem mais sobre o patrimônio cultural de sua cidade, estabelecendo assim, relações com o sentido que a comunidade atribui a tais bens, oportunizando o exercício da cidadania entre os alunos.

Construção e desconstrução

Vale ressaltar que a cultura se traduz em experiências escolares, nesse contexto de troca de experiências, vivências e saberes, enfatizando a história do cotidiano, a história local, costumes, lendas, tradições e memórias, que implicam relações culturais, que constroem e desconstroem, resgatando as raízes culturais.

Nessa perspectiva, entende-se que o aluno de posse desse saber, poderá vir a ter condições de contribuir na construção de uma sociedade menos excludente, assumindo um papel, sobretudo político. Segundo Gadotti (1998), “todo saber traz consigo sua própria superação”, assim a prática metodológica, que insere educação e cultura, necessita de uma base conceitual que respalde e sustente tais metodologias, oportunizando  problematizar a identidade regional/histórica dos alunos, o que eles desejam conservar e transformar em sua história,  pensar e transformar, exercer sua plena cidadania, a discernir limites e possibilidades em sua atuação e transformação da realidade histórica a qual pertence; posicionando ativamente nas transformações da sociedade e na construção de um saber pedagógico pautado na qualidade, na construção histórica e cultural vivenciada.

Permitindo assim a construção de uma história plural, sem qualquer tipo de preconceito, na qual os excluídos passam a ter voz e assumam o papel de cidadãos críticos, intervindo de forma consciente enquanto seres que fazem história e pertencem a uma época e espaços próprios.

Agente ativo na sociedade

Esta prática metodológica, que insere educação e cultura, favorece a leitura mais atenta ao mundo em que estamos inseridos, abre oportunidade de problematizar a identidade regional/histórica dos alunos, o que eles desejam conservar e transformar em sua história, ser um agente ativo na sociedade, um sujeito capaz de pensar e transformar, exercer sua plena cidadania, a discernir limites e possibilidades em sua atuação e transformação da realidade histórica na qual está inserido.

Permitir o desenvolvimento dos alunos, a partir de suas habilidades, como: linguagem, escrita, interpretação, expressão, criticidade, comunicação, criatividade, autonomia, oportunizando a formação e transformação do aluno, é mediar o contato do aluno com a sua história, sua identidade regional, para assim estimulá-lo a conhecer, ter curiosidade sobre o lugar em que vive. Isso pode ser mediado com leituras de livros que resgatem as lendas, tradições e costumes de sua região. Enfatizar e incentivar leituras de autores nacionais e locais, contribuindo para um conhecimento complexo de sua história.

Protagonistas de sua história

Esta prática educativa é importante e necessária, nos dias atuais, pois nos encontramos inseridos a novas tecnologias e ao uso das mesmas, no cotidiano escolar e social, que muitas vezes acarretam afastamento de nossa cultura para dar lugar a uma cultura global, descaracterizando as culturas locais e suas imagens, símbolos, oralidade, escrita, em função do mundo virtual; nos fazendo nulos diante de nossa história, perdendo o papel de protagonistas de nossa vida.

A sociedade do século XXI é cada vez mais caracterizada pelo uso intensivo do conhecimento, seja para trabalhar, conviver ou exercer a cidadania, seja para cuidar do ambiente em que se vive. Assim, a educação precisa estar a serviço do desenvolvimento, que coincide com a construção da identidade, da autonomia e da liberdade. Ser professor não pode limitar-se apenas a transmitir o saber, é também, facilitar e orientar a aprendizagem, despertando o interesse dos alunos na interação entre os problemas, os conhecimentos e as experiências.

Educação desafiadora e crítica

Segundo Freire, o bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas. (1996, p. 96)

Dentro desta perspectiva, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) podem contribuir por uma educação desafiadora e crítica, desde que, desenvolva no aluno sua “sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas” (p.19). Conhecimentos que propiciam a leitura de mundo numa dimensão poética, que envolvem a criação artística, a comunicação, a percepção estética, a fruição, o “exercício do pensamento, da intuição, da sensibilidade e da imaginação” (p.40).

Quebra de paradigmas

Conhecer para transformar, é possibilitar pensar o novo, reinventar o pensar; eternizar vivências, que permitam a formação de cidadãos com novos olhares e percepção do outro e de si mesmo. É a necessidade de dialogar, quebrar paradigmas, buscar novas verdades e reflexões sobre o mundo o qual vivemos e suas contradições.

Criar metodologias que ofereçam ao aluno a possibilidade de conhecer o lugar em que vive, as culturas produzidas e sua relação com as mesmas. Possibilitando a Escola se tornar um importante local gerador de debates e pensamento crítico sobre os efeitos da mídia, valorizando o ser social e local, enfim regional, inserido no contexto global.

Do ponto de vista metodológico e didático, cognitivo e ideológico, os professores podem aplicar o termo cultura, a história do cotidiano, a história local, costumes, lendas, tradições, memórias e vivências; a partir de projetos interdisciplinares que valorizem a cultura em cada contexto específico. Nessa perspectiva, Educação e Cultura estão atreladas à criticidade dos acontecimentos vivenciados pelos alunos nos diversos grupos sociais aos quais pertencem.

O aluno precisa de estímulos e cabe ao professor desenvolver esse interesse, mostrar para ele, que fazem parte dessa história e que podem e devem se posicionar ativamente nas transformações da sociedade. Conhecer para transformar. Além disso, oportunizar provocações e estímulos para a construção de um saber pedagógico pautado na qualidade, resultante de toda uma construção histórica e cultural vivenciada pelos alunos. Valorizando assim suas raízes e história, estaremos com certeza exercendo nosso papel social, diante da educação atual, muitas vezes avessas ao seu papel crítico social!

E MAIS…

Múltiplos olhares para a nova educação

Verifica-se que a Nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de 1997, enfatizam a ideia de diversidade cultural, múltiplos olhares sobre a cultura e a História do patrimônio material e imaterial do Brasil. Permite, assim, aos professores ampliar estes temas, incorporando leituras críticas de textos em sala de aulas, resgates de lendas e tradições regionais, pesquisas de fontes históricas, estudo de textos literários, possibilitar discussões a respeito da diversidade cultural, narrativas cotidianas.

Referência Bibliográfica:
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF: Senado, 1996.
_______Parâmetros curriculares nacionais: arte/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GADOTTI, Moacir (1998): Pedagogia da práxis, 2.ª ed., São Paulo, Cortez.