Não seria muito apropriado abordar o tema sobre as funções executivas e a aprendizagem, sem antes explanar um pouco sobre a importância do papel das emoções quando o foco é o aprendizado. O sistema límbico, responsável pelo nosso circuito emocional no cérebro, é formado por várias estruturas, em especial, a amígdala cerebral, considerada como uma espécie de “vigilante” das emoções humanas. Além de ser a responsável pelo nosso sistema de alerta, esta estrutura também tem a função de enviar impulsos nervosos para todo o córtex cerebral no momento que recebemos qualquer tipo de informação, incluindo as áreas da cognição e do raciocínio.

A tríade em pauta

Há uma tríade que marca o conceito das funções executivas, a saber: o controle inibitório, a flexibilidade cognitiva e a memória de trabalho. O controle inibitório contribui para que o indivíduo consiga inibir estímulos distratores internos ou externos no momento em que realiza uma tarefa que demande mais tempo, evitando qualquer tipo de interferência. O controle inibitório pode ser observado também pela capacidade que o indivíduo apresenta em resistir a situações que possam desestabilizar o seu estado emocional. Consegue avaliar a informação e analisar as consequências que uma determinada atitude tomada sem pensar poderia ocasionar. A flexibilidade cognitiva é a condição que o indivíduo tem de analisar situações a partir de nova observação e ser capaz de modificar o seu ponto de vista, buscando alternativas diante de situações repentinas. Buscar novas soluções e estratégias estimulam o pensamento criativo. A memória, especificamente, a memória de trabalho, refere-se à capacidade de buscar informações na memória de longo prazo para dar sentido à informação que está sendo recebida. É através da memória de trabalho que os sons, palavras e frases fazem sentido e podem ser contextualizadas.

Padrões cerebrais

As conexões do córtex pré-frontal com a região do sistema límbico, estão diretamente envolvidas com o controle do comportamento das emoções. Já o córtex pré-frontal conectado ao estriado, estão envolvidos com o planejamento e a coordenação do comportamento motor, ou seja, o córtex pré-frontal é o centro executivo do cérebro. Esta região não atua sozinha. Ela está intimamente ligada ao comportamento. Circuitos neurais são extremamente dinâmicos e se modificam em frações de segundos, a toda hora, o tempo todo e ao longo de nossas vidas, mas evoluem radicalmente ao longo dos primeiros anos da infância. Continuam se aprimorando durante a adolescência, porém, somente na vida adulta, estas conexões encontram-se fortemente ativadas e conectam-se as demais regiões do cérebro. Portanto, quanto mais estimuladas forem estas funções ainda quando criança, maiores serão as possibilidades em aumentar a capacidade de fortalecimento das neuroconexões.

Aumento das redes neurais

Quando há a consolidação do aprendizado, seja na esfera motora, emocional ou comportamental, há também o aumento de novas conexões neurais, denominadas sinaptogênese. O aumento das redes neurais acontece pela capacidade que o cérebro possui em se adaptar ou readaptar a inúmeras circunstâncias devido a sua flexibilidade no sentido da sua mobilidade cognitiva, ou seja, a sua plasticidade. Esta capacidade que o cérebro humano possui sustenta as teorias da aprendizagem. Dentro destas teorias, podemos encontrar algumas classificações, como por exemplo, a teoria humanista, que é voltada para uma aprendizagem baseada na autorrealização do indivíduo, a qual valoriza os aspectos cognitivos, motores e afetivos. Na teoria comportamentalista, o processo de aprendizagem é centrado no comportamento através da observação. Já na teoria cognitivista, a atenção é voltada para o comportamento humano com o propósito de observar e entender como o indivíduo desenvolve o seu conhecimento acerca do mundo – estímulo/resposta.

Entre a razão e a emoção

Entre a razão e a emoção deve haver um equilíbrio que contribui para o controle dos sentimentos, das emoções e no autocontrole do indivíduo. Desde tenra idade, as funções executivas precisam ser desenvolvidas nas crianças. Na escola, as atividades que envolvam estratégias para estimular o autocontrole, a flexibilidade cognitiva, tomada de decisão, planejamento, memória de trabalho, que são funções gerenciadoras das emoções, devem ser oferecidas às crianças dando a oportunidade para que elas elaborem e desenvolvam estas habilidades. O autoconhecimento oportuniza a compreensão e o estabelecimento de limites, como também, o limite com o outro. Importantíssimo destacar que sem motivação ou interesse, não há aprendizagem. O que faz o aprendizado acontecer efetivamente é quando o conhecimento da criança é colocado em prática e então, tudo passa a fazer sentido para ela. Esta aprendizagem se consolida no cérebro quando conseguimos relacionar o que foi aprendido com alguma experiência já vivida. Neste sentido, torna-se muito importante que o professor em suas práticas docentes tenha consciência e sensibilidade às emoções manifestadas pela criança e dê “voz” a ela, com o objetivo de proporcionar experiências positivas promovendo um aprendizado prazeroso, contextualizado e significativo em sala de aula.

Flexibilidade e adaptação

O desenvolvimento das habilidades executivas nas crianças são ingredientes fundamentais para o seu desempenho como ser humano durante a vida. A criança entra no mundo com estas habilidades desenvolvidas que irão permitir que ela conviva socialmente com outras pessoas. Seja flexível, mude e adapte-se a regras e as aceite sem ter medo, mas com segurança. Atualmente, os estudos relacionados às funções executivas, sua importância e desenvolvimento na primeira infância estão avançando positivamente, através da neurociência aplicada a educação, baseando-se no funcionamento cerebral, ampliando a visão pedagógica para que suas práticas agreguem as mudanças necessárias e contribuam para que o processo de ensino e aprendizagem aconteça de forma efetiva, com alegria e afeto.

E MAIS…

Áreas corticais responsáveis pelas funções executivas

Estudos demonstram que determinadas áreas corticais responsáveis pelas funções executivas estão localizadas em ambos os lobos frontais, áreas fundamentais para a cognição. Estes estudos ganharam maior repercussão quando Phineas Gage sofreu um acidente de trabalho em 1848, acometendo drasticamente seu lobo frontal logo abaixo do olho esquerdo. Ainda assim, ele permaneceu com suas funções motoras sem qualquer comprometimento, porém, seu comportamento e personalidade modificaram-se de maneira bizarra. Tornou-se um homem sem limites, agressivo, pervertido sexualmente, entre outros transtornos apresentados em seu comportamento devido a lesão. Por causa deste comprometimento a nível comportamental, sua história chamou a atenção dos neurocientistas para estudos mais profundos relacionados aos lobos frontais e sua funcionalidade. Estes estudos demonstraram que inúmeras habilidades mentais se encontram nesta região. Uma analogia bem aceita é que os lobos frontais funcionam como um excelente maestro que rege a sua orquestra.

Em especial, o córtex pré-frontal (região do lobo frontal anterior e o córtex motor primário), tem a responsabilidade em planejar estratégias de ação recrutando habilidades cognitivas coordenadas para aplicá-las e atingir um objetivo. Avalia também o fracasso ou o sucesso destas ações.