E quando acontece algo que tudo muda de repente? E quando achamos que temos todas as certezas, mas aí vem o destino e transforma tudo? Isso aconteceu no último ano de 2020. A pandemia do Corona Vírus nos fez alterar nossas vidas de várias maneiras: tivemos nossa liberdade podada, nossos objetivos restringidos ou alterados, nossa segurança ameaçada e nossos valores revistos e, quem sabe, ressignificados – e é nessa habilidade de flexibilização cognitiva, que entra essa palavra forte e transformadora: RESILIÊNCIA.
Resiliência é a capacidade de se reestruturar psicologicamente após uma vivência causadora de estresse e sofrimento. As pessoas resilientes, consideradas mais resistentes psiquicamente, também se angustiam, se decepcionam, passam por perdas imensuráveis mas, acima de tudo, aceitam e enfrentam o que precisam lidar – sendo essa uma das principais características do resiliente: a capacidade de aceitação da realidade e suas imprevisíveis variáveis.
Aceitação é um recurso emocional
Aceitar não é se acomodar, o oposto disso, aceitar é continuar. Não aceitar, sim, é paralisar. Os mais resilientes entendem que as perdas fazem parte da vida. Aceitam que coisas ruins podem acontecer, não travando assim uma batalha de não aceitação dos fatos e exatamente por isso saem das situações mais dolorosas apresentando recursos emocionais ainda mais elaborados. Há então, um crescimento emocional: ou seja, a habilidade de dar um sentido mesmo aos aspectos mais dolorosos, e a convicção de que se pode crescer tanto com as experiências positivas como com as negativas é um fator protetor no lidar com as adversidades da vida.
Toda evolução emocional é aprendida e incentivada através da Psicoterapia, a partir de estratégias como o reconhecimento e a ressignificação de pensamentos disfuncionais favorecendo uma elaboração mais saudável de situações passadas e estimulando novas estratégias de enfrentamento em relação ao presente e ao futuro.
Ser resiliente é ser autoconfiante, mas isso não quer dizer que se torne inabalável, e sim que encontrará em você as aptidões necessárias para lidar com as situações adversas. Trazendo também uma maior independência emocional de qualquer tipo de relação ou aprovação. Seja no contexto que for. Pessoas vêm e vão, relacionamentos, mesmo entre os mais próximos, mudam. Não pode-se viver esperando nada de ninguém, embora a lei da reciprocidade exista e seja necessária para você dosar o que e quem deve manter ou não na sua vida.
Adaptabilidade e flexibilização
A adaptabilidade é outra importante aptidão que proporciona às pessoas que a têm vantagens subjacentes como o senso de autoeficácia na medida em que se percebem capazes de realizações, e mesmo diante do insucesso pensam que a estratégia utilizada apenas não foi a melhor, ou seja, reconhecem mas não superdimensionam seus erros. Soma-se a isso a habilidade de dar sentido mesmo aos aspectos mais complexos vivenciados, além da convicção de que pode-se aprender tanto com as experiências positivas como com as negativas, através da flexibilização da interpretação dos fatos.
Ser resiliente é lutar por você, não se intimidar diante de “nãos” ou qualquer tipo de desaprovação, é ser persistente, saber que ninguém pode brigar por você melhor do que você mesmo. É investir na sua vida: estudar, aprender coisas novas, se cuidar. E nunca prender-se a estilos explicativos, questionando-os: posições dicotômicas reducionistas não cabem em âmbito algum, jamais assumindo para si ou para os outros a posição de algoz ou de vítima, exercitando dessa maneira a capacidade de empatia, tendo em vista que a baixa habilidade empática leva a uma interpretação distorcida do outro.
Outra característica é o senso de realidade atrelado ao costume de não concentrar-se no que foge ao seu controle, procurando ater-se apenas ao que é possível ser modificado. Otimistas, embora não desconsiderem os aspectos negativos da realidade, tendendo a crer no caráter passageiro das adversidades: “Isso vai passar, no futuro olharei para este momento e tudo já terá sido superado”, ou: “Perdi o carro, mas estou bem”.
A busca pelo suporte profissional
E finalmente, o resiliente sabe muito bem o momento de recorrer à ajuda, beneficiando-se do apoio afetivo do outro. E, ainda mais importante, costuma ter um auto-conhecimento suficientemente elevado que também o faz perceber quando a situação exige que busque o suporte de um profissional em meio a problemas e dificuldades que são inerentes à existência, mas com os quais percebem-se com mais dificuldade de lidar.
Ser resiliente é um aprendizado e um exercício diário tornando a vida mais suave, na medida em que emocionalmente nos tornamos mais estáveis. Por que como diz a famosa frase de Epicteto: “O importante não é o que acontece, mas em como você reage”.
Autoconfiança ajuda a identificar relacionamentos tóxicos
Resilientes não são ditadores de regras sobre a própria vida, muito menos sobre vidas alheias. Dessa forma, não vivem ocupados em falar sobre os outros, muito menos perdem tempo tentando desconstruir a imagem de ninguém – como bem costumam fazer pessoas insatisfeitas com o que são e que por isso constantemente são tomadas pela inveja. Aliás o resiliente tem mais facilidade em identificar relacionamentos tóxicos: amorosos, amizades, trabalho.
Assim, a resiliência faz com que você confie no que você é, na sua personalidade e na beleza que exala disso: não tem problema haver outras pessoas mais bonitas – embora isso seja sempre relativo -, ou mais ricas, ou famosas ou mais qualquer coisa, porque você ama o que você é e sabe seu valor. E quem não conseguir reconhecer isso, a falha estará nele, ou naquele momento dele. Aparecerá outra pessoa no caminho. Porque passa. Tudo passa. E o resiliente sabe esperar por isso, mas nunca de forma passiva, pois sempre se percebe capaz de influenciar positivamente em qualquer processo.