Tornou-se ponto comum comentar que o mundo mudou! Tornou-se obrigatório constatar que a Educação sofreu com a revolução tecnológica que alterou a comunicação e a aprendizagem, consequentemente. O grande golpe, além de tudo isso, foi a mudança nos hábitos de vida, provocados por uma pandemia inesperada e devastadora. As conquistas para que as escolas acolhessem todas as crianças, sem exceção, perderam o sentido quando a regra passou a ser: permanecer em casa!
Nesses tempos atípicos, o que aconteceu com o Professor, que sempre foi comemorado com arroubos de reconhecimento, em outubro, quando o dia do Mestre paralisa as aulas para prestar um merecido tributo ao trabalho árduo, artesanal, e sem dimensão possível para representar o seu papel em nossa sociedade?
Competição imaginada
Será que o professor se tornará supérfluo, como tantas profissões que perderam espaço? Críticos chegam a profetizar que as máquinas farão melhor o seu trabalho, porque não têm limites de horários, não se cansam e não sofrem, ganhando terreno na competição imaginada.
A aprendizagem é o resultado de um processo de interação entre estruturas mentais e o meio ambiente, construindo, dessa forma o conhecimento que provoca mudanças no comportamento e no desenvolvimento, continuamente. Estudos em Neurociências trouxeram novas contribuições à compreensão dos processos cognitivos, que ocorrem a partir das relações humanas e envolvem a mediação do professor, queiram ou não, os críticos de escolas tradicionais, porque em questão de interação e afetividade o professor “tira de letra” o lugar da máquina no mercado.
Entretanto, as crescentes exigências no campo da docência, que clamam por produtividade e qualidade no ensino, aliadas à necessidade de aperfeiçoamento e atualização do professor, imprimem ao panorama educacional forte exposição do professor ao estresse, cujos sintomas se inserem na sombra de doenças mentais recorrentes, nos tempos atuais.
Potencializar talentos
Talvez, muitas pessoas não avaliem a batalha diária do professor para vencer tarefas que se acumulam em sua vivência profissional e pessoal. Ao professor cabe a brilhante missão de potencializar talentos, de dedicar-se a colaborar na construção de cada ser, que sendo único, não cabe em receitas prontas, exige o olhar que compreende, o sorriso que entusiasma, mesmo que tudo ocorra num ritmo desenfreado do mundo que o cerca. O custo saí caro, porque atinge a saúde física e mental.
O estresse pode resultar em maior ou menor acometimento psicológico, físico ou social, conforme as reações individuais do organismo à pressão ambiental. O aumento da ansiedade no trabalho docente pode repercutir em sintomas de exaustão e de falta de realização, trazendo sentimentos de incompetência, característicos da síndrome de Burnout, que é o estresse ao nível de esgotamento no trabalho.
Algumas vezes, parece que tudo isso pode ser pretexto para justificar o afastamento do professor ao trabalho, porém, a realidade não se mostra assim.
Estresse psicológico
Segundo pesquisa realizada (VALLE, 2011), entre os fatores predominantes que estressam os professores estão a dupla jornada de trabalho, a multiplicidade de tarefas, o salário e as dificuldades com que precisam lidar com os alunos nas relações família-escola. Os dados revelaram que 59% dos professores investigados apresentaram estresse, a maioria na fase de resistência (39%) e com prevalência do estresse psicológico. Além disso, indicaram que 46,7% dos professores são maus dormidores, evidenciando associação entre os sintomas físicos e psicológicos de estresse e o sono (VALLE, 2011).
O magistério é uma das categorias de trabalho de maior vulnerabilidade em relação ao estresse. É preciso integrar os efeitos positivos do trabalho, que conciliem variáveis como satisfação, o prazer, a felicidade, a motivação e outros.
A compreensão do fenômeno do enfrentamento do estresse (coping) pode auxiliar na condução de planejamentos estratégicos em favor do profissional da Educação. Analisar estratégias de coping utilizadas por professores, foi alvo de estudo com o objetivo de compreender, cientificamente, o comportamento do professor diante de fatores de estresse acentuado, a ponto de interferir no ritmo diário de sono e vigília. O sono do professor, reflete suas dificuldades emocionais, que acontecem no aparato neuropsicológico humano que reage aos estímulos estressores, que não podem ser evitados no dia a dia. O estresse é um fenômeno que ocorre na busca do organismo por adaptação. O organismo, ao receber um estímulo, desencadeia uma resposta que pode ser uma preparação para fuga ou reação de enfrentamento ao estresse.
Reação ao estresse
A reação do estresse decorre da ativação de uma série de eventos, iniciando na estrutura do Sistema Nervoso Central (SNC), interagindo com Sistema Nervoso Autônomo (SNA) e Sistema Límbico, desencadeando uma cadeia de reações e com ativação do eixo hipotálamo-hipófise, liberando o hormônio adreno-corticotrópico (ACTH) na corrente sanguínea, estimulando as glândulas supra-adrenais, que vão produzir, principalmente, a adrenalina e os corticosteroides, levando o indivíduo ao estado de alerta, pronto para lutar ou fugir, uma manifestação instintiva. A liberação hormonal no sangue se faz sentir em todo o organismo, no entanto, irão se diferenciar de acordo com a interpretação e o significado atribuído ao agente estressor ou ao evento ou da vulnerabilidade de cada um.
Situações que liberam cortisol, aumentam a vaso constrição nas funções do organismo, provocando tensão. É possível, por exemplo, diminuir essa produção de cortisol com ações simples, como com a prática de exercícios físicos que fortalecem o sistema imunológico, baixando o nível de cortisol. Essas orientações, no entanto, não estão na agenda do professor, especialmente em tempos de “lockdown”.
Entre outros neurotransmissores das atividades metabólicas, a oxitocina, também abaixa o nível de cortisol e a estimulação de sua produção se faz com a prática de empatia pelo outro, afetividade nos relacionamentos. Assim também, a endorfina funciona como um anestésico interno (endo=interno; morfina=anestésico), que diminui a sensibilidade às dores, causadas pela ansiedade e sua produção fisiológica pode ser promovida através de lembranças boas, de planos positivos e do riso. Incluir ações divertidas, trabalhadas em grupo, sem o estresse da competição ou do resultado é algo a ser pensado.
Gaba é um calmante natural, relaxa desacelera e é conseguido pelo relaxamento de meditação, assim como acontece com a serotonina, o neurotransmissor da alegria, do bom humor, da capacidade de sonhar, que vem se perdendo em intermináveis rotinas automáticas.
Conexões neuronais
A atuação do professor envolve a realização subjetiva do profissional e o fortalecimento da humanização. O que marca o poder do professor na comparação com computadores que divertem e informam?
No processo de desenvolvimento humano, a construção do conhecimento vai sendo acompanhada por alterações nas conexões neuronais. Os neurônios começam a se especializar relativamente aos transmissores sinápticos a fim de que se estabeleça um maior número de conexões, com gigantesco crescimento de axônios e dendritos, que atuam em complexas manifestações do comportamento humano, como linguagem, raciocínio, metáfora, operações lógicas, planificações levando em conta passado longínquo e futuro distante, abstração, consciência, enfim.
Competências, então, são esquemas mentais de caráter cognitivo, sócio afetivo ou psicomotor, que, mobilizadas e associadas a saberes teóricos ou a experiências, geram um “saber fazer”. Paradigmas foram derrubados pela tecnologia, mas o professor continua a ser o responsável pela função de compreender o aluno, os seus colegas, os seus pais, enfim, a sociedade inteira! Não se trata de repassar conhecimentos para a cabeça do aluno: a partir da compreensão do funcionamento da memória, entende-se que “aprender” é mais do que reter na memória recente os conhecimentos que podem ser acessados a qualquer tempo.
A reflexão é um processo intencional de elaboração pelo qual nos tornamos mais conscientes de como nos sentimos e agimos frente às diferentes situações vivenciadas cotidianamente. Assim, o conceito remete à relação com o outro e com o mundo, orientando para a melhor percepção de si. Tudo isso, é alheio à vivência de uma máquina, que pode ser uma grande aliada, sem jamais ofuscar o poder do Mestre.
O desenvolvimento de competências
Nesta perspectiva, ensinar altera o modo de pensar, agir e sentir do aluno e incide também sobre a vida do sujeito que ensina e que aprende. As competências que prevalecem levam em conta os fatores como intuição, criatividade, emoção, sentimento, afetividade e também cidadania, liderança e participação.
Educar é capacitar o indivíduo para a liberdade que é construída na interação com os outros e com o mundo, orientada por ideais. É o caráter singular da criatividade profissional que a dedicação do professor exerce.
O cenário de reflexão se configura como pilar do desenvolvimento profissional, sendo por meio dela que o conhecimento é elaborado e apropriado. O termo, oriundo do latim, significa redirecionar um fluxo de energia. O sentido da palavra reflexão está intimamente ligado às concepções de produção de conhecimento associadas às experiências práticas. Sendo um processo simultaneamente lógico e psicológico, combina a racionalidade da lógica investigativa com a irracionalidade inerente à intuição e a paixão do sujeito pensante.