A teoria das cores é um conceito que estuda as cores sob diferentes perspectivas, analisando desde a maneira como as tonalidades são interpretadas pelo cérebro e como influenciam o observador até as formas de aplicação e utilização em trabalhos de comunicação visual, por exemplo. Compreendendo a classificação, as propriedades físicas e o papel simbólico das cores, é possível aplicá-las com estratégia e em seu máximo potencial segundo a artista plástica e engenheira mecânica Sandra Regina Marchi.
Nascida em Lages, Santa Catarina, ela mora e trabalha em Curitiba, Paraná, onde cursou doutorado em engenharia mecânica e o pós-doutorado em design pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). É mestre em engenharia mecânica também pela UFPR e graduada em artes plásticas pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
Ainda no âmbito acadêmico, Sandra integrou a Rede de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva (RPDTA) e criou o método See Color – A Linguagem Tátil das Cores (patenteado – BR 30 2018 003494 5). É artista plástica e professora de pintura há mais de 25 anos. Atualmente, trabalha e pesquisa nas seguintes áreas: tecnologia assistiva; acessibilidade da informação para pessoas com deficiência visual, linguagem tátil, inclusão, design universal e cor.
Este ano, ela lançou o livro ‘E por falar em cor, um pouco de teoria’, no qual o leitor é convidado a mergulhar na vastidão de funções e sentidos desempenhados pela cor no mundo. Conhecimentos técnicos sobre círculo cromático, harmonia das cores, cores-pigmento e relações entre cor e forma se somam a reflexões sobre psicologia das cores, sinestesia e a importância da cor na vida das pessoas. Das estruturas biológicas responsáveis pela visão das cores ao conceito de sistemas cromáticos, a obra propõe o uso da cor como informação, para além da estética.
Para além da estética, qual o papel das cores na vida das pessoas?
As cores têm significados percebidos universalmente. Cada uma delas carrega um simbolismo e remete a certo sentimento. Logo, a relação entre os humanos e a cor vai muito além do campo estético. A psicologia das cores surge para investigar os efeitos das cores no comportamento humano. Percebemos as cores conscientemente e inconscientemente e as conectamos com diferentes significados e emoções. Porém, as cores influenciam não só na emoção, mas também no humor, no comportamento e no desempenho. Além do mais, a cor tem significados diversos em diferentes culturas que, por extensão, também se aplicam no campo do marketing, do design e da publicidade.
Fale sobre a percepção da cor.
Na relação com o meio ambiente, a captação de informações é tarefa dos sentidos. Boa parte do processamento é desempenhada pelo cérebro. A percepção final é uma ação integrada do sistema nervoso – resultante da interação entre estímulos físicos, anatômicos, fisiológicos e psicológicos. Mas a principal condição para a visão das cores é, simplesmente, uma quantidade suficiente de luz. A luz afeta os receptores sensíveis da retina e, em seguida, gera um sinal para o cérebro. A percepção da cor ocorre de forma complexa no olho, onde exteroceptores de redes retinais e neurais formam imagens visuais no cérebro. Dessa forma, a cor é uma interpretação do mundo na consciência humana que surge das células oculares sensíveis à luz obtida como resultado do processamento de sinais, cones e bastonetes.
Logo, a percepção de cor depende, em muitos aspectos, das características pessoais de cada indivíduo. Não há cor primordial. Tudo deriva da captação de luz, das características biológicas e das referências pessoais de quem observa. É o fato demonstrado pelo psiquiatra suíço Max Lüscher, que teorizou sobre como a escolha da cor reflete estados emocionais e fornece pistas sobre a personalidade das pessoas. São escolhas que se alinham às flutuações psicológicas e fisiológicas de cada indivíduo e aos estados encontrados no sistema endócrino, onde são produzidos os hormônios.
De que forma as cores interferem nas emoções humanas e como é possível utilizá-las para regulação emocional no cotidiano?
As cores são ondas eletromagnéticas que estão, o tempo todo, em interação com o meio ambiente e com os nossos corpos. Como um aparelho de micro-ondas que temos nas nossas cozinhas, as ondas eletromagnéticas das cores funcionam do mesmo modo, penetrando pelos corpos. Dessa forma, a cor do ambiente em que estamos ou mesmo das roupas que usamos interfere no nosso organismo. Assim, ao conhecermos o mecanismo de cada onda de cor, poderemos utilizá-las de forma que nos ajudem no dia a dia, criando ambientes que otimizem nossa produtividade, ou que nos acalmem, ou que nos curem de uma depressão por meio das ressonâncias eletromagnéticas.
Quais cores acalmam e quais cores acirram emoções prejudiciais à saúde mental?
Todas as cores são boas, dependendo apenas da finalidade. Cores quentes (vermelho, laranja e amarelo) acirram as emoções. Cores frias (azul, verde e lilás) acalmam. Para uma pessoa com depressão, por exemplo, precisamos de um ambiente alegre que a anime. Nesse caso, amarelo cumpre essa função. O vermelho é excitante, faz o indivíduo se sentir mais energizado para cumprir tarefas que demandem energia física, movimentação. Já quando se necessita de introspecção para estudos, por exemplo, deve-se escolher ambientes em azul-claro. A cor que nos conecta com a espiritualidade é o lilás. Sendo assim, para ambientes de oração e conexão com o Alto, indica-se o lilás, cor que, portanto, nunca deve ser utilizada na fachada de uma loja. O verde, por sua vez, é o ideal para ambientes que necessitem de higienização, como hospitais, pois não prolifera germes, sendo bactericida.
Ou seja, as cores, muito mais do que apenas para a estética, exercem grande função na saúde e no emocional de todos e, para alguns, também no espiritual. Na medicina, há muitos anos já é utilizado o amarelo para tratar icterícia. Hoje, em salões de beleza, se usa o verde para esterilizar os materiais cortantes. Em alguns ônibus interestaduais, é usada a cor lilás para purificar o ar-condicionado. Navios e aviões são pintados de cores claras para diminuir a temperatura interior. Hitler enlouquecia seus prisioneiros adversários os colocando em celas pintadas inteiramente de vermelho (piso, teto e paredes). Algumas penitenciárias norte-americanas e europeias utilizam cor-de-rosa para acalmar prisioneiros de alta periculosidade. E a cromoterapia utiliza-se das cores para curar há milhares de anos.
Discorra sobre as cores como informação no contexto mercadológico.
Enquanto códigos, as cores conseguem comunicar mensagens com eficiência. A informação visual é percebida de maneira instantânea; chega à consciência antes do reconhecimento da forma, mais rapidamente do que a escrita. Logo, a aplicação da cor precisa ser bem fundamentada e estratégica nos contextos mercadológicos. A cor é usada pelos profissionais de marketing, design ou publicidade para influenciar as pessoas no que elas pensam e como se comportam em relação a uma marca e, ainda, de como interpretam qualquer informação. Afinal, como as cores podem atrair a atenção de um cliente potencial, podem, também, dificultar a obtenção das informações necessárias. A escolha das cores pode ajudar as pessoas a decidirem o que é importante.