Para melhor entender o que é o Neurofeedback, precisamos começar explicando alguns pontos importantes sobre o cérebro. A comunicação interneural é feita através de descargas elétricas, que podem ser amplificadas e diferenciadas entre si através de um EEG, Eletroencefalograma.

Com este exame, e a partir de várias experiências sobre o potencial elétrico durante a atividade cerebral, chegou-se a identificação de 2 tipos de ondas cerebrais: ondas Alfa e ondas Beta. As ondas Alfa são regulares, largas e estão presentes em fases do ciclo do sono. As ondas Beta, são mais irregulares que as ondas Alfa e são associadas com o pensamento ativo, ocupado ou ansioso e concentração.

A influência da meditação

Algum tempo depois, foram encontradas as ondas Delta observadas durante sono profundo e as ondas Teta observadas em crianças pequenas ou em pessoas que faziam meditação. Atualmente conhecemos também as ondas Gama, Kapa, Lambda, Mi e ainda as ondas fusiformes do sono e os complexos K, sendo menos estudadas.

Desta forma o NF (Neurofeedback), pode ser definido como um treino que modula a atividade cerebral, alguns indivíduos por exemplo podem, através de treinos específicos, produzir mais ondas Alfa, pois os doentes (as quais podemos entender como pessoas que tem convulsões, epilepsias, TDAH, privação do sono dentre outros transtornos), são ensinados a perceber os seus padrões cerebrais e a modulá-los, por via de reforço positivo da atividade cerebral pretendida, de maneira a melhorar sua parte clínica e por consequência a sua qualidade de vida.

O tratamento por NF se inicia com a medição da atividade cerebral do indivíduo, geralmente por EEG, pois é um exame de baixo custo e de fácil realização, mas também é possível fazer por RMF ou PET. Por EEG, são colocados eletrodos na cabeça do indivíduo (em diferentes posições), para que seja medida a atividade cerebral.

Os protocolos são realizados através de estímulos visuais ou auditivos, como por exemplo, jogos (treinos) de computador, vídeos ou músicas que funcionam como vias de informações para o mapeamento feito por EEG. Após sabermos sobre o padrão cerebral da pessoa doente, aplicam-se o protocolo adequado de tratamento que podem ser utilizados para a reabilitação, onde poderá ser feito um trabalho para aumentar ou diminuir frequência ou amplitude de determinada onda ou ainda estabilizar ou reduzir a atividade de outras ondas.

Existem treinos específicos para determinadas ondas, como, Teta/Beta, aquelas que podem fazer com que o indivíduo fique atento e alerta ou relaxado, mas volto a dizer, isto somente será visto no EEG e analisado qual o melhor protocolo de treinamento deverá ser aplicado.

Eficácia comprovada pela Ciência

Há várias décadas que se tem realizado estudos sobre a aplicação do NF ao tratamento de várias condições como TDAH, doenças como Epilepsia, Convulsão, Distúrbios do sono, entre outras situações, mas vamos abordar aqui os indivíduos com distúrbios da aprendizagem.

Em todos estes casos citados acima, em vários estudos foram evidenciados resultados positivos, sendo considerados de moderadas a grandes melhoras, levando-se em conta, que os indivíduos avaliados eram desatentos, hiperativos, impulsivos, ou seja, dentro de grupos relacionados a distúrbios da aprendizagem.

Parceria com a TCC

Em 2007, foi pesquisada por estudiosos, a eficácia do NF através da sua comparação com a terapia cognitivo-comportamental, que é um tratamento baseado na utilização de recompensas para “premiar” comportamentos positivos e evitar condutas inadequadas.

Em muitos grupos de crianças foi obtido um resultado favorável ao NF comparando-se aos benefícios da TCC (terapia cognitivo-comportamental), sendo tratadas com ou sem medicação em paralelo. Este resultado foi de acordo com a observação de pais e professores, para os indicadores de atenção e metacognição.

No entanto, é importante destacar, que não estamos aqui anulando ou dizendo que não há eficácia na TCC nem em medicações muitas vezes necessárias a alguns casos, e também não estamos descartando as avaliações neuropsicológicas, (pois não foram citadas), estamos mostrando que existem recursos que podem ser realizados em paralelo para que assim, se tenha resultados mais rápidos em certos casos. Mas precisamos ressaltar que os treinos precisam ser realizados com total disciplina e em alguns casos, duas vezes por semana, ou seja, 8 vezes ao mês.

Estamos falando sobre o treino continuado com estratégias de autocontrole aprendidas durante as sessões de NF. Este ‘logo prazo’ citado, pode durar de 6 meses a 2 anos, ou seja, com a continuidade em casa após o tratamento, é possível ver evoluções ainda. Enfim, o NF é uma técnica de estimulação cognitiva não invasiva, segura, sem efeito colateral e com boa tolerância não se tendo verificado, até o momento, em nenhum caso, qualquer queixa. Todas as pessoas que usaram este treino, negaram problemas de sono, tiques, problema de pele, cefaleias, dores gástricas, irritabilidade, perda de apetite, convulsões, náuseas ou sensação de agitação.

Como funciona o NF na prática?

Coloca-se um aparelho (Neurosky), encaixado na cabeça do indivíduo centralizado na testa e preso ao lóbulo da orelha e, em paralelo no computador colocamos o treino que é um jogo específico para aquele paciente, onde ele deverá seguir as ordens do treino e assim, sem manusear nada, nenhum tipo de mouse, teclado ou manete, ele consegue atingir ao que se pede e assim, vai treinando para reabilitar as funções as quais tem necessidade. No caso do TDAH com foco impulsivo, usando-se apenas atenção. E ainda é possível usar o aparelho de EEG para estes treinos, mas é necessário um curso específico para manuseio do mesmo.

E MAIS…

Tratamento sem medicação

Há evidências de que em alguns grupos de doentes, o treino com NF, é eficaz a ponto de se excluir o uso de medicações sim, mas porquê? Simplesmente porque algumas pessoas têm mais facilidade em conseguir ter controle sobre a atividade elétrica cerebral através do tratamento com NF em comparação a outras pessoas. E com isto, há indivíduos que irão se beneficiar mais do que outros com este tratamento.

As pesquisas que apontam as evoluções dos casos, levam os estudiosos a tentarem descobrir protocolos muitas vezes específicos para cada caso, como por exemplo, um treino para TDAH misto/combinado, um protocolo para TDAH com foco impulsivo e um para TDAH com foco atencional. Isto para que cada indivíduo possa ter maior sucesso potencial, pois existe uma variação muitas vezes específica da atividade cerebral em que mostram as ondas.

Existem alguns pontos a serem trabalhados em casa pelos pais das crianças com situações de dificuldades escolares que fazem ou fizeram tratamento com NF, que mesmo após o tratamento terminar, é possível dar continuidade em casa e perceber a evolução, que pode acontecer a longo prazo.