As emoções, segundo o neurocientista português António Damásio, são complexos psicofisiológicos que se caracterizam por súbitas rupturas no equilíbrio afetivo de curta duração, com repercussões consecutivas sobre a integridade da consciência e sobre a atividade funcional de vários órgãos. Enquanto os sentimentos são estados afetivos mais estáveis e duráveis, provavelmente provindos de emoções correlatas que lhe são cronologicamente anteriores.

Desde os tempos antigos, filósofos e pensadores supunham uma separação entre razão e emoção. Platão (428-347 a.C.) via como virtude a troca de todas as paixões, valores individuais e prazeres pelo pensamento, este sendo um valor universal. Descartes (1596-1650), com a sua célebre afirmação “Penso, logo existo”, também sugeria a separação entre emoção e razão, atribuindo ainda superioridade de valor a essa última. Ainda com esta abordagem dicotômica, Kant (1724-1804) diz da impossibilidade do encontro entre razão e felicidade, afirmando que se Deus tivesse criado o homem para ser feliz, não o teria dotado de razão. Kant também julgava as paixões como “enfermidades da alma”.

Por influência desses pensamentos dicotômicos provenientes da filosofia, a psicologia, por muito tempo, estudou os processos cognitivos e afetivos de maneira separada. O biólogo e psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980) foi um dos primeiros nomes a questionar a separação entre cognição e afetividade. Em sua obra “Les relations entre l’inteligence et l’affectivité dans le développement de l’efant”, o estudioso afirma que afetividade e cognição são diferentes em natureza, porém, inseparáveis em todas as ações humanas. Toda ação e pensamento compreendem um aspecto cognitivo, que são as estruturas mentais, e um aspecto afetivo, que serve como uma centelha energética. De forma geral, a afetividade seria, para Piaget, funcional para a inteligência: ela é a fonte de energia pela qual cognição funciona.

Origens do psiquismo

O psicólogo russo Lev Vygotsky (1896-1934) também estudou as relações entre afeto e cognição, afirmando que as emoções fazem parte ativa no funcionamento mental, em geral. Por meio do estudo do desenvolvimento da linguagem (sistema simbólico usado por todos os humanos), Vygotsky estudou as origens do psiquismo humano numa abordagem unificadora entre cognição e afetividade.

Unindo também razão e emoção, o filósofo e psicólogo francês Henri Wallon (1879-1962) tentou compreender as emoções por intermédio de suas funções, dando-lhes papel fundamental na evolução da consciência de si. Para ele, a evolução da afetividade depende das construções realizadas no plano da inteligência; a evolução intelectual depende das construções afetivas. Entretanto, para Wallon, existem fases em que predominam a razão e fases em que predominam a emoção.

Atualmente, a visão mais discutida sobre a relação entre as emoções e a cognição é a de António Damásio. Em seus trabalhos, ele mostra algumas relações entre a biologia do corpo humano e o pensamento.

Dificuldades de aprendizado

Conjugando ideias de Piaget e Vygotsky, Damasio afirma que as emoções e a razão não são elementos completamente dissociados, como propôs Descartes. Até hoje, o senso comum é que a razão é o contrário da emoção. Entretanto, Damasio mostra, em seus trabalhos, que pessoas que possuem alguma deficiência na região do cérebro responsável pelas emoções apresentam dificuldades de aprendizado. Portanto, as emoções são fundamentais no processo de aprendizagem, pois geram sentimentos, atos racionais, e estes são utilizados para a aprendizagem. Assim, as emoções são as iniciadoras do processo de aprendizagem.

Por longo tempo, o componente emocional tem sido descuidado na educação institucionalizada. Contribuições científicas recentes estão ajudando a resolver essa deficiência, revelando a dimensão emocional do aprendizado.

E MAIS…

A regulação das emoções pelo córtex e sistema límbico

Cada emoção responde a diferentes sistemas funcionais. O primeiro é o circuito cerebral que envolve uma estrutura chamada de sistema límbico (também conhecido como “o site das emoções”) e em segundo lugar há as estruturas corticais, principalmente o córtex pré-frontal, que desempenha um papel fundamental na regulação das emoções. A propósito, o córtex pré-frontal amadurece particularmente tarde em seres humanos, concluindo seu desenvolvimento na terceira década de vida.

Isso significa que o amadurecimento do cérebro adolescente dura normalmente mais do que era suposto, o que contribui para explicar certas características do comportamento. O pleno desenvolvimento do córtex pré-frontal e, portanto, a regulação das emoções e a compensação para os excessos do sistema límbico ocorrem relativamente tarde no desenvolvimento individual. As contínuas mudanças tornam impossível separar os componentes psicológicos, emocionais e cognitivas de um comportamento particular.

A força desta interconectividade explica o impacto substancial das emoções na aprendizagem. Se existe uma emoção positiva com a aprendizagem, isso facilita o sucesso dessa atividade, ao passo que se há uma percepção negativa, isso pode resultar no fracasso do aprendizado.