Basicamente, o conceito da Sala de Aula Invertida (SAI) prevê que tarefas que o aluno faz em sala de aula, passem a ser feitas em momentos extraclasse, em que o aluno não está tendo aula presencial, assim como a sala de aula torne-se o lugar de debater, organizar e praticar o conteúdo estudado (VALENTE, 2018), e de tirar dúvidas e vencer dificuldades de cada aluno.

Todo o processo pode ser feito sem o uso de tecnologias digitais, como com a leitura de artigos ou capítulos de livros, mas o fato de tê-las disponíveis pode constituir um facilitador. De fato, Mattar (2017) apresenta um modelo “mais recente”, que é baseado em videoaulas ou podcasts (formatos de áudio) curtos, nos quais o aluno assistiria no ambiente extraclasse e discutiria com os colegas e professor em sala de aula. Já Valente (2018) assume que tanto a abordagem, como o conteúdo e as instruções são estudados pelos alunos on-line, por meio de ambientes virtuais de aprendizagem. Claramente, tal processo demanda que todos os alunos tenham acesso estável à Internet.

Pilares Básicos

Mattar (2017) apresenta quatro pilares básicos da SAI:

  • Ambiente de Aprendizagem Flexível, em que o aluno decide se vai realizar as atividades em grupo ou individualmente, onde e quando irão realizar suas tarefas extraclasse. Além disso, o educador flexibiliza o tempo para as atividades serem cumpridas, bem como os procedimentos de avaliação da aprendizagem.
  • Cultura da Aprendizagem, em que o aluno se torna o centro primário da informação. Ele se torna também ativamente engajado em sua aprendizagem, tornando-a significativa, através do aprofundamento dos temas que escolhe, dos processos criativos que elicia, e de sua própria avaliação.
  • Conteúdo Intencional, em que o educador intencionalmente elege o que necessita em termos de conteúdo, e o que os estudantes devem explorar por sua conta, de forma a desenvolverem compreensão conceitual (entendimento sobre os conceitos estudados) e fluência processual (sobre a forma de conduzirem o processo eficazmente).
  • Educador Profissional, em que o educador assume um protagonismo ativo em relação aos estudantes, observando-os e acompanhando detidamente todos os detalhes do processo, com a devida tolerância para as eventuais “bagunças” em sala de aula.

Um dos aspectos interessantes acerca deste último pilar da SAI, o Educador Profissional, é justamente o professor assumir um papel aparentemente contraditório: ao mesmo tempo em que aprende a perder o controle do processo como elemento principal, necessita de um controle muito preciso em termos de orientação e coordenação de todo o processo, o que pode ser até mais trabalhoso do que o ensino tradicional, já que necessita de formação na metodologia e em um preciso planejamento das ações a serem tomadas no percurso das aulas, como também de toda a preparação dos materiais didáticos a serem utilizados (estes dois últimos aspectos são considerados por Valente (2018) como fundamentais.

E, neste sentido, outro “detalhe” a ser observado na SAI são os processos avaliativos, assim mesmo, no plural. Isto porque será necessário pensar em instrumentos diversos de avaliação, já que a aprendizagem será centrada no aluno, utilizando inclusive as avaliações virtuais, por meio de instrumentos disponíveis na Internet, como o Kahoot, por exemplo.

De todo este processo, a personalização advinda da SAI permite que o aluno adapte o conteúdo a seus interesses e necessidades, como também às suas possibilidades e preferências de aprendizagem.

Regras de implantação

Valente (2018) cita 4 regras básicas para a implantação da SAI: 1) as atividades em sala de aula devem considerar questionamentos, resolução de problemas e tarefas ativas para o aluno; 2) é importante que o aluno receba feedback sobre as atividades presenciais ao seu final; 3) as avaliações devem contemplar as atividades on-line e presenciais, sendo os alunos incentivados a fazê-las; e 4) o material on-line e presencial devem ser bem planejados e estruturados.

Bergmann (2018), que é considerado por muitos como um pioneiro do método SAI, também conhecido como Flipped Classroom, é um dos que ataca o processo tradicional de ensino, começando pelo dever de casa. No ensino tradicional, os alunos são apresentados aos conceitos na sala de aula através do professor, e em casa têm as tarefas para reforço da aprendizagem, que normalmente são longas, cansativas, tediosas e não têm o auxílio de um especialista para as dúvidas. Isto se torna um trabalho difícil para a maioria dos alunos.

Com a SAI, as tarefas cognitivas mais difíceis, as dúvidas, as dificuldades são trabalhadas em conjunto, ficando para casa as tarefas mais fáceis, com um material introdutório, na forma de um vídeo instrucional (que Bergmann chama de “Vídeo Invertido”), preparado pelo educador ou já existente, curto e direto, com perguntas ao final para auxiliar no entendimento. Os alunos podem também fazer anotações durante o vídeo, pausando e anotando o que for relevante.

O assunto da SAI ainda é novo e apesar de trazer muitos benefícios como uma nova dinâmica que desperta o interesse dos alunos, há também algumas desvantagens. O ideal é que a SAI seja cada vez mais experimentada justamente para que possamos alinhar um modelo efetivo que atenda às novas gerações de estudantes que não se encaixam mais na educação tradicional.  

E MAIS…

Preferências, vantagens e desvantagens

Pesquisas apresentadas por Bergmann (2018) com alunos de vários anos de escolaridade nos Estados Unidos apontam que a SAI é a preferência da maioria (52%) em relação aos que preferem a aula tradicional (20%) ou aqueles que não têm preferência (28%).

Como em todo processo educacional, a SAI apresenta vantagens e desvantagens, que são listadas por Bergmann (2018), e que resumimos no quadro a seguir.

VANTAGENSDESVANTAGENS
As tarefas podem ser feitas a qualquer hora.Se está confuso, precisa esperar até a aula para tirar dúvidas.
Há estímulo em fazer perguntas durante a aula.Não podem ser feitas perguntas durante o vídeo.
Há menos trabalho e melhor entendimento.O vídeo pode ser longo demais, deixando menos tempo para outras disciplinas.
Há maior concentração na tarefa.Se a pessoa aprende melhor na prática, pode entender melhor somente na sala de aula.
Os vídeos podem ser assistidos várias vezes.É difícil prestar atenção no assunto em casa.
Há mais tempo para pensar e refletir.A Internet não ajuda.
Há mais tempo para debate em sala de aula.O aluno depende de ter computador.
As coisas mais difíceis são feitas em sala de aula.Se o aluno não faz o dever de casa, ele não vai saber o que está se passando em sala de aula.
A tarefa é feita no tempo próprio do aluno.Às vezes, é necessária a explicação do professor.
Você pode fazer a tarefa mesmo confuso, e depois fazer as perguntas em sala de aula. 
Dever de casa eletrônico pode ser recuperado facilmente pelo computador ou celular. 
As atividades em sala são mais envolventes. 

Referências

BERGMANN, Jonathan. Aprendizagem Invertida para Resolver o Problema do Dever de Casa. Porto Alegre: Penso, 2018.
MATTAR, João. Metodologias ativas: para a educação presencial, blended e a distância. São Paulo: Artesanato Educacional, 2017.
VALENTE, José Armando. A Sala de Aula Invertida e a Possibilidade do Ensino Personalizado: uma experiência com a graduação em midialogia. In: BACICH, Lilian; MORAN, José. Metodologias Ativas para uma Educação Inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.