Em se tratando de sentimentos não há, por exemplo, uma mágoa única igual em todos os seres humanos, mas, sim, uma mágoa individualizada em cada um, que irá senti-la segundo a sua história, momento de vida e, ainda, agregada a um grupo de outros sentimentos. Como escrevi em Falando de Sentimentos com Beatriz Breves (2019, p.19): “(…) Como músicos de uma orquestra, os sentimentos estão sempre juntos, prontos para realizar um recital, no qual cada experiência vivida assume o lugar do maestro que irá determinar os sentimentos que serão tocados naquele instante (…)”. Portanto, “falar de sentimentos é reger a sinfonia interna, escutar a própria melodia, orquestrar a história de sua vida” e, assim, a pessoa sendo o seu maestro, sabendo reger o que está sentindo, será capaz de obter harmonia interna.
O domínio pela razão
Para verificar a importância dos sentimentos em nossas vidas, basta observar que quando estamos alegres e satisfeitos, comumente os problemas parecem leves e fáceis de manejar. Em contrapartida, se estamos infelizes e insatisfeitos, tudo parece pesado e difícil. Isto acontece em função da realidade psíquica que, inerente a cada pessoa, muito se vale dos sentimentos para qualificar a realidade externa.
Entretanto, é curioso como o ser humano, ao longo de sua história, não vem dando a devida importância aos sentimentos, considerando fundamental o domínio deles pela razão. Chega mesmo a se inspirar na máquina como ideal, a ponto de considerar evoluído aquele que se apresenta lógico e calculista e não expressa o que sente.
O que talvez o ser humano ainda não tenha percebido é que desqualificando o sentir passa a ter de si mesmo uma concepção robótica, o que formaliza a falta de conexão consigo mesmo. Concepção que ensina, desde a nossa infância, o sentimento, seja de natureza prazerosa ou não, como algo menor, inconcebível de demonstração, devendo então ser reprimido pela razão.
Saúde mental em risco
A questão é que há um detalhe que não foi considerado: o ser humano não consegue domar os seus sentimentos. Um dos resultados é a humanidade se deixando dominar cada vez mais pelo ódio, vingança, poder, etc., sentimentos que provocam mal-estar e elevam a vida individual e coletiva para um índice alto de destrutividade. E é justo este o ponto que coloca em risco a saúde mental e a qualidade de vida das pessoas.
Retornando ao exemplo da mágoa, muito comum ter a sua origem na raiva, um sentimento que quando a pessoa sente costuma brigar, xingar, enfim, agredir alguém como uma tentativa de se livrar do mal-estar interno que a raiva provoca. De fato, essa atitude inicialmente até pode oferecer aparente alívio, mas, gradualmente, a pessoa irá sentir novamente a sua raiva minando e corroendo o seu Eu, evoluindo de forma a agregar sentimentos de angústia, desespero, ódio e, tantos outros, inclusive, de mágoa, tornando mais difícil o manejo da realidade psíquica. Assim, em função da ampliação do sofrimento, o que gera diversos malefícios, a pessoa pode evoluir para diferentes transtornos emocionais.
Ao contrário, se a pessoa for capaz de lidar com a raiva, poderia transformá-la, por exemplo, nos sentimentos de garra, força, perdão e outros, o que resultaria em uma atitude positiva frente à vida, como a de relevar o que poderia culminar em mágoa, promovendo crescimento pessoal, aumento da autoestima, enfim, bem-estar físico e mental.
Lugar de destaque
O ser humano, ao reconhecer que seus sentimentos ocupam um lugar de destaque em sua vida, será capaz de verificar que tanto o seu bem-estar quanto o seu mal-estar pessoal encontram suporte e sustentação nos mais de quinhentos sentimentos existentes e passíveis de agrupamento e transformação. Assim, compreendendo a importância e a complexidade dos sentimentos, no que se refere a saúde mental e qualidade de vida das pessoas, é que a ciência do Sentir vem se construindo, através de uma vertente teórica e outra prática, em um estudo que se aprofunda no Sentir.
A Ciência do Sentir
Resultado de 35 anos de pesquisa, pelo viés transdisciplinar, a Ciência do Sentir emerge da integração entre a Psicologia, Psicanálise, física, biologia e artes
Ao migrar do paradigma de visão de mundo mecânico reducionista para o da complexidade vibracional, compreende a natureza como um complexo vibratório, no qual o ser humano vivência o sentir sentimentos e sensações ao experienciar, enquanto ser da natureza, a vibração que é e as que com ele interage.