“Olhe para dentro, para as suas profundezas, aprenda primeiro a se conhecer”, disse Freud, o cientista considerado o pai da Psicologia. A necessidade de conhecer a si mesmo para entender o que se busca é condição indispensável, hoje, na era do conhecimento, para alcançar realizações, driblando encruzilhadas de opções diversas ou a falta delas, reunindo o homem à sua natureza para lhe iluminar o destino.

Existência do inconsciente

A Psicologia surgiu da necessidade de engrandecer a vida, para vencer o peso que nos leva a afundar em decepções, que apagam a chama interior que dá sentido à vida.  Ao nos apontar a existência de um inconsciente como uma razão oculta na personalidade, estrutura que Freud descreveu na relação com os fenômenos que nos tocam e aos quais reagimos defensivamente, ele demonstrou que escrevemos nossa história linha a linha e podemos realizar sonhos, se os tornarmos compreensíveis, em vez de nos conduzirmos por ideais que não são nossos.

Ao longo do tempo, a Psicologia cresceu, ganhou uma pluralidade de objetivos e metodologias, tornou-se um recurso essencial ao ser pensante, mas, dos novos tempos, emergem necessidades diversas, que a Psicologia precisa acompanhar. Há um grande impacto da tecnologia em nossa vida na sociedade, onde nos sentimos impelidos a nos reinventar. As máquinas despontam como um mecanismo que substitui cargos e coloca em cheque a identidade da pessoa humana, centro do olhar do psicólogo ou razão de existência desse profissional. Frente aos conflitos psicossociais e à disputa com máquinas que nos superam em muitos aspectos, quais são os desafios da Psicologia no futuro?

Novo paradigma existencial

A evolução do mundo contemporâneo e as recentes produções de conhecimento e tecnologia nos colocam diante de um novo paradigma existencial, que se agrava com a presença de uma pandemia mundial que determina um afastamento entre as pessoas, como regra de saúde, em contraste com a necessidade natural de relacionamentos para uma mentalidade saudável. A pandemia da Covid-19 trouxe dificuldades diversas, diante de incertezas e crises: houve aumento de 50% nos quadros de depressão e 80% nos casos de ansiedade, segundo estudos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). A Psicologia é chamada para lidar com questões como o isolamento social e com a perda de familiares e de amigos pela doença que maltratou a humanidade, mas não resultou no enrijecimento emocional das pessoas. Longe disso, os trágicos acontecimentos que abalaram a existência social de sujeitos em qualquer idade ressaltaram uma sensibilidade que vinha se perdendo no individualismo crescente que as máquinas proporcionam, como seria possível observar num almoço em família, em que cada um, sentado lado a lado, alienava-se em distantes domínios de sua curiosidade e interesse, ao simples toque num celular.

Atuação do psicólogo

Diante da dor de uma perda ou da ameaça representada pela doença, a atuação do psicólogo passou a ser mais procurada nesse período. A atividade está presente em frentes variadas, como nas clínicas, escolas, hospitais e empresas. A tecnologia digital não perdeu espaço, mas a Psicologia também se destacou no cenário das nuvens, porque nunca se tornou tão necessário entender a própria identidade, ameaçada num mundo incerto que se movimenta com velocidade e demandas que aguçam fraquezas e acentuam transtornos mentais.

Como exercer a capacidade de pensar ou utilizar nossos sistemas cognitivos a nosso favor?  A função específica do psicólogo se dirige à subjetividade que caracteriza e enriquece o indivíduo, destacando-o de qualquer outra espécie. A situação de crise nos lembra de nossas fragilidades e da carência de afeto ou uma palavra amiga. Em meio a esse caminho tortuoso de dores e bloqueios de liberdade, quais são as características da Psicologia do futuro?

Esse tema merece reflexão: seremos subjugados pela tecnologia que analisa dados com perfeição e rapidez, como ocorre em tantas profissões que perderam espaço, mesmo na área de comunicação entre pessoas? Afinal, é possível buscar orientações, sem interferência humana, bastando digitar o que se procura… mas, algumas características que se desdobram do fazer psicológico, parecem diferenciar a profissão, em termos de uma análise qualitativa que depende da experiência e do próprio conhecimento necessário para alimentar a máquina. (veja boxe A Psicologia em evidência em meio ao avanço da tecnologia).

O futuro da Psicologia

Precisamos refletir a respeito do caráter unificador da profissão de psicólogo, uma área de inserção às diversas disciplinas ou situações que atravessam choques de gerações, desigualdade de oportunidades, culturas e expectativas diversas, visando levar benefícios distantes para muitos (Soares, Capovilla, Assumpção e Valle, 2020). Com o elo da Psicologia, temas como a personalidade, espiritualidade, pobreza, transtornos mentais, resiliências, gênero, conflitos e globalização deverão ser cada vez mais estudados.

O futuro da Psicologia caminhará vinculado à tecnologia em pesquisas, no espaço junto a outros profissionais que se mesclam em saberes diversos em favor das pessoas. O aumento do rigor ético na pesquisa ao lado do avanço da inteligência artificial e em conjunto com uma formação conscienciosa faz plausível pensar que teremos modelos computacionais substituindo modelos animais e mesmo humanos. Espera-se que a seriedade dos resultados possa ser absorvida na realização política que rege a aplicação de estudos e organiza leis.

A Psicologia acumulou conhecimentos que beneficiam a humanidade, mas esperamos maior espaço e representação de nossos profissionais na vida social. Hoje, a orientação profissional, também especialidade do psicólogo, se tornou mais complexa.  O que é preciso para ser um bom profissional na área de Psicologia?  

Dentre as principais características de um psicólogo, estão as habilidades de raciocínio abstrato, de imparcialidade sem preconceitos, de empatia, que significa colocar-se no lugar do outro, sintonizar-se com o que há de mais profundo em seu cliente, sem perder sua postura profissional, que depende de autoconhecimento. Saber ouvir ativamente é essencial para compreender quem está buscando por ajuda. A boa comunicação, o gosto pela leitura e o interesse constante por questões humanistas ou pelo desenvolvimento humano são prioridades nessa construção do profissional que precisa acompanhar o dinamismo da mente e as conquistas científicas, atento a sinais da linguagem corporal, às emoções subjacentes, ao mesmo tempo em que transmite tranquilidade e confiança.

Terapia na era virtual

O psicólogo é aquele profissional que está absolutamente ligado aos mistérios da mente humana, nas diversas idades, modalidades ou propósitos. É o responsável pelo diagnóstico, tratamento e prevenção de transtornos de personalidade, distúrbios e dificuldades, ou simplesmente, na busca pela aceitação pessoal, que sustenta a autoestima. Ao psicólogo cabe prevenir e proteger, fortalecer os indivíduos em disciplinas que se mesclam com a saúde, educação e trabalho.

Em função da pandemia, há a aprovação do Conselho Federal de Psicologia para a realização de sessões de terapia online, serviço que tem crescido significativamente. Desafiador? Sim, tanto quanto o futuro que desejamos em nossa sociedade, onde o papel do psicólogo tem espaço certo, porque versa sobre o ser humano, perpassa pela mente, pensamentos, sentimentos, comportamentos. Enfim, o universo do psicólogo é lindo como a natureza humana, pronto a acolher pessoas nos tropeços diários, porque todos merecem viver bem. Aqueles que se dedicam a essa missão, comemoraram cada vitória de seus clientes, não apenas no dia que é determinado ao psicólogo, mas sempre que se deparam com olhos que brilham com amor à vida e tudo que ela representa!

E MAIS…

A Psicologia em evidência em meio ao avanço da tecnologia

  1. A ênfase na Ciência foi uma conquista sem volta. Não acreditamos mais em meras promessas sem medidas e comprovações. Se queremos respostas, iremos buscar nos conhecimentos consistentes, nas pesquisas mundiais que embasam os saberes da Psicologia, não terminada, como qualquer disciplina científica, mas com possibilidades de fortalecer argumentos, técnicas e procedimentos dos quais dependemos para vencer ansiedades, medos e depressão, entre os diversos comprometimentos mentais. Enquanto Ciência, a Psicologia traz, como seu objeto de estudo, seres que são únicos, em seu processamento cerebral específico, em que as percepções se misturam com as variáveis ambientais em combinações intermináveis e com possibilidades ilimitadas de modificações, a partir do autoconhecimento, construído e remanejado, em parte por um inconsciente, que apenas a sensibilidade e a compreensão do psicólogo podem alcançar, calçado em ferramentas técnicas competentes e qualitativas.
  2. Estudos apontam para uma crise de identidades, em nosso mundo fluído, sem limites definidos, sem garantias ou certezas. A Psicologia é a ciência capaz de promover o resgate das identidades pessoais para reuni-las a uma representação social que deve acolher a todos, sem a qual não existimos nesse tempo contemporâneo.  É do psicólogo a função de desembaraçar o emaranhado sistema de impulsos que nos chegam através do ambiente e se traduzem em comportamento, como resposta de um processo cognitivo que se executa em meio a uma orquestração fabulosa da mente. Vivemos aprendendo (Valle, 2019). A autoestima pode ajudar a chegar mais longe nessa caminhada, iluminada pela Psicologia. Entretanto, a velocidade das informações se choca com o andar da carruagem científica que norteia a formação de profissionais, sendo preciso corrigir a defasagem desses ritmos.  
  3. A Psicologia é transcultural e interdisciplinar. Sem dúvida, a Psicologia continuará sendo uma área dividida em muitas outras, porque ela se insere nos diferentes aspectos do ser humano e sua cultura.  Essa pluralidade se verifica nas especialidades concedidas atualmente, que são as seguintes:

– Psicologia Escolar/Educacional;

– Psicologia Organizacional e do Trabalho;

– Psicologia de Trânsito;

– Psicologia Jurídica;

– Psicologia do Esporte;

– Psicologia Clínica;

– Psicologia Hospitalar;

– Psicopedagogia;

– Psicomotricidade;

– Psicologia Social;

– Neuropsicologia;

– Psicologia em Saúde;

– Avaliação Psicológica.

Sabemos que essa lista não representa um conteúdo finalizado. A Psicologia do Sono (Valle, Negrão e Tavares, 2021) é mais uma das especialidades mais recentes, que nem consta desta lista ainda, mas já envolve profissionais com titulação de especialista e que fazem diferença nos transtornos sofridos pelos maus dormidores.

Em todas as especialidades, o vínculo com outros profissionais se marca no perfil escolhido, no fascinante universo da mente humana que o psicólogo assume em sua prática, reescrevendo, junto às demandas, as novas significações e possibilidade através do conhecimento de si mesmo, dos grupos e da própria sociedade.

REFERÊNCIAS
VALLE, L E L R. Cérebro e Aprendizagem: um jeito diferente de viver. 4ª Edição. Rio de Janeiro, WAK Editora, 2019.    168p: 21cm.  ISBN: 978-85-7854-294-8
Valle, L. E L. R.; Negrão, C. e Tavares, A. SONO: O relógio biológico no ritmo da vida atual. Rio de Janeiro, WAK Editora, 2021.
SOARES, A.M.; CAPOVILLA, F.C., ASSUMPÇÃO JR. e VALLE, L.E.L.R. Neurociência e Saúde Educacional, volume 1, Inclusão e Saúde. Poços de Caldas: Estância. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2020. (ISBN – 978-65-86095-01-2).