Uma vez, na sala de aula em um curso de graduação, um aluno me perguntou: “Professora, em que a senhora trabalha?” Fiquei assustada, pois jamais pensei que ser professora não era parâmetro de trabalho para as pessoas. Então respondi: “Sou trabalhadora de estudos acadêmicos e científicos, desperto sonhos e desejos em inteligências adormecidas, provoco mudanças em atitudes e comportamentos mediando processos de pensamentos críticos e reflexivos aplicados no cotidiano da vida das pessoas. Trabalho com gente no intuito de promover um futuro melhor e mais justo em nosso país. Tenho um compromisso com o ensino e a aprendizagem dos alunos na formação acadêmica nas universidades, desenvolvendo pesquisas a fim de aplicá-las na melhoria do desempenho e no progresso educacional. Por isso sou Professora… Com direitos e deveres como outro profissional, pois existem desafios a serem cumpridos”.

Provocador de desafios

O curso universitário não é mais o mesmo que há uma década. As carreiras mudaram e a sua formação também precisou passar por transformações. Nesse cenário, um dos protagonistas, é o professor universitário. Ele precisa estar à frente do seu tempo, atualizado para novas tendências mercadológicas. É um profissional específico em sua área de atuação na atividade docente, por isso se faz necessário um despertar para a compreensão que a docência, como a pesquisa e o exercício de qualquer profissão, exige a capacitação própria e específica, e que não se restringe apenas a ter um diploma de bacharel, ou mesmo de mestre, doutor, ou, ainda, apenas o exercício de uma profissão.

O professor universitário precisa rever suas práticas docentes. O principal papel é o de aprender” novas competências e habilidades, a fim de serem aplicadas em suas práxis pedagógicas. Para isso não basta saber muito tecnicamente. É fundamental tornando-se mediador e um provocador de desafios e curiosidades no ambiente de aprendizagem e cabe um alerta quanto às suas funções, tanto na sociedade em geral quanto nas comunidades acadêmicas: perceber a necessidade de renovação/atualização em torno da formação profissional, currículo e processos de aprendizagem.

Estar antenado ao futuro e usar a criatividade são fatores fundamentais no processo pedagógico do professor universitário. Afinal, em um mundo com a velocidade em que vivemos, ele tem que apresentar tendências e formar profissionais de vanguarda que se destaque na carreira dentro de alguns anos. E essa premissa vale tanto para os cursos relacionados ao trabalho com saúde mental, como tantas outras áreas, mas sem dúvida, o grande desafio do professor universitário é promover a formação de seus acadêmicos e um dos caminhos para realizar tal tarefa é a de reconhecer como o cérebro de seus estudantes aprende e guarda saberes, e como se processa o upgrade do conhecimento contextualizado para o exercício profissional.

Neurociência como aliada

Segundo CONSENZA & GUERRA (2011): o ambiente ao qual estamos expostos influencia o processo de aprendizagem, interferindo nos fatores psicológicos e emocionais, induzindo comportamentos que podem ser mais ou menos favoráveis ao aprendizado. O educador do século XXI precisa ser um bom observador. Seu olhar sobre o educando é indispensável para compreender sua timidez e dificuldades na hora de aprender. (RELVAS, 2018). Nesse sentido, o professor precisa estar preparado para conhecer seu aluno, pois cada sujeito evolui intelectualmente de maneira diferente. E esse “conhecer” seria através da Neurociência. […] A aprendizagem é uma modificação biológica na comunicação entre os neurônios, formando uma rede de interligações que podem ser evocadas e retomadas com relativa facilidade e rapidez.

Todas as áreas cerebrais estão envolvidas no processo de aprendizagem, inclusive a emoção. […]. A aprendizagem resulta no crescimento ou nas alterações das células quando o axônio de uma célula recebe um potencial de longa duração com estimulações fortes. À medida que uma célula recebe estes estímulos fortes, estes vão sendo repassados de uma célula para outra.

As raízes do conhecimento

E nesse processo, é importante ressaltar o importante papel do Professor na Educação Superior, mas não como um mero transmissor de informações, pois nisto a tecnologia pode ser bastante eficaz, mas um mediador entre o discente e o objeto do conhecimento, com a função de estimular o seu aluno. Essa troca de conhecimento entre o professor universitário e o aluno pode fazer toda a diferença na trajetória profissional, afinal essa conexão acontece quase que como um mestre e um discípulo.  Mas claro que sempre respeitando os comportamentos de troca, em que o professor também aprende com seu aluno. Porém, é a realidade que o mais experiente passe seu conhecimento ao menos experiente e esse aluno se torne um “espelho” de seu professor. Principalmente no início de carreira. Depois pode imprimir seu próprio estilo de atendimento, fazer seus próprios estudos de técnicas e trilhar um caminho independente. Entretanto, o aluno sempre terá as raízes de seus professores.

Acredita-se, e comprova-se com estudos sobre a educação moderna, que uma aula centrada no falar e ditar do docente, sem espaço para que os discentes apresentem seus pensamentos, ideias ou até conhecimentos, pode se tornar algo autoritário e maçante. E pior… improdutiva, do ponto de vista de assimilação do conhecimento.

Fala-se muito do uso de ferramentas criativas quando o assunto é ensino infantil e alfabetização, mas o fato é que, mesmo depois que crescemos, o processo de aprendizagem do cérebro não muda. É claro que quanto mais ele é desafiado, mais absorve o conteúdo, tem foco e absorve o conhecimento. Então, porque o ensino superior insiste em manter modelos tradicionais de aprendizagem? É fundamental que a Instituição também estimule o Professor a utilizar diversos mecanismos visuais, textuais, lúdicos e interativos no seu plano de aula a fim de que mais sinapses sejam produzidas para que, desse modo, o aprendizado se dê de forma prazerosa, completa e consolidada.

E MAIS…

Metodologias sistêmicas e as sinapses

Para conseguir êxito neste processo de construção o educador deve criar metodologias sistêmicas de origens diferentes para que, então, a informação seja transitada pelos neurônios diversas vezes e, deste modo, produzir e reforçar, cada vez mais, as sinapses – que podem se formar quimicamente ou eletricamente. Portanto, este é o desafio dos professores na atualidade: incentivar a memória dos alunos para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem, aprimorar suas práticas pedagógicas fazendo o uso da Neurociência e entender que isto é imprescindível para atender a esta geração tão diversa e que aprende de forma hipertextual.

Referências bibligráficas:
Cosenza, Ramon M.,Guerra, Leonor B.Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Artmed Editora. Porto Alegre, 2011.
Relvas, Marta P.  Sob comando do cérebro: entenda como a Neurociência está no seu dia a dia. WAK Editora. Rio de Janeiro, 2018, 2ª edição.