O mês de agosto termina com um saldo de fortes emoções por conta do fim das Olimpíadas no último dia 08 de agosto e o início das Paralimpíadas no dia 24 de agosto. Esta última com um valor especial para nós que vivemos diariamente os desafios e as vitórias dos PCDs ao longo dos anos. Me incluo nesse grupo, pois sou mãe do adolescente Eros Micael, autista e o motivador de uma grande mudança em sua vida, tanto profissional, como neurocientista e psicanalista, e principalmente, pessoal. 

Contexto histórico

Os Jogos Paralímpicos surgiram de forma mais suscinta em 1960 em Roma (Itália) com 400 inscritos de 23 países, mas o primeiro ocorreu bem antes disso, datado em 28.07.1948 com a modalidade tiro ao alvo.

As deficiências incluídas são: deficiência física de modalidade amputação, cegueira, paralisia cerebral e deficiência mental. Atualmente nos jogos os atletas competem em 27 modalidade e isso já mostra o quanto os Jogos evoluíram ao longo dos anos, o que começou com apenas uma modalidade hoje já são 27.

O Brasil entrou nas Paralimpíadas em 1972 e foi evoluindo.  Em 2008 foi sua primeira participação significativa ficando em nono lugar no ranking de medalhas em um total de 47. Já em 2016 o Brasil sediou as Paralimpíadas no Rio de janeiro e ficou em oitavo lugar no ranking obtendo um total de 72 medalhas, entretanto, houve edições em que o Brasil alcançou mais.

Aquele velho/novo tabu

Essa é uma introdução pequena, mas muito importante para uma compreensão da importância do esporte para a vida da pessoa com PCD. Um avanço merecido e que nos traz um grande orgulho sim, para todos nós que vivemos essa realidade e que muitas vezes temos que enfrentar a ideia popular e errônea de que a pessoa com deficiência não tem capacidades e que ter uma deficiência é não ser realmente proativo e eficiente na vida. Aquele velho/novo tabu.

Os números nos mostram que quando se tem determinação, nada será impedimento para se conquistar o que se quer. Barreiras se rompem, portas se abrem, medalhas reais se conquistam ao longo da vida, seja a pessoa atleta ou qualquer outra profissão que o PCD escolha seguir.

Superação de limites

Nosso país não tem muita fama de investir nos esportes, sabemos disso, mas esse não é o foco principal desse artigo. O que se vê nos atletas paralímpicos é a vontade, a garra de vencer, de superar seus limites, limitações reais no corpo, na mente, na vida social, na vida financeira, na vida como um todo, e mesmo assim eles decidem seguir em frente, decidem superar essas limitações, decidem ir contra os tabus, nadar contra a correnteza e vencer. Mesmo que uma medalha não seja conquistada, a vitória acontece do mesmo jeito! A medalha é pessoal, interna, emocional. A medalha simboliza não se render à limitação, a falta de crédito, a falta de investimento no contexto dos termos do esporte. Os atletas paralímpicos vencem, nós também vencemos.

Muitos atletas paralímpicos chegam a mais uma paralimpíada do outro lado do mundo, Tokio 2020, (que por razão da pandemia de Coronavírus, acontece em 2021).

Mais uma vez os olhos e atenção do mundo vai de encontro a esses atletas, ainda sob muita tensão da pandemia que vivemos, mas que também nos fez olhar mais firme e confiante em um futuro melhor. Esses atletas encontraram no esporte uma nova direção de vida, uma nova fonte de orgulho e de autoestima. Esse retorno tem com certeza um motivador a mais.

Motivação para um legado

Creio que esse novo momento em que vivemos e com os jogos, tanto os Olímpicos quanto os Paralímpicos, começamos novamente a ter dentro de nós a vontade e a certeza de não se deixar vencer pelas adversidades. Os jogos trazem a milhares de pessoas com PCD e para todos a esperança. Vejo o esporte e a superação dos nossos limites como uma fonte de motivação de grande importância.  Imaginem para uma pessoa com deficiência poder ver um igual superando, lutando e vencendo.

Ao longo dessa caminhada, eu já conheci muitas pessoas com deficiência e a dura realidade em que vivem. Vi que muitos pensam e acreditam que não tem mais chance, não há mais direção, que a oportunidade acabou. Isso é mais intensificado porque nossa sociedade ainda vê a pessoa com deficiência como incapaz. O suporte à pessoa com PCD é falho, emocionalmente, politicamente, socialmente, coletivamente. Infelizmente essa é uma dura realidade.

Trazer esse novo olhar, essa oportunidade de vida, de recomeço é um grande legado que os jogos e atletas Paralímpicos, mesmo que sem perceber, trazem para todos que assistem e acompanham suas performances, seja o expectador pessoa com deficiência ou não.

A superação é inspiração e desejo de todos. Nós buscamos dia a dia essa realização, mas também somos muito suscetíveis a duvidar, a colocar barreiras, existentes muitas vezes em nossa cabeça apenas e estancar em nossas decisões essas crenças. Mas quando nos deparamos com o que achamos ser impossível se tornar possível, tudo muda, mesmo que por alguns dias de motivação. O legado que fica é da garra que vai mover a mudança de muitos que acompanharem os jogos, o legado de luta e conquista pessoal, o poder de não se render diante das adversidades e limitações, o esporte tem esse poder. Nós poderemos vivenciar o resultado de cada dia de dedicação dos atletas e claro não podemos esquecer de seus familiares que lutam juntinho.

Na vida somos atletas do dia a dia, vivemos o esporte sem que vivamos somente do esporte. Vibramos com nossas conquistas, sofremos com nossas derrotas, ganhamos medalhas invisíveis todos os dias porque decidimos não nos render a uma deficiência. Somos todos atletas vencendo nossas lutas diárias, dúvidas, medos. Somos todos atletas com ou sem deficiência visível.

E MAIS…

O esporte é o apoio psicológico da pessoa com deficiência

A importância do esporte na vida de uma pessoa pode ser aquele divisor de águas, pode ser aquele recomeço que já se pensava ser impossível, pode ser aquele primeiro passo para a descoberta de um talento que nem se imaginava.

Ele tem um papel muito mais profundo de superação. É o suporte de vida da pessoa com deficiência. Por meio do esporte, o PCD se sente vivo, inserido e valorizado. É um apoio psicológico valioso que muda toda uma vida, ou melhor, várias vidas. E essa mudança não se restringe apenas na pessoa com deficiência. Ela se espalha para a família e para outros que convivem com o PCD.

Os jogos paralímpicos, por meio do simbolismo de todo o esforço e superação de seus atletas, enfatizam a certeza de ser possível. Trazem a esperança de que podemos sonhar mais alto, podemos fazer o impossível acontecer em nossas vidas apenas dando o primeiro passo e acreditando que a limitação imposta não pode nos limitar.