A Ludoterapia estimula a autodescoberta, a autoaceitação, a elevação da autoestima, o entendimento de que a responsabilidade pelas escolhas é do cliente e das consequências destas escolhas também, possibilitando a evolução e o desenvolvimento, saindo da condição de vítima para a condição de autor de sua própria história.

A família também participa do processo, sendo auxiliada e evoluindo junto com o cliente. Para isso, o papel do terapeuta é de suma importância.

Os materiais

Os materiais (brinquedos) da caixa lúdica devem ser pequenos para que a criança possa manusear com facilidade, mas não tão pequenos que ponha em risco a vida da criança. Deve-se utilizar materiais estruturados (brinquedos, miniaturas) e materiais não-estruturados (que possibilitam a criação). Deve-se ter cuidado para que os brinquedos sejam miniaturas da realidade e não um jacaré cor-de-rosa, por exemplo. Pois este tipo de animal não existe na realidade e se a criança já apresenta problemas psicológicos, pode entrar em conflito ao manusear este material.

Os materiais recomendados para uma cultura urbana brasileira são:

Materiais estruturados: família de bonecos; família de animais selvagens e domésticos; casinha com quarto, cozinha, sala e banheiro; posto de gasolina; carros e caminhões ou caminhão-cegonha ou cegonheiro; bola; armas de brinquedo; soldados em campo de guerra ou policiais; índios; equipamentos de cozinha, de enfermagem ou ferramentas; telefone; aeroporto; porto com barquinhos.

Materiais não-estruturados: lápis preto; caixa de lápis coloridos; borracha; guaches coloridos com pelo menos cinco cores (azul, preto, amarelo, branco e vermelho); um pincel nº 06 e outro nº 12; apontador; cola e fita adesiva; tesoura; massa de modelar; barbante; papeis laminados coloridos; papel sulfite; papel espelho colorido; blocos de madeira colorido; brinquedos de construção: ligue-ligue, monta-tudo ou de outros tipos de encaixe; panos e bacia com água. (AFFONSO, 2012, p. 72)                

Reflexão e Interpretação

Reflexão e interpretação são técnicas diferentes. O brincar simboliza os sentimentos e as emoções do cliente e quando o terapeuta tenta traduzir o seu comportamento simbólico nesses mesmos sentimentos ou emoções, está interpretanto, dizendo aquilo que considera que o cliente está expressando nas suas ações.

Entretanto, às vezes, interpretar é necessário, pois  fará o cliente produzir um insight, mas apenas quando existe uma certeza e sempre incluindo o símbolo que o cliente utilizou.

Quando utilizada de forma inapropriada, a interpretação pode gerar ansiedade e desconforto no cliente, por não estar preparado para a integrar, quebrando o processo simbólico.

A reflexão é a repetição do que foi dito pelo cliente, reforçando a compreensão do que ele transmitiu, clarificando-a. A reflexão refere-se também a devolver ao cliente o que ele comunicou através de sua linguagem não-verbal, como se estivéssemos colocando legendas no seu brincar. Através da reflexão, o cliente avança em seu processo de desenvolvimento biopsicossocial.

Seus significados

Uma família de bonecos – representam as relações familiares.

Animais domésticos – associados á parte domesticada da personalidade do indivíduo.

Animais selvagens –  relacionam-se à parte instintiva da personalidade do indivíduo.

Lápis, pincéis e tudo que for pontudo – têm significação fálica.

Bacias, cestas, panelinhas e materiais côncavos –   significam o corpo feminino.

Casa (cozinha) – nesta área podem surgir  questões associadas à relação mãe/filho ou como a família se alimenta.

Casa (sala) – representam as relações sociais do indivíduo.

Casa (quarto) – podem surgir conteúdos associados à sexualidade e a relação homem/mulher.

Casa (banheiro) – relacionados a conteúdos da fase anal.

Caminhão-cegonha – associa-se ao nascimento, por transportar carros, relaciona-se à mãe.

Bola – pode representar a substituição do útero ou do corpo feminino. No futebol, pode se tornar um símbolo fálico, quando a bola entra no gol.

Fogão – associado à energia psíquica (ligado à transformação).

Lego – ligados aos conteúdos da fase edípica. Utilizado também para verificar a capacidade de estabelecer relações.

Telefone – querer contato com o outro.

Mar e água – podem significar o mergulho no inconsciente.

Barquinho – representa o contato com a realidade e o ego.

Borracha – ligada à reparação.

Tesoura – ajuda na elaboração da simbiose. A colagem ajuda na elaboração deste processo. Ajuda a elaborar ou manifestar a agressividade.

Barbante – pode ser utilizado para unir. Pode estar ligado à identificação, de diferenciação do Eu.

Cola e fita adesiva– associadas à união, reparação.

Folhas coloridas – relacionadas ao afeto.

Encaminhamentos

As crianças são encaminhadas pelos adultos para fazer a Ludoterapia. Geralmente, as escolas ou os pais têm alguma queixa das crianças, já que elas apresentam algum problema ou distúrbios psicológico, ou problemas de aprendizagem. Tudo isso é sinal de que algo não vai bem na vida do pequeno. Os sintomas que fazem com que os pais busquem a Ludoterapia são: dificuldades de aprendizagem, transtornos, síndromes, insônia seguida por pesadelos, gagueira, agressividade, insegurança, timidez em excesso e até mesmo desvios alimentares.

Todos esses sintomas são o alerta de que algo não vai bem na vida da criança, e como nem todas conseguem se expressar direito ou tem medo de fazê-lo, os pais os encaminharão ao profissional que indicará a Ludoterapia e, assim, o especialista, por meio de brincadeiras e jogos, pode descobrir o que há de errado na vida da criança.

Muitas pessoas ficam em dúvidas se está no momento certo para esse trabalho ou se é apenas um fato passageiro que o tempo resolve. Nem sempre essa é a conduta mais correta. Vejamos, por exemplo, o caso de professores que, ao lidar com alunos que estão apresentando comportamento inadequado em sala de aula, ou mesmo crianças que apresentam qualquer dificuldade de aprendizagem, ficassem esperando que o problema se resolvesse por si só. Teríamos, isto sim, uma camada de adolescentes que foram arrastados em seu processo de aprendizagem, porque não foram assistidos em tempo hábil, a fim de terem recebido ajuda no momento oportuno.

E MAIS…

A Caixa de Areia no processo terapêutico

A caixa de areia é um material não estruturado, é uma técnica Junguiana (Carl Jung), que foi desenvolvida como método terapêutico por Dora Kalff a partir do “ Jogo do Mundo”, de Margaret Lowenfeld, em 1935. Dora Kalff reconheceu que as séries de cenários elaboradas pelos clientes representam a confrontação contínua e prática com o inconsciente. A brincadeira com a areia liberta dos tabus de limpeza demasiado rígidos e precoces. Uma caixa de areia é ideal para a representação de cenários e de brincadeiras, além da areia ser um excelente mediador da agressividade, podendo-se enterrar, cavar, desenterrar, matar e renascer. E excelente para elaborar as perdas, as raivas.

Quem brinca na caixa de areia, seja adulto, seja criança, cria várias imagens tridimensionais na areia, envolvendo-se nesse processo com corpo, alma e espírito. Esta técnica é utilizada como método de avaliação projetiva e como método terapêutico.

Para se trabalhar com a caixa de areia precisa-se de uma caixa de madeira com fundo azul, medindo: 72 cm x 50 cm x 7,5 cm e miniaturas de heróis, dragões, bruxas, animais domésticos, selvagens, meios de transporte, seres humanos, plantas, família, figuras que possam representar a realidade do indivíduo.

É importante ressaltar que, para se trabalhar com caixa de areia, o terapeuta precisa conhecer a teoria de Jung e alguns de seus conceitos muito relevantes, como: inconsciente coletivo, arquétipos, símbolos, processo de individuação, entre outros.