Nesta entrevista, o consultor de empresas Gustavo Medeiros aborda a importância de uma relação harmônica entre trabalho e saúde mental. Formado em administração pela Faculdade Estácio de Florianópolis/SC, ele tem experiência de 18 anos no comércio varejista, passando pelas gestões de marketing, estratégica e comercial. Também é especialista em psicodinâmica do mundo dos negócios, master em programação neurolinguística (PNL), analista comportamental e tem especialização em psicanálise em curso. Atualmente atua mais fortemente nas áreas de consultoria e treinamentos.
Como aconteceu sua aproximação entre a gestão dos negócios e o estudo da mente humana?
Costumo dizer que tenho pós-doutorado há mais de 18 anos pela Fababa, Faculdade da Barriga do Balcão. Minha vida toda empreendi, passando por todos os níveis. E nessa construção, chegou o momento no qual percebi que as coisas não estavam fluindo como eu gostaria. Certo dia, estávamos em uma de nossas lojas, tínhamos faturado muito bem, mas meu pai olhou para mim e disse que não havia dinheiro para pagar a folha. Isso foi um grande marco na minha vida. Foi aí que caíram algumas fichas e entendi que precisava me desenvolver. Decidi, então, buscar conhecimento, fazendo inúmeras formações e imersões voltadas às áreas de gestão e empreendedorismo, mas também voltadas às áreas de psicologia, comportamento e PNL, pois sempre fui e sou um apaixonado por buscar entender os motivos dos comportamentos das pessoas.
Quando comecei a estudar fortemente, percebi que grande parte dos empreendedores tem as mesmas dificuldades que tive no passado. Uma das forças motrizes que me guiam até hoje é poder contribuir para pequenos e médios empreendedores que estão iniciando ou que estão há bastante tempo na caminhada e ainda não têm uma estrutura. Tenho um desejo gigante de conseguir contribuir para essas pessoas, porque não quero que elas passem pelo que passei.
Explique o que é psicodinâmica do mundo dos negócios e sua importância.
Na minha caminhada de desenvolvimento, encontrei essa formação que se chama psicodinâmica do mundo dos negócios. O que é isso? Nós temos padrões de comportamentos, padrões em todos os sentidos, quando somos liderados, quando somos líderes. Isso faz com que tenhamos consciência da forma ou do por que somos o que somos. Mapeando isso conseguimos modificar padrões que nos limitam. O que costumo dizer é que o jogo da vida é simples na verdade. Também digo que nos ensinaram o modelo de vida errado. Mas quem nos ensinou não tem culpa, porque também aprendeu errado. A psicodinâmica faz com que você enxergue movimentos ocultos para que consiga modificar esses padrões.
Fale um pouco sobre como funciona hoje a relação das pessoas com o trabalho?
No que diz respeito ao pilar trabalho, vejo e sinto que, muitas vezes, as pessoas não têm claro o que as estimula. Elas só querem, mas não sabem por que querem. Não entendem quais respostas querem dar ou o que as move. No entanto, quanto mais as pessoas conhecem a si mesmas, mais claro fica o que precisam fazer e de que forma precisam fazer.
O que também me incentiva muito a estudar e a propagar meu conhecimento e a minha fala é a quantidade de pessoas talentosas que desperdiçam seus talentos por não saberem como utilizá-los. Entendendo isso, procurei e encontrei a PNL, a programação neurolinguística. Nós somos um computador. Somos programáveis e fomos programados. Quando entendemos isso, temos a capacidade de tirar os programas que não nos ajudam e colocar programas que queremos para acelerar nossos resultados e atingir nossos objetivos.
E quais as principais consequências à saúde mental de uma relação não saudável com o trabalho?
Tudo o que se faz relacionado à saúde mental vai ter um reflexo gigantesco tanto positivo quanto negativo no nosso trabalho. Entre as principais consequências de não cuidarmos e não termos nossa saúde mental como prioridade, constam baixa na produtividade, dificuldade de gerar os resultados almejados e de atingir o mínimo possível viável de uma empresa para fazer a coisa acontecer.
Oitenta por cento do nosso sucesso relaciona-se ao fato de estarmos blindados emocionalmente. Isso porque, na atualidade, recebemos cada vez mais informações e temos a tendência de fazer comparações erradas, de olhar para o nosso negócio ou para a nossa gestão e achar que nunca está sendo feito da melhor forma. E também temos inúmeras decisões a tomar em milésimos de segundos. Consequentemente, é necessário um equilíbrio emocional, uma blindagem emocional, muito forte.
De que forma essa relação precisa e pode ser melhorada para que as pessoas não adoeçam mentalmente por causa do trabalho?
A fórmula que precisa ser implementada cada vez mais nas empresas, primeiramente, é bater muito forte em treinamento. Em segundo lugar, vem alinhamento. E em terceiro, cuidar para não focar no lugar errado. Treinamento faz com que nos preparemos e entendamos mais o processo, faz com que fique claro também o que precisamos percorrer.
O alinhamento diz respeito à expectativa, pois, muitas vezes, as pessoas não sabem como estão indo ou o que precisam melhorar. Consequentemente, afloram as preocupações psicológicas. Nós não fomos ensinados a olhar as cosias da melhor forma possível. Temos uma tendência de olhar para o lado que falta. Então, quando não existe um alinhamento mais presente, acabamos alucinando e dificultando nosso potencial.
E focarmos no lugar certo nada mais é do que deixarmos de focar no número e focarmos no processo. No processo bem feito: o feijão com arroz bem desenhado e bem executado ganha o jogo. O número é uma consequência. E hoje está acontecendo o contrário. As pessoas se vidram numa meta – aquela meta, aquela meta – e não executam da melhor forma. Quando esses três pilares não estão bem cuidados, há tendência de produzirmos em excesso o hormônio chamado cortisol, o hormônio do estresse. Pessoas mais estressadas adoecem mentalmente e não conseguem gerar os resultados que querem, podem e merecem.
Qual a responsabilidade do trabalhador e do empregador nesse processo?
A responsabilidade, sem sombra de dúvidas, é de ambas as partes. Primeiro, do trabalhador, porque é autorresponsabilidade. Eu preciso cuidar de mim para ter os resultados que quero e para melhorar dentro da empresa e da minha vida. Então o trabalhador tem 100% de responsabilidade nisso, embora muitas vezes ele não saiba o caminho. O empregador também precisa estar presente e aprender sobre isso, porque pessoas mais produtivas, mais leves, com o pé no acelerador, produzem mais. Existe um livro de Tom Peters, chamado ‘Humanismo extremo: o novo padrão de excelência no mundo e nos negócios’, que fala da importância de empresas cada vez mais extremamente humanizadas, começando com uma maior atenção aos colaboradores. Isso porque pessoas com altos níveis de maturidade e de blindagem emocional geram resultados jamais vistos antes.
É possível ser feliz e produtivo no trabalho?
Sem sombra de dúvida, as duas coisas andam juntas. Com felicidade, nos tornamos mais produtivos e vice-versa. Obrigatoriamente, precisamos estar alinhados para sermos felizes e produtivos no trabalho. Ponto importante é fazermos as perguntas certas. Muitas vezes, achamos que felicidade é a todo momento, mas não é assim. Temos situações felizes, momentos felizes. Porém, para gerarmos bons resultados, precisamos estar atentos e saber que haverá decisões e situações que não são as mais cômodas. Fato é que precisamos nos treinar e parar de romantizar muito as coisas. Às vezes, acontecem situações com as quais eu não concordo, logo não estou feliz naquela hora. Mas no trabalho, eu sou feliz.