Acho muito interessante o quanto se fala em redes sociais e programas de televisão sobre a “nova liberdade” de se relacionar amorosamente. Pela minha amostragem em consultório, a fala e as postagens estão muito diferentes da vida na prática.

Clama-se por solitude e/ou liberdade de se relacionar amorosamente, mas, o que ouço nos relatos, é apego, tristeza, sofrimento e solidão.

Mudança cultural

Acredito que seja coerente, após o texto sobre “Contratos e combinados nos relacionamentos amorosos”, publicado nesta coluna, falarmos sobre os novos formatos de relação afetiva, ou a tentativa de criar e viver novos modelos. Eu sei que todas as mudanças são desafiantes, e as culturas levam muito tempo “batendo-cabeças”, até alcançarem um novo modelo, e começar todo o processo novamente de mudança cultural.

Quem não tem uma história de infidelidade, velada ou não, em sua vida ou em seu histórico familiar?

Sim, algumas pessoas buscam as possibilidades de relacionamento amoroso não monogâmico para fugirem da possibilidade de serem traídas, optando, muitas vezes, por serem solteiras convictas. Outra grande parte começa a pensar no porquê da dificuldade de serem fiéis, e quais a saídas para relações mais saudáveis, no quesito cumprir o contrato assumido entre todas as partes.

Será uma saída?

É notório o aumento de divórcios, separações e novas separações. Entre muitas buscas, uma das saídas encontradas pelos casais monogâmicos, que culpam a rotina e o poder se relacionar com uma única pessoa “para sempre”, são os relacionamentos abertos, o poliamor e o trisal.

Relacionamento Aberto é um tipo de relação onde duas pessoas estão envolvidas numa união assumida, mas estão “abertas” ao envolvimento físico com outras pessoas. Não há combinados de exclusividade, e as duas pessoas concordam que podem se relacionar com outras pessoas, sem que isso seja considerado uma traição ou infidelidade.

Alguns grupos defendem o poliamor, como um modelo de relacionamento não monogâmico, e que possui três características principais: não exclusividade romântica ou sexual a dois, consensualidade e equidade entre todas as partes. Nesse modelo, as pessoas podem se envolver – amorosamente e/ou sexualmente – em relações profundas e estáveis com mais de um parceiro simultaneamente, de forma consensual e transparente.

Relacionar-se de maneira Trisal, é o relacionamento sério e assumido entre três pessoas. O gênero não importa, são três pessoas que fecham um contrato de relacionamento e fidelidade a três.

Tema complexo

Na teoria parece simples, não é? Não, não é simples.  Ouso dizer que 100% dos pacientes que atendo passaram por muito sofrimento, e fizeram muitos sofrerem pelo caminho, para escolherem e assumirem esses modelos não tradicionais de se relacionar.

Outro dado importante sobre esse assunto, e ponto central dessa discussão ou briga interna, está na necessidade e/ou no desejo das pessoas de não se relacionarem com mais de um parceiro simultaneamente, mas desejam que seu parceiro ou parceiros se relacionem apenas consigo. Complexo, não?

É muito comum, muito mesmo, casais monogâmicos, que ousam uma proposta de relacionamento aberto, levarem de boa quando combinam com o parceiro que sairão com outra pessoa. Mas, quando o jogo inverte, e é a vez do outro avisar que sairá com outra pessoa, eles enlouquecem, muitos se separam.

Queremos liberdade para nos relacionar, mas não temos maturidade para saber que nosso parceiro (a), se relaciona com outra pessoa. Nesse caso, a velha maneira da infidelidade de se relacionar prevalece e, claro, sempre recheada de mentiras e justificativas, e quase nada de verdades ou de responsabilidade pelas consequências das escolhas. No fundo, ainda somos seres mimados e imaturos, e queremos tudo à nossa vontade e maneira.

Muitos pesquisadores em comportamento humano levantam a diferença entre fidelidade e lealdade, como base para esse movimento de novos formatos de se relacionar.

Evitar futuros conflitos

Costumo me utilizar de muitos exemplos e fatos para os pacientes assumirem a responsabilidade do autoconhecimento, de fazerem combinados e, o principal, de cumprirem e honrarem seus compromissos com ele mesmo e com os outros, mas o infalível é quando o indivíduo percebe que não estará afetando a si ou ao seu parceiro amoroso, e sim, a seus filhos e aos seus futuros relacionamentos.

Então, não importa a maneira que escolherá se relacionar, busque o autoconhecimento, o processo psicoterapêutico ou terapêutico, para curar as feridas das gerações que vieram antes de você, seus ancestrais, e todos os seus descendentes.

E MAIS…

Fidelidade e lealdade na Constelação Familiar

Para Bert Hellinger, pai da Constelação Familiar Sistêmica, a infidelidade e quebra de contrato de lealdade gera prejuízos incalculáveis, por muitas e muitas gerações.

Para compreender este processo é preciso lembrar que, na ótica das constelações familiares, há três leis sistêmicas que nos conduzem e que, se infringidas, trazem efeitos pesados nas vidas e relações. São elas: lei do pertencimento, lei da ordem e lei do equilíbrio.

A lei do pertencimento diz que ninguém do sistema ao qual pertence pode ser excluído. A lei da ordem ressalta que os que vieram antes têm prioridade e são maiores dos que os chegam depois no sistema. A lei do equilíbrio é a lei das trocas, do dar e receber, nas relações sociais e afetivas.

Todas elas atuam o tempo todo e, apesar da lei do equilíbrio ser a que envolve os relacionamentos, todas podem ser afetadas num processo de infidelidade e deslealdade, ocasionando sofrimento por gerações e gerações.