A ideia de que a felicidade é um bom investimento remonta a filósofos como Aristóteles, que, em sua ética, defendia que a eudaimonia, frequentemente traduzida como felicidade ou bem-estar, é o fim último de toda ação humana. Ele acreditava que a busca pela virtude e o equilíbrio nas ações levavam ao verdadeiro florescimento humano. No contexto moderno, estudos em psicologia positiva, como os de Martin Seligman, sustentam que a felicidade não só melhora a qualidade de vida, mas também traz benefícios tangíveis para a saúde e a produtividade.
Conforme a médica endocrinologista Jacy Maria Alves, que tem vasta experiência na área de saúde integral, a felicidade vai além de uma simples sensação de prazer, sendo fundamental para o equilíbrio do corpo e da mente. “Não é um estado passageiro, mas um fator crucial para o bom funcionamento do organismo. Está diretamente relacionada ao aumento da produção de hormônios como a serotonina e a dopamina, que contribuem para a nossa sensação de prazer, além de impactar positivamente a nossa saúde física”, explica.
Jacy é especialista em endocrinologia e metabologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Também é mestra em medicina interna focada em diabetes pela UFPR, certificada em medicina do estilo de vida pelo International Board of Lifestyle Medicine (IBLM) e em chief happiness officer pelo Instituto Feliciência (parceria com a Woohoo Partnership), pós-graduada em neurociências e comportamento, professora da MevBrasil – Escola Brasileira de Medicina do Estilo de Vida – e coautora do livro Revolução alimentar: um guia prático para nutrir a sua saúde e transformar a sua vida.
Explique a relação entre felicidade e saúde.
Quando estamos felizes, o corpo experimenta uma série de benefícios. O aumento de neurotransmissores relacionados ao bem-estar tem efeitos diretos sobre a imunidade, o controle do estresse e até mesmo sobre o funcionamento cardiovascular. Essa sensação de bem-estar pode prevenir doenças crônicas e promover um envelhecimento mais saudável. Manter um estado emocional equilibrado pode reduzir o risco de doenças como hipertensão, diabetes e até problemas de saúde mental, como a depressão.
Quando estudamos felicidade, a primeira pergunta que devemos nos fazer é: por quê? Uma resposta plausível – embora simples – seria “porque é bom se sentir bem”. No entanto, podemos ir além. Estudar a ciência da felicidade é importante porque o aumento dos seus níveis, mesmo que em índices baixos (como 3%, 4% ou 5%) nos trazem uma série de benefícios. Entre eles, aumento na criatividade e inovação, importante em um mundo que cada vez mais se utiliza da automatização e das inteligências artificiais. Aumento do engajamento e da motivação. Aumento de performance de forma geral. Aumento nos índices de saúde física e expectativa de vida. Melhora nas relações pessoais e profissionais.
De que forma é possível estimular a felicidade no dia a dia?
Pratique a gratidão diariamente. Reservar alguns minutos do seu dia para agradecer pelas coisas boas que você tem ajuda a aumentar a sensação de felicidade e diminuir o estresse. Exercite-se regularmente. A prática de atividades físicas libera endorfinas, hormônios que aumentam a sensação de bem-estar e reduzem a ansiedade.
Conecte-se com os outros. Relacionamentos saudáveis são essenciais para o bem-estar mental. Manter contato com amigos e familiares fortalece o apoio emocional e estimula a felicidade. Estabeleça metas e comemore as conquistas. O simples ato de traçar objetivos e comemorar suas vitórias, por menores que sejam, contribui para a sensação de realização e satisfação.
Cuide da sua saúde mental. Procurar ajuda quando necessário, seja por meio de terapia, mindfulness (atenção plena), yoga ou outras formas de apoio emocional, é fundamental para manter o equilíbrio psicológico e físico.
Como o estresse crônico pode reduzir a longevidade?
O estresse crônico afeta todo o organismo, aumentando os níveis de cortisol e favorecendo doenças como hipertensão, diabetes e depressão. Inicialmente, a resposta ao estresse envolve a liberação de hormônios como as catecolaminas e o cortisol, que desempenham um papel protetor ao preparar o corpo para situações de luta ou fuga.
No entanto, quando esses hormônios permanecem em níveis elevados por conta do estresse crônico, suas funções se tornam prejudiciais, acelerando a progressão de diversas doenças. Dessa forma, o impacto cumulativo do estresse crônico sobre o organismo não apenas desgasta os sistemas corporais, mas também diminui a capacidade do corpo de se regenerar e se proteger contra novas agressões.
Cada vez mais, governos e outras organizações estão se conscientizando sobre a disseminação desse preocupante problema. Nesse cenário, os profissionais de saúde estão definindo o estresse como o “assassino silencioso”. Nos últimos anos, esse fenômeno tem sido amplamente estudado e algumas descobertas significativas foram feitas.
A principal revelação é que o estresse, em si, não é o problema central. O verdadeiro desafio reside na falta de recuperação adequada. A recuperação não apenas permite que o ser humano reponha suas energias, mas também promove o crescimento e o desenvolvimento, atuando como o gatilho para tornar o sistema mais resiliente e antifrágil.
Como o estresse acelera o envelhecimento?
Estudos mostram que o estresse constante afeta diretamente as células do corpo, reduzindo a produção de antioxidantes naturais e favorecendo a inflamação crônica. Esse processo causa o envelhecimento precoce, comprometendo órgãos vitais e aumentando o risco de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.
A exposição contínua ao estresse também pode comprometer a qualidade do sono, reduzindo a capacidade do organismo de se recuperar e equilibrar os hormônios essenciais para uma vida longa e saudável.
Como combater o estresse e promover a longevidade?
Gerenciar o estresse de maneira eficaz é essencial para assegurar uma vida longa e saudável. Entre as estratégias valiosas para manter os níveis de estresse sob controle, está a prática de atividades físicas regularmente. Exercícios físicos liberam endorfinas, popularmente conhecidas como “hormônios da felicidade”, que são essenciais para o bem-estar.
Melhorar a qualidade do sono: garantir um bom sono ajuda a regular os hormônios do estresse e fortalece o sistema imunológico. Adotar técnicas de relaxamento: práticas como meditação, yoga e exercícios de respiração profunda são eficazes para reduzir a tensão.
Alimentar-se de forma equilibrada: adotar uma dieta majoritariamente composta por alimentos de origem vegetal, ricos em antioxidantes, pode ajudar a mitigar os impactos negativos do estresse no organismo. Buscar apoio emocional: conversas com amigos, familiares ou profissionais de saúde mental podem aliviar o estresse emocional.
Para integrar essas práticas de recuperação no dia a dia, é possível realizar atividades em diferentes níveis. Nível micro: reserve pequenas pausas ao longo do dia para caminhar, tomar um café ou simplesmente respirar, meditar, fazer refeições agradáveis com amigos ou familiares e incluir exercícios aeróbicos na rotina. Nível médio: priorize noites de sono reparadoras e aproveite dias de folga para se desconectar e relaxar. Nível macro: planeje férias de acordo com suas preferências pessoais para proporcionar um descanso mais prolongado e significativo.
Essas práticas, inseridas na rotina diária, contribuem significativamente para melhorar a capacidade de recuperação e, consequentemente, lidar melhor com o estresse. Cuidar da saúde mental é crucial para viver mais e melhor. Pequenas mudanças no dia a dia podem fazer uma grande diferença na sua longevidade.