Casais se conhecem rápido demais e logo partem para mudar o status do relacionamento nas redes sociais. Conhecer melhor o parceiro? Ver até onde existe compatibilidade? Saber se está em um relacionamento saudável, se é isso mesmo que se deseja. Essas questões ficam para daqui algumas semanas ou meses. São líquidas as relações de hoje em dia, segundo Bauman. E em um click, torna-se muito fácil conquistar, acabar, excluir, bloquear pessoas como um produto descartável.
A luz da neurobiologia
O fato é que as pessoas possuem muitos “amigos” nas redes socias e continuam solitárias esperando que alguém “curta” o que foi postado. Uma vez assisti duas amigas discutindo e uma delas disse. “Você não curte as coisas que eu posto no Face!”.
Uma explicação a luz da neurobiologia, revela que o cérebro e a mente humana, precisam de determinados estímulos que influenciam a autoestima, autoconfiança e a aceitação num determinado grupo de pessoas. O humano é um “animal social” que precisa intencionalmente de elogios como fator estimulante para ativar o sistema de recompensa emocional.
Nosso cérebro “adora” novidades. Mas, no fim das contas, ele seleciona o que é importante para depois guardar essas informações de verdade. Ou seja, ele trabalha em duas etapas. Acontece que, por conta dessa primeira etapa ser mais prazerosa e frenética, liberando compostos químicos que satisfazem o corpo, sempre queremos involuntariamente nos manter conferindo novidades e acabamos sem tempo para guardarmos o conteúdo na segunda etapa. E essa é a especialidade da internet, produzir informações rápidas e inovadoras.
O efeito Facebook
O efeito Facebook nas estruturas cerebrais e mentais, se dá por meio da estimulação neurobiológica do cérebro da motivação, do desejo, do prazer, dos afetos, e esse está relacionado a produção da ocitocina que é um hormônio produzido e estimulado pelo Hipotálamo, e armazenada na Neuro-hipófise, de onde ela é liberada sob a influência de certos estímulos. A ocitocina é responsável por promover a criação de vínculos, a doação, a socialização. A produção desse hormônio acontece quando se está na presença de bons amigos, nos relacionamentos saudáveis, quando se comemora realizações e conquistas positivas, em situação de confraternização, empatia ou em algo que nos promova prazer, incluindo as redes sociais.
Outras estruturas responsáveis aos estímulos motivacionais que existem no cérebro são denominadas de núcleos da base, esses são constituídos por um conjunto de estruturas no cérebro com diferentes funções e atividades que atuam na ação do prazer e da motivação. Emitem e recebem projeções entre si em conjunto com o córtex cerebral, tálamo e tronco cerebral que são responsáveis por diversas funções como: coordenação motora, comportamentos de rotina, emoções e cognição.
Ações de recompensa
No nosso cérebro, os núcleos accubens promovem ações de recompensa e prazer, pois são responsáveis em receber estímulos, produzir sensações agradáveis devido a produções de substâncias químicas que promovem satisfação e bem estar, estimulando a produção de dopamina.
As redes sociais influenciam nossos sentidos biológicos e estimulam o cérebro humano a continuar “clicado e ligado”. Esse processo acontece devido ao prazer estabelecido na função cerebral como acontece nas probabilidades de sobrevivência, como por exemplo, comer comidas calóricas, dormir bem, aprender habilidades, conseguir apoio social, fazer sexo.
As redes sociais aumentam a motivação e leva alguns indivíduos a repetição dessas práticas e atividades até se sentirem saciados, plenos, satisfeitos. O cérebro atualmente, pode ser estimulado por qualquer atividade ou informação prazerosa, mesmo sem ter a função de sobrevivência, como por exemplo, jogos, músicas, filmes, livros, danças, redes sociais, sendo especialmente superativado por drogas como anfetaminas e heroína.
Evidências científicas
De fato, as redes sociais provocam modificabilidade cerebral, esse fenômeno é incontestável, pois, evidências científicas demonstram que conexões neuronais são estimuladas por determinados fatores neurotróficos que estabelecem novas rotas alternativas nas células neuronais do córtex cerebral.
De 5% a 10% dos usuários de internet são incapazes de controlar a quantidade de tempo que passam on-line. Apesar de ser uma dependência psicológica, estudos mostram que há deficiências cerebrais parecidas com as provocadas por dependências químicas. Regiões do cérebro que controlam as emoções, a atenção e a tomada de decisões são afetadas, porque as redes sociais oferecem respostas imediatas com pouco esforço. E quanto mais respostas imediatas se tem, mais rapidamente quer resolver os problemas, e é o mesmo processo que acontece quando há consumo de drogas.
Prazeres imediatos
As redes sociais também desencadeiam uma liberação de dopamina, o hormônio do bem-estar. Em exames de ressonância magnética, cientistas descobriram que as áreas de bem-estar do cérebro são muito mais ativadas quando as pessoas falam sobre si mesmas ou expressam suas opiniões ao invés de ouvir os outros. Numa conversa face a face com outra pessoa, cerca de 30% a 40% do tempo é destinado a falar sobre nós mesmos. Na internet, o número sobe para 80%.
A neurobiologia explica que as ações cerebrais diante das redes sociais ou a uma simples troca de tweets, em que um amigo curta o status no Facebook pode aumentar os níveis de ocitocina, conhecida como “hormônio do amor” (estimula sentimentos como empatia, generosidade e confiança, e tem altas quando o indivíduo está apaixonado).
As redes sociais, nos levam a acreditar que o cérebro percebe que tanto no Twitter, como no Facebook, por exemplo, é como se estivéssemos interagindo diretamente com pessoas queridas. Sendo assim, o nosso cérebro acaba liberando a ocitocina, que nos provoca um estado de aceitação como viver uma paixão. E por conseguinte aliviando o estresse. Ou seja, navegar nas redes sociais minimiza problemas cardiovasculares, como infartos e derrames. Em outras palavras, é bom para o coração em todos os sentidos. Mas, cuidado, não use isso como pretexto para continuar ligado diretamente nas redes sociais sem culpa.
Conectividade em pauta
Estudos neurocientíficos revelam que o indivíduo quando compartilha informações pessoais na internet, que as regiões do cérebro envolvidas na conectividade é o córtex pré-frontal medial, amigdalas cerebrais e precuneus – regiões do cérebro envolvidas na autorreflexão e em determinados aspetos da consciência emocional.
O importante é encarar a realidade e as emoções presentes nas nossas vidas para evitar exposições excessivas e desnecessárias nas redes sociais. Importante alertar que podemos ter atividade emocional no nosso cérebro de vários aspectos: Proativo, vítima, atento, desligado, observador, desnorteado. Todos nós temos um pouquinho de cada traço, e o que influencia o comportamento humano, são as medidas que tomamos frente às mudanças efetivas em nosso dia a dia.
O jeito que reagimos a uma mudança no trabalho, na família, ao mau humor de um gestor são indícios de como o nosso cérebro opera tais reações emocionais. E esse contexto muda de pessoa para pessoa. O importante é perceber que todos nós temos elementos de cada um desses traços no nosso estilo emocional e que podemos escolher.
Rotas alternativas
Muitas vezes, por ter que decidir entre atitude positiva ou não, podemos ofuscar todo o contexto, precipitando situações não reais. O fato é que, por ficarmos vulneráveis em determinadas situações sociais, e isso manifesta-se com frequência, não estamos condenados a viver engessado em um único estilo emocional, pois o cérebro sofre rotas alternativas em busca de novas conexões neurais, a neuroplasticidade, e modifica- se a partir de experiências de vida e cultura.
O sistema límbico é responsável pelo processamento e controle das emoções no cérebro humano. Constituído pelo, hipotálamo, hipocampo e as amígdalas cerebrais. Juntos, esses componentes trabalham para criar emoções simples e complexas. E eles contam com o sistema nervoso com a função de ajudar as pessoas a expressar e transmitir pensamentos, ideias e sentimentos.
O córtex pré-frontal é a região relacionada a diversos processos cognitivos complexos, como expressão da personalidade, tomada de decisões, moderação de comportamentos socialmente adequados e formação de memórias emocionais. Por isso, essa área cerebral é tão importante para lidarmos com pensamentos conflitantes; definirmos o que é positivo ou negativo e tomarmos boas decisões com base no que imaginamos que será o futuro, ou seja, as escolhas.
O córtex pré-frontal, nos ajuda a atribuir um significado emocional a cada experiência que vivemos, o que facilita muito a tomada de decisão pois, em momentos futuros, esse valor emocional pode ser trazido à tona, nos ajudando a prever se o desfecho de uma situação será positivo ou negativo.
As emoções e os sentimentos fazem parte de nossas vivências e são importantes na solução de problemas, no raciocínio e no funcionamento inteligente, em relação as questões que o ser humano se depara em sua vida, num constante equilíbrio/desequilíbrio em busca de uma homeostasia. O ser humano reage a detecção de um desequilíbrio no processo de vida e, ao perceber este desequilíbrio, procura corrigi-lo, no sentido de adaptar-se, dentro dos limites da biologia humana e do ambiente físico e social. Na verdade, o ser humano quer se sentir querido, produtivo e aceito nas suas relações, sejam elas reais ou virtuais. Mas, todo cuidado é pouco quando o envolvimento emocional fica por conta das redes sociais. Se gostou dê um “like”.