Sabemos que a construção de nossa trajetória é permeada de situações de equilíbrio e de desequilíbrio (tanto no biológico, psicológico, social quanto no ecológico, energético e espiritual).

A Psicossomática tem uma máxima que é: Se não for pelo amor será pela dor. E a partir dela, algumas questões se fazem necessárias neste momento. Por que deixamos a dor acontecer e se instalar para tomarmos

uma atitude na vida? Por que não conseguimos estar atentos aos nossos sinais para que eles não se tornem doenças? O que há de embutido nesta situação tão frequente de não se observar e respeitar? Por quê? Para quê? (sempre voltam às questões).

A cultura da culpa

Na tentativa de respostas, destacamos que a cultura religiosa tem forte influência sobre a forma e as representações de um povo. Nossa história de formação religiosa tem como saga a cultura judaico-cristão-protestante. Embora essas orientações religiosas apresentem aspectos estruturais distintos, com dogmas particulares e, por vezes, até antagônicos a uma outra religião, encontramos em todas elas o culto da culpa e do sofrimento.

Muitas interpretações religiosas dos fatos têm este cunho embutido nos discursos e, muitas vezes, até são expressos claramente com expressões típicas, tais como: “A dor purifica”; “O sofrimento é merecimento”; “Sou culpado por estar passando tal fato”; “Sou merecedor desta provação”. Essas são algumas das falas e/ou dos sentimentos encontrados na população diante de uma situação de dor (seja ela em que instância for).

Este processo cultural religioso é tão forte que é reproduzido sem que as pessoas tenham consciência que estão repetindo o fato. O processo preventivo de cuidar-se é visto como algo exagerado e fútil. Quando assumimos nosso cuidado pessoal geralmente é pela dor, já que não temos o hábito de observar nosso corpo e, também, “ouvir” suas queixas.

A nossa existência

Quais são os nossos objetivos de vida? Acredito ser de extrema importância termos alguns objetivos e quanto mais objetivos melhores, porque senão estaremos apenas existindo, sobrevivendo.

É comum usamos o termo “crescer” para indicar evolução em vários aspectos do nosso ser, geralmente esses aspectos são subjetivos, tais como: energético, emocional, psicológico e até espiritual, mas existe uma tendência em nossa cultura, por influências religiosas, de associar a dor como forma de evolução.

A dor com certeza faz sofrer, mas não significa crescer de forma alguma. Na sociedade em que vivemos, é associado como se fosse uma verdade. Isso é contra o que a Psicossomática acredita e entende como verdade. Ela considera ser necessária a energia de vida, viver a vida tendo – ou procurando ter – o equilíbrio e a plenitude biopsicossocial-energético-ecológico-espiritual.

Poderíamos ter sido educados com a crença de que viver é ter plenitude, que deveríamos ouvir e cuidar muito de seu único bem verdadeiro, o único que está presente desde o momento do nosso nascimento até nossa morte: nosso corpo. Teríamos aprendido a sermos mais leves, mais plenos e a viver a vida melhor, cuidando mais (de forma correta e saudável) do nosso corpo.

O meu desejo e esperança é que esse movimento de conscientização de vivermos nossa plenitude, que identifico claramente, já começa a nascer nas novas gerações, mas que precisa de muito incentivo para se fortalecer como hábito, passe a ser um “perfil” de várias e sucessivas gerações, para que nossa Qualidade de Vida incluindo nossa Qualidade de Vivência Interna sejam objetivos alcançados por grande parte da população.

Comportamento estrutural

Podemos dizer que a estrutura de nossa vida é baseada no comportamento adotado durante toda a trajetória. O estilo, os padrões de relacionamento, os sentimentos e pensamentos gerados possuem toda a influência em nosso ciclo da vida e no processo de adoecer.

O estilo de viver é influenciado por hábitos alimentares, lazer, trabalho, preocupações, relacionamentos familiares, social, profissional, afetividade, emotividade, crenças, medos e religião.

O estilo de adoecer acompanha o estilo de ser, pois cada um de nós tem uma maneira própria de adoecer. Este estilo é que determina a postura pessoal diante da doença.

A força da reação

Nossa felicidade depende 20% daquilo que nos acontece realmente e 80% do que fazemos com isso, ou seja, como reagimos. Dependendo de nossa reação, podemos ampliar dezenas de vezes o impacto de algo que nos ocorre, ou fazer com que o impacto perca toda ou quase toda a importância.

As frustrações acontecem quando as nossas expectativas não são preenchidas, mas o impacto disso depende de crenças e do significado que damos às coisas.

Quando ainda acreditarmos em sorte e azar, ficamos a reclamar de tudo e a envenenar nossa mente com pensamentos negativos, e esse comportamento tem, evidentemente, um efeito na vida, já que pensamento é uma forma de energia e a energia respeita as leis de causa e efeito. Assim, podemos dar um novo significado às coisas que nos acontecem, de maneira que isso nos faça bem, nos ajude a aprender algo ou nos permita nos reestruturarmos para uma vida melhor.

As histórias e metáforas nos ajudam a mudar nossa percepção das coisas, pois atingem a estrutura profunda de nossa consciência. A forma como usamos as palavras faz muita diferença na maneira como elas impactam nosso sistema de crenças, que sabemos, direciona a percepção em um sentido positivo ou em um sentido negativo, conectando-nos com o prazer, com uma noção de sentido das coisas, ou com uma visão pessimista e sofrida.

Não é preciso muito esforço para perceber como isso influencia os acontecimentos de nossa vida. Diversas formas de ressignificação e mudança de percepção são usadas em diferentes técnicas terapêuticas.

O tratamento terapêutico

Essas técnicas terapêuticas podem fazer toda a diferença em um tratamento clínico. A terapia é uma ferramenta muito valiosa não apenas na compreensão de como lidar com uma dificuldade ou um processo de adoecimento, seja ele físico ou psíquico. O setting terapêutico é, acima de tudo, a busca pelo autoconhecimento e, em consequência disso, a melhora da qualidade de vida como um todo.

O que acontece, em geral, é que o paciente é levado ao consultório pela dor, mais uma vez reage pela dor e deposita nessa busca pelo tratamento terapêutico “respostas rápidas” e “cura instantânea”. Porém, o que o paciente deseja nem sempre é aquilo de que ele precisa. Raramente ele tem a consciência da integração de si próprio como leitura de vida. O que precisa mudar é a visão curativa e nunca preventiva que normalmente temos. Assim, a vida ganha outro significado, bem como a doença e até a morte.

O adoecer é lento e gradual, embora geralmente não tenhamos consciência disso, e engloba muitos passos: tensão emocional, distúrbio funcional, ou alteração humoral, alteração celular, distúrbio celular ou doença.

A resistência à terapia

O processo psicoterápico é algo longitudinal, isto é, um período de tempo na vida da pessoa que ela se dedica a um encontro marcado com ela mesma – as sessões psicoterapêuticas – visando a uma melhor qualidade de vida vivenciada internamente. Esse é um momento importante da terapia, que é quando ela se torna realmente efetiva na mudança de atitudes e modo de vida.

Entretanto, nem sempre este quarto momento da terapia é alcançado nos processos psicoterápicos, pois a evasão é comum e, geralmente, acontece na ocasião em que os pacientes não suportam olhar para si mesmos.

Temos muitas fantasias a nosso respeito e, quando são negativas, geram receios de encontrarmos o que nos desagrada em nós mesmos. Essas fantasias geralmente já são indícios da construção de aspectos psicodinâmicos conflitivos, se não identificados e trabalhados a tempo, podem também serem fatores de ruptura com o processo psicoterápico.

Tipos de terapias

Todas as linhas teóricas que tenham o inconsciente como elemento integrante e determinante da organização psíquica podem estar agregando ao seu conhecimento e construtos teóricos uma visão psicossomática. E por que essa premissa pode ser colocada?

Porque, só a partir do entendimento da psicodinâmica do inconsciente e dos mecanismos psíquicos utilizados para sua manifestação (sonhos, atos falhos e, também, as psicossomatizações) é possível compreender o processo do adoecer que começa na tensão emocional e termina na patologia física, bem como a hierarquização horizontal (energia psíquica conflitiva que se transforma em energia física conflitiva – a doença), que entre outros processos inconscientes já citados no decorrer do livro, são as bases para a pessoa desenvolver as psicossomatizações.

Como linhas teóricas que fornecem estrutura e base para processos psicoterapêuticos, podem incluir os seguintes núcleos: Analíticas (Freud, Jung, Klein etc.), Humanistas, Transpessoais, Holísticas, Existencialistas, Fenomenológicas, só para citar as linhas teóricas mais encontradas em nossa sociedade.

Trabalho importante

O trabalho terapêutico é fundamental para a equilibração do indivíduo que já apresenta um processo de psicossomatização.

A leitura psicossomática pode ser utilizada por todos os profissionais que atuam com o equilíbrio pessoal: médicos; psicólogos; fisioterapeutas; dentistas; nutricionistas; fonoaudiólogos; terapeutas holísticos; acupunturistas; homeopatas; fitoterapeutas; ortomoleculares e inúmeros outros não citados aqui, mas de suma importância.

É importante relacionar-se melhor consigo e com os outros e se permitir amar mais. O coração adora quem ama, ele pulsa melhor, oxigenando mais e propiciando mais vida. O ódio, o ressentimento e a inveja são venenos terríveis, destroem as células e diminuem a vida.

Está provado que os sentimentos positivos aceleram e potencializam os processos biológicos e mentais e equilibram as pessoas. Ressignificar é poder viver uma nova vida sem desqualificar ou ignorar os fatos vividos.


E MAIS…

Momentos da terapia

1º. MOMENTO: EMERGÊNCIA: Suporte e Orientação Trabalha-se com a queixa inicial. O motivo que fez com que a pessoa se interessasse ou sentisse necessidade de fazer a terapia.

Na maioria das vezes, a queixa é bem consciente e sentida como emergencial. Não é possível generalizar, porém é pela dor que o processo psicoterápico se faz presente na vida das pessoas.

2º MOMENTO: REORGANIZAÇÃO: Identificação de aspectos geradores dos conflitos e da “sombra” (lado frágil, não aceito e rejeitado pelo próprio paciente, necessariamente não negativo).

Identificação da relação entre os sintomas físicos apresentados e os conflitos vivenciados.

Identificação da capacidade (ou não) do paciente em: reconhecer, assumir e demonstrar seus aspectos emocionais (hierarquia das emoções – “nobres/feias”, “boas/ruins”).

Identificação da personalidade e suas tendências: 1. Com base na Ansiedade – angústia (Ansiosa / Fóbica /Histérica etc.)

2. Com base na Depressão – angústia (Masoquista / Paranoide / Distímica etc.)

3º MOMENTO: PERCEPÇÃO E MUDANÇA DE PARADGMAS: Início do tratamento com o objetivo de o paciente se perceber como protagonista de suas queixas e no controle para mudar seus paradigmas e comportamentos. Fase de amplitude da percepção e da consciência da participação da pessoa em seu histórico de vida. O outro deixa de ser o centro de “acusações e culpa” dos dissabores e dificuldades pessoais, para a conscientização da responsabilidade da pessoa sobre sua vida.

4º MOMENTO: DESENVOLVIMENTO PESSOAL: Fase de intenso autoconhecimento em que muito do que foi apontado e interpretado passa a ser utilizado na prática diária pelo paciente na forma de ações, atitudes e posturas. É o crescimento pessoal e a ressignificação da sua história de vida, visando ao equilíbrio psicossocial e à integração do ser no seu momento atual de vida.