A técnica de Constelação Familiar Sistêmica tem ganhado notoriedade em diversas áreas. Na Psicologia, integra o self terapêutico no tratamento de uma vasta gama de questões, no Direito é usada na mediação de conflitos, entre outras atividades.  

Seu conceito parte de uma premissa básica: de que não somos apenas uma estrela sozinha no universo, fazemos parte de uma constelação, temos raízes, laços, emaranhamentos e trazemos no nosso DNA informações de nossos ancestrais, mesmo daqueles que nem sabemos que existiram.

Quando nascemos, herdamos muitas coisas dos nossos antepassados, não apenas bens materiais, mas características físicas como: cor dos olhos, formato do nariz, do corpo e também doenças que podem vir geneticamente. Herdamos também sistema de crenças, comportamentos, sofrimentos, memórias, traumas e estratégias de sobrevivência. Essas heranças invisíveis atuam como programações que direcionam nossas vidas e nossas relações. Podemos receber influência direta de acontecimentos vividos no passado por algum membro de nossa família e, esse tipo de herança, pode explicar dificuldades em relacionamentos, problemas no trabalho e até mesmo doenças sem cura.

A árvore genealógica

A ancestralidade é um tema muito recorrente na prática das Constelações, afinal, um fruto nunca cai longe da árvore. É importante salientar que esse trabalho tem uma abordagem atemporal, não consideramos passado, presente ou futuro, eles interagem no mesmo campo de informações, tudo numa mesma imagem.

Na prática clínica, observamos o quanto as informações que trazemos dos nossos descendentes impactam na vida atual, muitas vezes de forma inconsciente. Por exemplo, uma pessoa com compulsão alimentar, pode ter essa vontade excessiva por lealdade a um antepassado que passou fome, ou porque todos da família tem sobrepeso e ela não pode ser diferente para não contrariar o sistema. Ou uma pessoa muito dura e exigente, pode não ter recebido o carinho do pai, e precisou criar uma personalidade mais firme para superar essa falta.

Os casais são frequentemente afetados pelo vínculo com a família de origem, afinal, cada um vem de um sistema que tem suas crenças, seus emaranhamentos, seu modo de pensar, agir e se comunicar. O casal forma um terceiro sistema, e é muito importante que nessa união, ambos consigam se despedir de seus pais, com gratidão e reverência, saindo do papel de dependentes e assumindo o papel de adultos independentes, tanto financeiramente, quanto emocionalmente. Mas na prática o que vemos são mães e pais não liberando os filhos para a vida adulta, casais lutando para manter seus costumes familiares, impondo ao parceiro suas vontades e desejos, se tornando a filhinha do papai e o filhinho da mamãe. Normalmente, quando atendemos um casal, um dos sistemas aparece com mais emaranhamentos do que o outro, que pode representar um antepassado excluído, um trauma na linhagem feminina ou masculina, abortos, a filha que não conseguiu tomar a força da mãe, enfim, cada sistema tem a sua peculiaridade.

O campo sistêmico

Em um dos meus atendimentos em Constelação Familiar, recebi um casal que relatava dificuldade no relacionamento, muitas brigas, falta de carinho e frigidez da mulher. Os dois estavam dispostos a olhar para sua história e identificar o emaranhamento. Utilizei a técnica com os bonecos, onde cada um escolhe um representante para si e sente as emoções trazidas do campo. Durante a sessão, a esposa se mostrava muito triste, com vontade de chorar, e dizia que seu olhar era puxado para o chão. Foi então que por intuição coloquei um bebê no campo, e ela começou a chorar copiosamente. Relatou que antes de conhecer o marido, provocou um aborto de seu primeiro namorado, pois ficou com medo dos familiares, por ser muito nova e também estava começando a vida, não achou justo interromper os estudos para criar a criança. Ela nunca havia mencionado essa história a ninguém e a reação do marido foi abraça-la, dizer que estava tudo bem e que ela não tinha culpa. Foi suficiente para que ela tomasse força e parasse de se culpar. Na verdade, ela viveu com essa culpa por anos, com a sensação de enganar o marido, se punia, achando que não podia sentir prazer. Ela entrou em contato com essa criança que não pôde nascer, a incluiu no sistema, tirou um peso que carregava há anos, conectou-se novamente ao marido e pode, pela primeira vez, ser transparente na relação, sem segredos.

Esse movimento gerou harmonia no campo, trazendo inclusão e entendimento entre o casal. Ele obteve compreensão do porque sua esposa era frígida, aceitou a história exatamente como ela foi e puderam levar uma vida mais leve e feliz.

Resiliência e ressignificação

A dor também é um tema muito constante nos atendimentos. O fato é que ninguém gosta de sentir dor, ninguém gosta de olhar para a dor, e quando ela aparece no sistema, o mais fácil é fingir que ela não está lá, ou simplesmente ignorá-la, maquiá-la e esquecê-la. Mas isso vai causando tristeza, depressão, compulsões, vícios e conflitos. A Constelação Familiar consegue olhar com amor para essas histórias e proporcionar ao cliente uma reconfiguração neste sistema, colocando ordem de hierarquia, pertencimento e equilíbrio entre o dar e receber.

Imagine a história de um cliente em pauta: seu avô morava na Itália e após a guerra, com a falta de emprego e recursos ele se vê obrigado a migrar para outro país, deixando seus pais, amigos, cultura, amores, tudo para traz e empreender uma nova vida, em um país diferente, sem ter mais nenhum contato com seus familiares. Imagine o impacto emocional! Essa pessoa teve que ser forte, olhar para frente, e talvez ela nunca tenha entrado em contato com essa dor da saudade, de abandonar a pátria amada, de estar sozinho em um lugar totalmente desconhecido, de trabalhar seus medos e inseguranças gerados pela nova vida.

É muito comum essa pessoa ter o sentimento de desertor, traidor e viver com o peso dessa mágoa. Os filhos podem sentir o peso dessa história, vendo o sofrimento do pai e carregando essa mágoa para suas vidas. E como um efeito dominó, também passarem esse peso para os seus filhos, gerando uma corrente de tristeza. Até que nasce um buscador, alguém capaz de dar uma basta neste sofrimento, que consegue acessar essa história, entregar o que não é dele e seguir apenas com o que lhe cabe. Na Constelação isso é possível, pois acessamos o campo morfogenético, o campo de informações de todo esse sistema e colocar ordem onde antes havia emaranhamentos. Esse avô entra em contato com a energia da Itália, reverencia toda ancestralidade, toma força de aprovação da sua terra e pode olhar com amor para sua história.

Benefícios duradouros e efetivos

Após a Constelação Familiar, o cliente que vivencia essa técnica, começará uma reforma íntima e continuará processando tudo o que sentiu, e, com o tempo, poderá perceber mudanças nos membros do sistema trabalhado, mesmo que eles não tenham conhecimento do trabalho realizado, podem estar distantes e mesmo assim serão beneficiados com a ressonância mórfica. Claro que o cliente também tem que fazer a sua parte, modificando padrões de pensamentos e agindo de forma diferente.

Algumas pessoas apresentam sintomas físicos como: dores no corpo, sonolência, dor de cabeça, sintomas de gripe, mas esses sintomas cessam após serem processados com um boa noite de sono.

É importante que o cliente não tome nenhuma decisão por impulso, dando um tempo de acomodação para essas novas informações, lembrando que os efeitos do trabalho podem fluir em dias, meses ou até anos.

A Constelação Familiar age com um profundo respeito a toda história de vida do cliente e do seu sistema familiar, sem julgamentos sobre o que seja certo ou errado, bom ou mau, apenas mostra a verdade e aquilo que precisa ser visto, aceito e compreendido para que a mudança seja de dentro para fora.

E MAIS…

A origem da abordagem

O nome original deste trabalho desenvolvido pelo alemão Bert Hellinger é Familienaufstellung e significa “colocação familiar”. Porém o verbo “stellen” em alemão foi traduzido ao inglês como “constellate”, ou seja, posicionar certos elementos numa dada configuração. Como o primeiro livro traduzido ao português veio do inglês e não do original em alemão, foi então traduzido como “constelações familiares”.