Já há algum tempo estudos têm sido feitos sobre as influências benéficas do exercício físico em uma enorme gama de situações. Estudos sobre benefícios fisiológicos diversos, sobre melhoria da qualidade de vida, em especial na terceira idade e, mais recentemente, sobre melhores condições de saúde e resistência ao Covid-19.

Porém, há uma área de estudos acerca da relação com o exercício físico que têm ganhado destaque nos últimos anos: a cognição.

Comprovação em estudos

Há estudos que correlacionam diversos parâmetros que envolvem atividade física e melhorias cognitivas.

Vamos tentar identificar alguns deles.

Melhoria do Fluxo Sanguíneo Cerebral – Merege Filho et al (2014), Antunes et al (2006) e Bertin (2016) relatam o aumento significativo do fluxo sanguíneo cerebral em decorrência do exercício físico como um dos mecanismos que provavelmente favorecem o aumento do desempenho cognitivo.

Intensidade do Exercício Físico – A intensidade do exercício físico parece exercer um efeito de “U” invertido em relação a benefícios cognitivos. Em outras palavras, quanto maior a intensidade, menor ou nulo tais benefícios, segundo Merege Filho et al (2014) e Antunes et al (2006). Por outro lado, a intensidade moderada estaria diretamente ligada a benefícios cognitivos.

Ativação Cerebral – não somente várias faixas de ativação cerebral têm maior ativação em indivíduos fisicamente ativos em relação a sedentários, mas também várias áreas ligadas à cognição são mais ativadas em jovens fisicamente ativos (MEREGE FILHO et al, 2014).

Neurogênese e Neuroplasticidade – Merege Filho et al (2014) relatam que o exercício crônico está associado ao aumento da capilarização cerebral, neurogênese e aumento das sinapses cerebrais, em especial devido a dois fatores hormonais: Insuline Growth Factor I (IGF-I) e Vascular Endothelial Growth Factor (VEGF), que estão relacionadas, em última análise, à melhoras na aprendizagem, memória e atenção. Antunes et al (2006) indicam que o Brain-Derived Neurotrophic Factor (BNDF) também seria um fator de manutenção da função cerebral e aumento da plasticidade neuronal. Bertin (2016) reforça a melhoria na memória e atenção, e também cita o BNDF e o IGF-I como mecanismos de melhoria no desempenho cognitivo.

Menor Incidência de Doença Mental – pessoas moderadamente ativas têm menor incidência de doenças mentais do que sedentárias (ANTUNES et al, 2006). Além disso, em indivíduos com doença mental, o exercício físico aumenta o desempenho físico, cognitivo e predispõe a melhoras no comportamento, conforme também evidencia Bertin (2016). Silva (2018) relata melhorias de déficits cognitivos em função de atividade física em pacientes com esquizofrenia, o que pode ser potencializado com a combinação de exercício físico com treino cognitivo. Glisoi, Silva e Galduróz (2018) relatam melhora ou, no mínimo, manutenção das funções cognitivas e motoras em pacientes com Alzheimer, embora não haja consenso em relação a tipos de exercícios, duração e intensidade do treinamento.

Menor Incidência de Distúrbios do Sono – pessoas fisicamente ativas têm menor incidência de distúrbios do sono do que as sedentárias (ANTUNES et al, 2006).

Melhoria do Desempenho Cognitivo na Educação Infantil – Bertin (2016) relata uma relação direta entre aptidão aeróbica e níveis elevados de cognição, e enfatiza que baixa aptidão aeróbica e baixo nível de atividade física “estão agregadas às quedas no desempenho escolar, nas habilidades cognitivas, além de prejudicar a estrutura e função cerebrais” (p. 17).

Melhorias do Desenvolvimento Cognitivo em Idosos – a melhoria da capacidade aeróbia parece estar relacionada à melhoria de parâmetros cognitivos em idosos, entre eles, atenção, memória e velocidade de processamento, além de melhoria do humor, em especial pelo aumento dos neurotransmissores, pela neurogênese e neuroplasticidade, e pelas melhorias cognitivas em geral (ANTUNES et al, 2006; BERTIN, 2016). Biehl-Printes et al (2016) relatam melhoras na independência funcional e na vitalidade cognitiva como consequência da prática de variados tipos de exercícios físicos e seus parâmetros quantitativos (intensidade, duração e frequência).

Condições neurológicas

Embora seja claro para quem estuda a relação entre Exercício Físico e Cognição, que há estudos que não relatam melhorias cognitivas em consequência da prática de exercícios físicos ou da atividade física, também não há estudos que relatem piora cognitiva ou de desempenho acadêmico, com exceção daqueles em que a exaustão, a fadiga ou o estresse estão presentes como decorrência da prática de exercícios físicos.

Isto coloca o exercício físico como um elemento importante para a melhoria do desempenho cognitivo em geral, trazendo à tona a importância da formação do profissional de Educação Física, em especial a formação continuada em nível de pós-graduação, que habilite este profissional a realizar intervenções seguras e pautadas cientificamente nos variados casos de seu campo de atuação, desde a educação infantil à atuação com idosos, passando pela atuação nos pacientes com doenças mentais, distúrbios do sono e demais condições neurológicas.

E MAIS…

Dia do Profissional de Educação Física

Neste Dia do Profissional de Educação Física, fica nosso parabéns a todos aqueles que contribuíram e contribuem para que esta profissão, que se reafirmou como de vital importância na área da saúde, em especial a partir das pesquisas sobre menor grau de comorbidade e mortalidade de indivíduos ativos fisicamente versus sedentários, na questão do Covid-19.

Feliz Dia do Profissional de Educação Física!

Referências:
ANTUNES, Hanna K.M.; SANTOS, Ruth F.; CASSILHAS, Ricardo; SANTOS, Ronaldo V.T.; BUENO, Orlando F.A.; MELLO, Marco Túlio de. Exercício físico e função cognitiva: uma revisão. Rev Bras Med Esporte –  Vol. 12, Nº 2 – Mar/Abr, 2006.
BIEHL-PRINTES, Clarisse; COSTA, Armando; SOUSA, Paulo Malico de; PINHEIRO, Valter; TERRA, Nilton. Prática de Exercício Físico e Função Cognitivo-Motora: Uma Orientação Global no Controle dos Efeitos do Envelhecimento. Estudo de Revisão. REDAF: Revista de Desporto e Actividade Física. Volume 8, n.º 1, pp. 37-54, 2016.
BERTIN, Maísa de Almeida. A influência da atividade física no desempenho de aprendizagem. Trabalho de conclusão de curso (licenciatura – Pedagogia) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro. Rio Claro (SP), 2016.
GLISOI, Soraia Fernandes das Neves; SILVA, Thays Martins Vital da; GALDURÓZ, Ruth Ferreira Santos. Efeito do exercício físico nas funções cognitivas e motoras de idosos com doença de Alzheimer: uma revisão. Rev Soc Bras Clin Med. abr-jun;16(3):184-9, 2018.
MEREGE FILHO, Carlos Alberto Abujabra; ALVES, Christiano Robles Rodrigues; SEPÚLVEDA, Carlos Andrés; COSTA, André dos Santos; LANCHA JUNIOR, Antônio Herbert; GUALANO, Bruno. Influência do Exercício Físico na Cognição: uma atualização sobre mecanismos fisiológicos. Rev Bras Med Esporte – Vol. 20, No 3 – Mai/Jun, 2014.
SILVA, Edilene Aparecida Moreira. Benefícios da atividade física sobre a cognição em pacientes com esquizofrenia [manuscrito]. Projeto de trabalho de conclusão de curso. Curso de Especialização em Neurociências do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte (MG), 2018.