Antes de mais nada, devemos saber que TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado por dificuldades de interação social, comunicação e comportamentos repetitivos e restritos e que, apesar dessas características, cada indivíduo tem sua especificidade, singularidade e é único.

Autismo na escola

Ao partir desse pressuposto, e entrando no cenário do autismo na escola, faço o alerta da necessidade de conhecer o aluno, a sua história, fazer um estudo de caso, conversar com os responsáveis e, se possível, ter informações da equipe multidisciplinar que acompanha a criança. É fundamental seguir um trabalho colaborativo entre escola, família e equipe multidisciplinar, para então traçar as possibilidades de atendimento remoto. Estudo feito, conhecendo o aluno e as suas potencialidades, se pode traçar um plano para ele, sempre reavaliando os objetivos propostos e as abordagens utilizadas.

Acolhimento remoto

A Pandemia desestabilizou o mundo e afetou, psicologicamente a sociedade. As crianças com TEA também estão inseridos nesse contexto de desafios e mais do que os neurotípicos, eles foram afetados em suas rotinas tão importantes para o seu desenvolvimento. De repente, tudo parou. A escola, antes um espaço de convivência social, fechou, as terapias foram suspensas e o convívio com o mundo paralisou.

E ainda temos que levar em conta situações preocupantes neste momento, como a difícil tarefa de lidar com o luto. Em meio à pandemia, não é raro encontrar alunos com TEA que perderam entes queridos e pode ter sido a primeira experiência com o cenário da morte. Deve–se ter sensibilidade nesse processo e no retorno de qualquer atividade de desenvolvimento, que não deve ser abrupto e nem exigir além do que cada indivíduo pode oferecer. Cada um tem uma história de vida. Não é por acaso que somos chamados de indivíduos – somos individuais, singulares, únicos em nossa essência e os alunos com TEA muito mais que os neurotípicos. No retorno, é necessário respeitar as singularidades e a sua história de vida.

Desafios ao retorno presencial  

Considere a importância e necessidade do estudo de cada aluno, respeitando as suas especificidades e enfatizando as potencialidades individuais. É preciso ouvir a família e, muito mais do que antes, ter uma escuta sensível e junto a ela traçar os objetivos para o retorno às aulas presenciais desse público.

Pode ser que, para alguns, seja necessária uma readaptação ao ambiente e, para outros, nem seja preciso, pois a saudade daquele espaço acolhedor findou; propiciando o retorno das atividades com os pares.

É preciso respeitar os tempos de cada um, ter um ambiente divertido e agradável, não esquecer das recomendações sanitárias e de segurança. Porém, os alunos com TEA, em sua maioria, não conseguem utilizar a máscara, têm dificuldades para se adaptar às novas exigências do ambiente que, por vezes, pode ocasionar frustração, ansiedade, irritabilidade e agressividade. Como lidar com os protocolos de segurança contra a Covid–19 exigidos para o retorno das aulas presenciais? É possível ter flexibilização do uso da máscara nos alunos com TEA? Esse é um ponto muito polêmico a ser discutido.

Atividades específicas

Os alunos com TEA, independente da pandemia, necessitam de flexibilizações pedagógicas, inclusive de um Plano de Ensino Individualizado que levem em conta as suas especificidades; dentre elas, as comportamentais, clínicas, sociais, adaptativas e de linguagem. Sendo assim, é necessário elencar as potencialidades e as necessidades reais do aluno com TEA para que possamos estipular as estratégias de trabalho.

A escola deve articular com a sua equipe, o professor do Atendimento Educacional Especializado, família e equipe multidisciplinar que acompanha o aluno, experiências do dia a dia que proporcionem somar as aprendizagens já adquiridas e que o aluno com TEA possa agrega-las. A vivência e a experimentação no ambiente escolar são de suma importância, pois é a partir da relação com o outro que o indivíduo construirá as suas aprendizagens. A escola deve propiciar e permitir momentos e condições para o desenvolvimento. Entretanto, aproveitando a campanha do Abril Azul e que o autismo se coloca mais em pauta e os debates podem contribuir para mudanças significativas no atendimento a esse público, convido o leitor a uma reflexão: se a readaptação ao ensino presencial está desafiador para os alunos neurotípicos, imagine para crianças que apresentam transtornos e tantas particularidades. O mesmo acontece com o ensino virtual dedicado a esse público. Com certeza teremos que contabilizar anos de atraso no desenvolvimento dessas crianças, e a recuperação, se ela acontecer, se dará a longo prazo.

E MAIS…

Orientações para o aprendizado direcionado aos alunos com TEA

Algumas dicas podem ser valiosas ao se estabelecer estratégias de trabalho remoto destinado a esse público:

  1. Sempre organizar a rotina, estipular horários fixos, buscando não mudar a rotina anterior, organizar o ambiente em seu lar, ter sempre as atividades realizadas no mesmo ambiente, com poucos estímulos visuais para que não desregulem a criança com TEA;
  2. Flexibilizar as atividades, adequando-as ao nível das habilidades que a criança possui;
  3. Começar com o tempo mínimo que a criança tem de atenção, aumentando aos poucos;
  4. Utilizar exemplos visuais, como, por exemplo, criar um quadro de rotina, com imagens. Sempre que possível, utilizar imagens reais;
  5. Manter as atividades consistentes, estruturadas e previsíveis o quanto possível, trará conforto e tranquilidade no ambiente remoto;
  6. Contemplar, nas atividades, a área de interesse pessoal do aluno;
  7. Usar sempre estratégias de ensino baseadas no concreto;
  8. Não focar na quantidade e, sim, na qualidade;
  9. Comunicar a estrutura da atividade com instruções curtas;
  10.  Trabalhar com comunicação alternativa;
  11.  Ter um kit sensorial para possibilitar ao aluno autorregular-se;
  12.  Fazer a mediação por vídeo aula.

Para ensinar, deve-se respeitar a história, as características particulares do indivíduo com TEA.