As novas gerações estão preocupadas com as incertezas na vida profissional. De acordo com levantamento da Goldman Sachs, a inteligência artificial (IA) já pode substituir em torno 300 milhões de ocupações no mundo, um dado que causa apreensão em muitos trabalhadores e iniciantes no mercado. Nesta entrevista, a especialista em neurociências e comportamento Juliana Zellauy, com formação em psicologia positiva e mindfulness, reforça a importância de gerenciar as emoções para atravessar os desafios que se impõem no cotidiano.

Com duas décadas de experiência em consultoria de empresas e desenvolvimento pessoal e corporativo, ela é palestrante, professora e autora do livro ‘Inteligência emocional: da teoria à prática’. A partir de exemplos reais, a obra mostra como a compreensão dos sentimentos individuais e interpessoais podem impactar positivamente na carreira e no dia a dia mesmo entre todos os desafios e novos cenários do mercado.

Qual a importância das emoções na vida das pessoas?

As emoções desempenham um papel crucial na nossa vida, pois são componentes fundamentais da experiência humana. Elas são responsáveis por produzir em nós reações, nos fornecendo pistas sobre o que é importante para nós, nos impelindo a mudar o que está nos prejudicando ou para intensificar ou repetir algo que nos faz bem. Na prática, elas nos ajudam na tomada de decisões, nos guiam em nossas escolhas, além de influenciar a nossa comunicação, conexão social e saúde física e mental. Podem também contribuir para a nossa resiliência e adaptação, além de ter um papel decisivo na nossa motivação e no processo de aprendizagem.

Não existe emoção negativa. Explique essa afirmação.

Todas as emoções têm um propósito adaptativo, têm sua função e são importantes para a nossa autopreservação, para o nosso bem-estar e, em última instância, para a nossa felicidade, independentemente de serem rotuladas como “negativas” ou “positivas”. O que existem são emoções de valência positiva ou negativa, ou seja, emoções pelas quais somos atraídos e emoções que desgostamos e, portanto, procuramos evitar. É claro que, quando em desequilíbrio, muito intensas, regulares e quando interferem negativamente no nosso dia a dia, causando desconforto ou mesmo sofrimento, as emoções podem ser prejudiciais. Todavia, note que isso também pode ocorrer com as emoções positivas. Por exemplo, o humor eufórico, uma alegria intensa, com aumento de energia e do interesse por vários objetivos ao mesmo tempo, pode caracterizar um episódio de mania.

Por que tentar suprimir e evitar emoções é um erro?

Tentar suprimi-las é um erro porque, em primeiro lugar, evitar as emoções não é algo possível, pois elas surgem de maneira automática, sem a nossa interferência. O que podemos fazer é, depois de acontecerem, gerenciarmos as nossas decisões e as atitudes de maneira que nos seja mais favorável. Além disso, quando tentamos eliminá-las, as emoções podem surgir posteriormente de maneira ainda mais intensa, nos fazendo reagir aos eventos de maneira desproporcional à realidade. Isso acontece, pois estão ali para transmitir uma mensagem importante. Quando não as escutamos ou não as interpretamos adequadamente, podem surgir mais fortes até tomarmos uma atitude em relação ao contexto vivido.

Adicionalmente, além do acúmulo emocional, a tentativa de supressão pode causar impactos na saúde mental, como ansiedade, depressão e transtornos relacionados ao estresse; e na nossa saúde física, como aumento da pressão arterial e enfraquecimento do sistema imunológico. Finalmente, a supressão emocional pode gerar grandes dificuldades nos relacionamentos e influenciar negativamente na tomada de decisões.

Assim, o que precisamos é aprender a lidar com a nossa emocionalidade, aprendendo a reconhecer nossas emoções, aceitar e lidar com elas de maneira construtiva, compreendendo-as, bem como identificar suas lições e como colocá-las a nosso favor. Lidar com as emoções de forma saudável e construtiva é fundamental para a saúde emocional e o bem-estar geral. Aceitar nossas emoções como parte normal da experiência humana nos permite crescer emocionalmente e nos conectar melhor com nós mesmos e com os outros.

Como então gerenciá-las? Exemplifique.

Gerenciar as emoções de maneira inteligente envolve reconhecer, entender e responder a elas de maneira saudável e construtiva. Algumas estratégias importantes que podem ajudar no processo de gerenciamento emocional são:

1. Reconhecer as emoções: comece identificando as emoções e nomeando-as. Isso pode ser feito ao parar e se perguntar: “O que estou sentindo neste momento?” Reconhecer a emoção é o primeiro passo para lidar com ela adequadamente.

2. Aceitar as emoções: entenda que todas as emoções são válidas e fazem parte da experiência humana. Não julgue a si mesmo por sentir determinadas emoções. Aceitar suas emoções é fundamental para lidar com elas de maneira construtiva.

3. Realizar práticas meditativas: a atenção plena, ou mindfulness, envolve estar consciente do momento presente sem julgamentos. A prática de mindfulness ajuda a observar as emoções sem reagir impulsivamente a elas.

4. Comunicar as emoções: compartilhe as emoções com alguém de confiança. Expressar sentimentos pode ajudar a aliviar a pressão emocional e também permitir-se ter apoio e compreensão.

5. Praticar autorregulação: é importante aprender técnicas para regular as próprias emoções, como respiração profunda, exercícios físicos prazerosos ou hobbies que proporcionem relaxamento.

6. Trazer racionalidade para a situação: para equilibrar as emoções, é importante desafiar pensamentos negativos ou distorcidos que possam estar intensificando-as, procurando ver a situação de maneira mais objetiva e racional. Caso necessário, peça ajuda de alguém de fora da situação para ajudá-lo a enxergar melhor o que se passa realmente.

7. Aprender com as emoções: busque compreender o que as emoções estão tentando dizer. Elas oferecem insights essenciais a respeito das nossas necessidades e desejos.

Finalmente, o gerenciamento emocional é um processo contínuo e pessoal. Cada pessoa pode responder de maneira diferente às suas emoções, e é essencial encontrar estratégias que funcionem melhor para cada indivíduo.

Como a compreensão das emoções e dos sentimentos individuais e interpessoais pode impactar positivamente na carreira e no dia a dia mesmo entre todos os desafios e novos cenários do mercado?

A compreensão das emoções e dos sentimentos individuais e interpessoais envolve o desenvolvimento da inteligência emocional e pode ter um impacto significativamente positivo na carreira e no dia a dia, especialmente diante dos desafios e novos cenários do mercado. A inteligência emocional é altamente valorizada no ambiente de trabalho, pois permite que as pessoas sejam mais empáticas, se comuniquem melhor, sejam mais resilientes às constantes mudanças e construam relacionamentos interpessoais mais saudáveis.

Além disso, ao compreender suas próprias emoções e ser capaz de identificar as emoções envolvidas em uma situação, o indivíduo pode tomar decisões mais informadas e ponderadas, considerando tanto aspectos racionais quanto emocionais. Adicionalmente, a inteligência emocional pode contribuir de maneira decisiva para a redução do estresse e gestão de conflitos ao entender as emoções dos colegas e as próprias emoções para abordar a questão de forma mais sensível e colaborativa e para uma comunicação mais efetiva.

Já líderes que possuem inteligência emocional são geralmente mais eficazes na motivação e inspiração de suas equipes, sendo mais capazes de se conectar emocionalmente com seus colaboradores, fornecendo um ambiente de trabalho positivo e produtivo. Finalmente, a compreensão das emoções também pode promover a criatividade e a inovação. Ao estar aberto às próprias emoções e à diversidade de perspectivas emocionais de outras pessoas, fica mais fácil encontrar soluções mais criativas em relação aos desafios e às oportunidades do mercado.

Como desenvolver a inteligência emocional?

Diferentemente do QI (quociente de inteligência), o QE (quociente emocional) pode ser desenvolvido em qualquer momento da vida. Assim, como toda habilidade humana, os indivíduos podem desenvolvê-lo por meio do acesso ao conhecimento sobre o tema e da realização de práticas específicas que contribuem para uma maior autoconsciência e autorregulação emocional. Fazer cursos de inteligência emocional, leituras e práticas meditativas voltadas para reconhecer, compreender e gerenciar emoções, tanto em si mesmo quanto nos outros, contribuirá significativamente para uma melhor qualidade de vida e o gerenciamento emocional.

Nesse sentido o livro ‘Inteligência emocional: da teoria à prática’ pode ser um guia importante nessa busca. A obra percorre uma jornada bem estruturada, em que, primeiro, o leitor é convidado a compreender as bases da inteligência emocional. Em seguida, entende como colocar as emoções ditas “negativas” a seu favor; posteriormente, aprende a potencializar as suas emoções positivas e, por fim, descobre como desenvolver novos hábitos baseado nos conhecimentos da neurociência para garantir resultados mais profundos e duradouros.

Além disso, em uma conversa leve permeada por histórias reais, o livro apresenta 30 emoções humanas, quais suas mensagens e como se beneficiar de cada uma delas. Oferece, também, mais de 50 ferramentas, áudios guiados e meditações que ajudam o leitor a colocar em prática os novos conhecimentos adquiridos.