Historicamente, a palavra psicomotricidade tem origem no século XX, em discursos médicos, embora o estudo do movimento ou a falta dele esteja presente em muitas ciências, desde a antiguidade, baseando-se em pesquisas sobre o cérebro e estudos sobre o córtex cerebral, integrando o psiquismo com a motricidade.

Nos tempos atuais, o sistema nervoso, ações sobre a musculatura e o desenvolvimento do psiquismo tornaram-se o tripé de investigação, que ainda desafiam, não só a área médica, mas a todos que desejam saber e fazer parte deste campo científico e educacional. Tendo como base inúmeras ideias, de diferentes pesquisadores de áreas diversificadas do conhecimento, atualmente pode-se definir a psicomotricidade como uma ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Porém, é preciso deixar claro que a construção do movimento humano efetiva-se em função de muitas interações do corpo em contato com o outro e com o mundo. A partir de múltiplas intenções, intrínsecas e extrínsecas, pode-se fortalecer a expressividade íntima e os movimentos transformam-se em comportamentos significantes e contextualizados. Desta forma, num ciclo harmonioso ou não, organizam-se memórias, vivências e novas conexões do ser com o mundo.

Construção afetivo-emocional

A psicomotricidade pode servir de base para o desenvolvimento, além de físico e intelectual de diferentes formas, visto que constitui peça fundamental para o desenvolvimento infantil. Partindo do pressuposto de que a motricidade está presente em todas as atividades humanas, fica claro que isto impulsiona e exige a elaboração de um trabalho de educação psicomotora com as crianças na faixa-etária de zero a cinco anos. Tal atividade deve ser estruturada a partir da formação de base, neste período de vida, onde torna-se fator fundamental para o seu desenvolvimento motor, afetivo e psicológico, priorizando ações pedagógicas que envolvam jogos e atividades lúdicas. Entende-se que a criança se conscientiza sobre seu corpo, conseguindo aceitar, situar e interagir com outros corpos e com o mundo. Neste fazer contínuo, inacabado e produtivo, é também que se fortalece a ideia de que todos precisam de uma educação psicomotora contínua. Assim, desde pequenas, as crianças precisam de estímulos, pois, durante essa etapa da infância, é que a personalidade de cada indivíduo vai se construindo. Sendo neste momento que a criança toma posse dos principais instrumentos internos que servirão de maneira inconsciente, e depois consciente, para interagir com a sua realidade externa. A partir deste momento é que ela descobre, inventa, resiste, adapta-se, duvida, argumenta e socializa-se. O que exigirá um acompanhamento e intervenções psicomotoras significativas precisas daqueles que estão presentes, nesta construção simbólica e no seu desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social.

A psicomotricidade é uma prática que contribui para o desenvolvimento da criança no ensino-aprendizagem e que favorece o desenvolvimento saudável dos aspectos físicos, mental, afetivo-emocional de sua personalidade. Por isso, torna-se fundamental que, desde muito cedo, o bebê receba estímulo externo. Como hoje as crianças chegam cada vez mais cedo nas salas de creche, estímulos que trabalhem aspectos corporais e que explorem percepções musicais, olfativas, gustativas, espacial e temporal são essenciais para a maturação deste corpo que, aos poucos, percebe-se no mundo e em contato com outros corpos no mundo. É desta forma que a criança vai se construindo através da troca de olhares, toques e carícias, primeiramente com os parentes (pais ou responsável), depois com outras pessoas (professores), ampliando as suas relações sociais no mundo. Não desmerecendo a influência de outros contextos sociais no desenvolvimento infantil, sabe-se que a escola tem uma grande responsabilidade no desenvolvimento da psicomotricidade das crianças. Desta forma, a primeira etapa da educação básica, a educação infantil, representa um momento único e especial tendo que ser compreendida pelo professor de forma responsável na ação docente.

O espaço escolar

É necessário que se faça uma crítica à desvalorização dos espaços físicos nas escolas de educação infantil brasileira. Prédios de escolas adaptadas, com espaços pequenos, escuros, nem sempre adequados à intenção de servir para a educação, quanto mais para propiciar o desenvolvimento infantil de forma integral. Tais espaços negligenciam instalação de parques, hortas, jardins, pátios, quadras, brinquedotecas e outros espaços de interação coletiva e de exploração da psicomotricidade. A educação psicomotora, no desenvolvimento integral de crianças, precisa ser uma experiência ativa de confrontação com o meio.

Existem ainda muitos outros aspectos que limitam a fazer lúdico e o desenvolvimento das crianças no espaço escolar. Um ponto que merece nossa atenção é a falta de conexão entre os discursos pedagógicos contidos nos projetos e propostas pedagógicas e o cotidiano escolar. Nem sempre as escolas de educação infantil possuem visão do que representam na sociedade em que estão inseridas. É comum, também, percebermos a falta de clareza nos objetivos propostos em seus documentos institucionais. Tudo isso acaba por afetar o dia a dia do professor, que nem sempre recebe uma meta institucional viável e bem fundamentada para executar seu fazer docente. O desenvolvimento da psicomotricidade é uma forma de promoção do desenvolvimento da criança e, por isso, sempre existirão possibilidades para a realização de atividades psicomotoras em todo o tipo de espaço.

É primordial que o professor-educador perceba-se como pesquisador, alicerçando uma rotina de estudos, pesquisa e debates sobre a educação psicomotora. Essencial conhecer a estrutura teórica desta ciência, as formas de desenvolvimento psicomotor, as implicações do sistema nervoso central e a importância da maturação neurológica, compreendendo como acontece o desenvolvimento infantil, e até como surgem as dificuldades de aprendizagem tão presentes no ambiente escolar. Todas estas questões devem fundamentar seu pensar e seu fazer pedagógico na organização do planejamento, rotina e avaliação do processo de ensino aprendizagem.

E MAIS…  

Formação docente

A falta de formação adequada dos docentes para tais atividades dentro da rotina escolar, infelizmente, existe. Principalmente na formação dos professores que atuam com os pequeninos, na educação infantil. Vejamos o que diz a lei. No texto legal, art. 29 da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) encontra-se a premissa do desenvolvimento integral das crianças em diferentes aspectos e dentre estes, destaca-se o psicomotor. Depois de mais de uma década de disseminação de seus preceitos legais, constata-se que muitos, ainda, não vivenciam tal fato no cotidiano escolar. Na educação infantil é até comum se verificar, por parte dos professores, uma preocupação com a psicomotricidade infantil, entretanto nem sempre se traduz em um fazer pedagógico. E um dos aspectos que fortalecem esta triste constatação é a falta de formação adequada para os docentes desta etapa. Sobre isso é importante salientar a incapacidade de muitos currículos dos cursos de formação inicial de professores – curso normal e até no nível e superior, especificamente na graduação de Pedagogia -, em oferecer disciplinas voltadas exclusivamente para o estudo e a prática da ciência da Psicomotricidade. Fator que acaba colocando a responsabilidade de uma formação específica, em cursos de formação continuada ou programas de Pós- graduação, nem sempre oferecidos para a massa de docentes em exercício. Mas não é só isso. Alguns não se comprometem com a criança, com o bem estar dela e com o desenvolvimento harmonioso dentro da escola. Para que haja aprendizagem, é preciso que os professores estejam realmente comprometidos com as crianças e com sua infância, fase muito importante para o desenvolvimento e construção do sujeito. Neste contexto, a psicomotricidade se tornou um diferencial, quando realizada com objetivos claros e concretos. Durante as práticas psicomotoras, os alunos revelam as mais diferentes emoções, tendo a oportunidade de criar, expressar-se por meio das brincadeiras, conhecer a si mesmos e as diferentes funções que o corpo pode realizar e mais, podem conhecer o outro, o espaço em que estão e interagir com eles, da melhor forma possível.