A pessoa psicoemocional saudável parece ser aquela que é capaz de fazer escolhas difíceis da forma mais tranquila possível. Não a que não tem problemas, mas aquela que simplesmente os enfrenta sem medos maiores do que os necessários.

Sem julgamentos

A conquista de uma boa porção de liberdade e autoconhecimento, embora faça com que a pessoa tenha de arcar com as consequências sociais e muitas vezes familiares das suas escolhas, também produz uma rotina mais significativa, criativa, autêntica e menos sujeita às diversas ditaduras sociais que nos “obrigam” a padrões e valores que, muitas vezes, nada tem a ver conosco. Ser diferente não é ser errado, é somente não ser igual.

Sem julgamentos, mas com a capacidade de ser mais pleno e feliz. A diferença é bem-vinda, pois traz o novo, que é responsável por reciclar e modernizar o atual. Mas nem sempre os portadores do novo são bem-aceitos; essa estranheza ou mesmo rejeição vivida é o preço que sempre “pagou” a vanguarda de qualquer época da história da humanidade. Novamente entra aqui o conceito da pessoa saudável, que é aquela que se estressa em uma intensidade menor com as pressões sofridas por estar e se posicionar fora da média, portanto fora dos padrões normativos e castradores do discurso social vigente.

Conceito de felicidade

A felicidade é subjetiva e individual, portanto o que me faz feliz não fará necessariamente outra pessoa feliz. Contudo, existe uma massificação social reforçada pela mídia e por pessoas pouco profundas nelas mesmas e ainda não conscientes desta diversidade de referências pessoais do que é ser feliz e do que nos faz feliz. E há também toda uma fantasia idealizada sobre a felicidade, parece que é um estado contínuo e perpétuo, linear e sem sobressaltos, enfim, um estado imutável do ser. Bobagem! Ser feliz é um estado de equilíbrio que sofre abalos constantes e que se necessita recuperar e restaurar frequentemente.

Com isso, vivenciamos uma gama de outros sentimentos e emoções, como ansiedade, angústia e tristeza. Isto é o normal e saudável dentro da condição humana de equilíbrio. Caso contrário, seria uma patologia psíquica grave o fato de nada retirar a pessoa de um quadro de alegria, e se nenhum evento desagradável o tocasse e ecoasse no seu emocional de forma a mudar o modo pelo qual atua em sua organização e desenvolve suas atividades.

Idealizar gera sofrimento

Não existe pessoa ideal, existe pessoa real, e sofremos em demasia antes de entendermos isso. Cobramo-nos não ser ou não fazer parte do modelo. Não valorizamos o que somos e temos, valorizamos o que não estamos sendo e muito do que não estamos tendo. A vida não é um bonito comercial de margarina.

A família ideal não é necessariamente a formada por um casal heterossexual, jovem, branco e belo com um casalzinho lindo de filhos sorridentes e obedientes. Não existe família ideal, mas existem sim famílias que se amam apesar das diferenças e adversidades, assim como não existem a melhor comida, a melhor música, o melhor filme. Existe o que eu considero e entendo como melhor dentro de todos esses itens e em outras centenas de aspectos que podemos ter critério de preferência. Neste aprendizado de verdades absolutas que vivenciamos desde o nascimento, geralmente afirmamos que nossas preferências são as corretas e as únicas possíveis. O que isso acarreta? Muito provavelmente, desentendimentos e dificuldades de relacionamento, sejam em que esfera for.

Afinal, se somos tão particulares e subjetivos, qual é o sentido de tentarmos criar um modelo fechado do ideal e da felicidade? Se, por fim, quando percebermos que só podemos ser felizes sendo nós mesmos, descobriremos que a felicidade é muito mais simples do que imaginávamos. Mas, para isso, precisamos nos libertar dos chavões aprendidos e começar a avaliar os nossos próprios sentimentos e necessidades, analisando se o que nos dizem ser fundamental para sermos felizes é essencial para nós.

Capacidade de ressignificar

Ressignificar é um processo interno de atribuir um novo significado a acontecimentos da vida, isto a partir da mudança na percepção de um fato, de algo ou alguém. É uma reorganização do entendimento da (sua) vida ou do mundo.

A ressignificação é um elemento importante no processo evolutivo pessoal, pois propicia um entendimento diferenciado de fatos ou acontecimentos pessoais de modo que a pessoa consiga ver de outros ângulos uma situação vivenciada. Com isso, novas “importâncias” ou novo entendimento do fato é experenciado. O ser humano desenvolve um sistema de crenças pessoais muito precocemente. Elas fazem parte do nosso imaginário e são, na maioria das vezes, inconscientes. São construídas a partir das vivências infantis e da percepção das situações que se viveu.

Lidar com as crenças

Nem sempre são estruturadas da forma mais equilibrada ou saudável, inclusive essas crenças podem dificultar a vida da pessoa em vários aspectos: profissionais, afetivos, financeiros etc.

Algumas crenças pessoais impedem ou dificultam a nossa plenitude e o nosso sucesso em algumas áreas da vida. E o mais complexo é que passamos pela vida procurando ou desenvolvendo situações que venham a confirmar essas crenças. Como, por exemplo, acharmos que não somos merecedores de amor. Então, em última instância, o amor é muito mais uma forma de reconhecer o merecimento próprio, pois não amar o outro é não se amar antes de tudo. A falta do exercício de amar (nos dois sentidos) vem sendo um dos grandes responsáveis pelo processo de adoecimento.

Ressignificar a vida é preciso, pois mais importante do que ter e fazer é como nós enxergamos a realidade. Quem tece uma realidade de merecimento e construtiva pode viver de uma forma muito mais integrada e realizadora. Talvez não haja nada mais fundamental do que a capacidade de ressignificar a vida, já que nem sempre nossas crenças pessoais são tão favoráveis à nossa saúde, realizações e sucesso.

Mas com o autoconhecimento e a ressignificação, que são instrumentos poderosos e libertadores, teremos uma maior capacidade para conseguirmos realizar nossos objetivos, alcançarmos o equilíbrio físico e emocional e experimentarmos a tão desejada felicidade de viver.

E MAIS…

Viver bem é um ato de inteligência emocional e energética

A conscientização sobre a importância de ressignificar a vida, já que essa escolha está em nossas mãos, faz toda a diferença em como lidamos com a vida. Não mudar o que vivemos, mas perceber e aceitar que, independentemente da idade, podemos mudar o significado do que vivemos e também de nossos objetivos em qualquer fase da vida e, até, de nossa existência.

Criei um conceito com base décadas de observação, estudos e trabalho, que, no meu entendimento, é fundamental para alcançarmos um maior equilíbrio: a referência de Qualidade de Vivência Interna (QVI). Por meio deste conceito, é possível entender, refletir e perceber como levamos e lidamos com nossa vida e, quem sabe, atuarmos de forma mais tranquila e construtiva.

A vida (estarmos vivos) é tudo que temos, e muitos não identificam a possibilidade de viver com qualidade emocional. É fato que trilharemos o caminho inevitável de finalizar nosso ciclo, e é sensacional chegar lá com a certeza de que valeu a pena cada respiração e inspiração dada nos múltiplos e distintos momentos vividos em cada fase dessa trajetória.