“Nós nunca saberemos o que vem depois da escolha, se não tomarmos uma decisão. Por isso, entenda seus medos, mas jamais deixe que eles sufoquem os seus sonhos” (Liwes Carroll – Alice no país das maravilhas)

Já pararam para pensar que tomamos decisões o tempo todo?

Tomada de decisão é um dos processos mais presentes e de maior impacto no cotidiano de todos nós, e posso dizer, por amostragem do consultório, que nos relacionamentos – principalmente os amorosos – é motivo de ansiedade para homens e mulheres em algum momento ou por toda vida.

A indecisão no self terapêutico

Chegam muitas demandas relacionadas a indecisões no consultório. E quando eu pergunto “o que você quer referente a X?”, é comum ouvir: “tomar uma decisão racional”, como se isso fosse possível.

O processo cerebral da tomada de decisão pode parecer lógico e racional, mas a Neurociência explica que, ao contrário do que se possa supor, esse processo envolve mais a emoção do que a razão.

A Tomada de Decisão é a “habilidade para selecionar uma opção entre diferentes alternativas de forma eficiente e criteriosa. A escolha racional é guiada por reações emocionais que influenciam a tomada de decisão“(Andreza Carla Lopes).

Escolhas e consequências

Vocês conseguem imaginar por que tomar decisões referentes a relacionamentos amorosos são tão desafiantes?

Permaneço no meu casamento ou me divorcio? Invisto num namoro ou continuo nesse relacionamento sem compromisso? Proponho relacionamento aberto? Apaixonei-me por alguém fora do relacionamento, e agora? Somos “ficantes” há meses, quero namorar, mas, e se eu perdê-lo(a) de vez?

É fato que colhemos muitas consequências a cada escolha que fazermos, tanto positivas, quanto negativas. É simples perceber que quando escolho estar num local deixo de estar em outro, e vice-versa. Pode parecer estranho ou até surpreendente, mas é possível afirmar, ao analisar as demandas de anos de consultório, que a grande dificuldade na tomada de decisão referente a relacionamento amoroso não está na dúvida do que se quer ou não quer, e sim, no tudo que se pode perder ou deixar de ter, mesmo que esse TER seja ruim e doloroso.

Toda ação é consequência do processamento de informações feitas pelo cérebro, nas quais envolvem reações físicas, como liberação de hormônios, entre outros. A maneira que esses processos ocorrem é bastante individual, já que recebem interferências genéticas, da personalidade, do histórico de vida e desenvolvimento, além de fatores externos muitas vezes imprevisíveis.

Senso de responsabilidade

O fator do desenvolvimento é muito importante. Ao ensinar aos filhos sobre tomar decisões, sobre escolhas e consequências, estamos transmitindo, simultaneamente, o senso de responsabilidade. Não é raro receber em consultórios adultos que demoram muitas sessões, muitas mesmas, para perceberem, e tomarem para si, que são os únicos responsáveis pelas suas escolhas. É verdade que é muito mais fácil e menos doloroso responsabilizar o outro pela nossa dor. Vale lembrar que, mesmo não escolhendo, estamos escolhendo não escolher.

Isso não quer dizer que desde bebês devemos dar a opção total de escolhas aos nossos filhos, muito pelo contrário, devemos ensiná-los a tomar decisões de maneira apropriada a cada idade e fase do desenvolvimento. Sabemos cientificamente, por estudos da Psicologia e Neurociência, que todas as crianças passam pelas fases de desenvolvimento fisiológico, cognitivo e emocional, até atingirem a fase adulta e serem completamente responsáveis por todas as suas escolhas e arcarem com suas consequências, pois não terão mais os pais para blindarem sua pele.

A origem de comportamentos

As escolhas e consequências nos relacionamentos amorosos iniciam por volta dos dez anos, nos primeiros amores, com as dúvidas das mudanças do corpo, nas primeiras reações sexuais, dos hormônios e conexões químicas, bem como em todas as pressões sociais e emocionais.

E isso influencia diretamente nas dificuldades nas decisões amorosas na vida adulta.

Nós adultos, possuímos essa imensa dificuldade por sermos o resultado do nosso desenvolvimento. Gostaria de provocar uma reflexão: não existe “receita mágica e pronta”, checklist de autoajuda, ou o conselho do melhor amigo. Nenhuma decisão é igual à outra, pois existem muitos fatores individuais e complexos a serem analisados. Outra reflexão é:  como estamos educando nossos filhos para tomarem decisões nas suas relações amorosas atuais ou futuras?

Agora, juntem todas essas informações e pensem na complexidade das tomadas de decisões referentes a relacionamentos amorosos! Conseguem entender a alta demanda dessas questões em consultórios de psicoterapia?

Mas essa busca por ajuda especializada pode fazer toda a diferença na mudança de paradigma e nos resultados positivos de aprender a fazer melhores escolhas para cada momento da vida. 

E MAIS…

Orientações genéricas para tomar melhores decisões

Algumas orientações mais comuns e genéricas podem ser oferecidas aqui como forma de reflexão e inicio de jornada, mas um tratamento baseado em estratégias e avaliação de comportamento é muito importante para que as tomadas de decisões sejam pautadas em terreno sólido de autoconhecimento e compreensão do outro também, no caso das decisões serem compartilhadas em um relacionamento.

– Procure não ter respostas ou tomar decisões importantes sob pressão. Saiba que, quando uma decisão leva a uma ação impulsiva, ao nosso cérebro significa que a amígdala, região associada ao processamento das emoções, fica mais ativa que o córtex pré-frontal, que é o responsável por regular as emoções. Assim, as emoções acabam se sobrepondo à nossa capacidade de autocontrole, o que reduz a nossa capacidade de tomar decisões mais assertivas. Quando estamos tranquilos, o córtex pré-frontal (responsável por regular as emoções) se torna mais ativo, fazendo com que as duas regiões trabalhem de forma coordenada e mais eficiente para o processo de tomada de decisão.

– Na dúvida, não faça nada. Claro que, em algum momento, a decisão terá de ser tomada.  Mas, trabalhe, procure ajuda de profissionais que possam auxiliar com informações para a decisão mais assertiva possível, pois não há decisão certa ou errada, e sim, a mais adequada para aquele momento, diante dos recursos e informações que você possui.

– Valide e acolha a reação do outro, seja ela qual for. Para tomarmos aquela decisão levamos um tempo, pensamos em todas as possibilidades, elaboramos e criamos em nosso cérebro o “como se”, o que nos proporciona uma “vantagem” em relação à pessoa que está recebendo aquela informação, sentindo e processando-a pela primeira vez.

Amor e tomada de decisão são temas complexos e os dois juntos requerem cautela e responsabilidade. Pensem nisso!