Transtornos de ansiedade, síndrome do pânico, medos, estresse, timidez, luto, problemas familiares e problemas conjugais estão entre as principais queixas levadas pelos pacientes homens aos consultórios de psicologia. Conforme o psicólogo clínico Jorge Ribeiro, a grande questão que envolve a vida dos homens se chama autoconhecimento, o que inclui conhecer suas características físicas, sociais e psicológicas.

Ele complementa que uma masculinidade saudável passa por uma revisão do que de fato pode somar para o homem enquanto pessoa, cidadão, parceiro e pai, em termos de qualidade de vida, sem que isso prejudique o outro ou a outra. “Ressignificar a masculinidade torna-se, então, algo importantíssimo, pois significará o resgate da humanidade e de todo o sentido que isso possa representar, tornando sua existência mais significativa”, ressalta.

Graduado em psicologia pela Universidade Salgado de Oliveira (Universo) de Goiânia/GO, Ribeiro atua como psicólogo clínico (consultas individuais em formato presencial e on-line) na abordagem gestalt-terapia. Seu foco atual de trabalho está no atendimento a homens com o objetivo de ressignificar suas vidas e seus objetivos, visando ao desenvolvimento de uma masculinidade saudável. “Entendo que o homem tem que ter um lugar onde possa se expressar, sem rótulos ou qualquer julgamento, e, dessa forma, desenvolver novas habilidades que o tornem mais feliz e completo como ser humano”, afirma.

Por que se tornou psicólogo, como ocorreu a escolha pela gestalt-terapia e o que o levou ao foco de trabalho no atendimento a homens com o objetivo de ressignificar suas vidas, seus objetivos, sua masculinidade?

Eu me tornei psicólogo porque acredito que, por meio da psicologia, muitas pessoas poderão ser mais felizes e conviver em sociedade de uma forma mais harmônica, desenvolvendo suas potencialidades e evoluindo enquanto sociedade. E, para mim, é motivo de muito orgulho poder ser agente de conexão dessa ciência maravilhosa que é a psicologia com as pessoas para que possam ser transformadas por ela. Diante desse contexto, eu me tornei gestalt-terapeuta por acreditar na visão dessa abordagem que foca no ser humano como centro das atenções e entende que tudo pode ser melhorado no aqui e agora, tornando possível assumir responsabilidade sob nossas ações, não deixando de considerar as heranças do passado e as possibilidades que o futuro nos traz. O trabalho com foco em masculinidade saudável tem a ver com o entendimento de que o homem pode também ser afetado positivamente pela psicologia ao ponto de ressignificar suas crenças e experiências de vida, tornando-se, assim, senhor de sua própria história.

Como definir o homem de ontem e o de hoje?

O homem tem como regra social a validação social. Diante dessa verdade, ele procura manter um status quo que o possibilite sustentar a sua hegemonia em relação às mulheres. E essa é uma prática constante e duradoura, que o faz sempre senhor da situação, mas que o torna um eterno acomodado. Hoje, diante do avanço do feminismo, essa hegemonia está sendo posta em xeque e provoca muito incômodo para que o homem contemporâneo se adapte, pois gera toda uma saia justa quando o mesmo usa velhos hábitos machistas para lidar com as mulheres da atualidade. O fato é que estamos em tempos de transformações necessárias e que pode nos levar a um mundo melhor, mais nosso como um todo e menos meu só pra mim.

Quais as principais queixas e patologias que chegam ao seu consultório da parte de pacientes homens?

A maior incidência de queixas do público masculino é de episódios de transtornos de ansiedade, mas também temos casos de problemas familiares, problemas conjugais, estresse, timidez, luto, autoconhecimento, síndrome do pânico e algum tipo de medo.

Por que os homens precisam ressignificar sua masculinidade? E o que isso significa exatamente?

A grande questão que envolve a vida dos homens se chama autoconhecimento, isso inclui conhecer suas características físicas, sociais e psicológicas. Uma masculinidade saudável passa por uma revisão do que de fato pode somar para o homem enquanto pessoa, cidadão, parceiro e pai, em termos de qualidade de vida, sem que isso prejudique o outro ou a outra. Ressignificar a masculinidade torna-se, então, algo importantíssimo, pois significará o resgate da humanidade e de todo o sentido que isso possa representar, tornando sua existência mais significativa.

Quais os principais obstáculos que hoje impossibilitam os homens de se sentirem plenos e realizados? E como alcançar essa plenitude?

Pelo que eu percebo nos meus atendimentos em consultório, o principal obstáculo para o público masculino são as crenças equivocadas acerca do que vem a ser a psicoterapia, sobre o medo de serem taxados como fracos diante de sua família e amigos e também o desconhecimento de que seus conflitos poderiam se tratar de questões psicológicas e que poderiam ser tratadas. Muitos homens consideram que é normal brigar, ser violento, ser preconceituoso e até mesmo entendem que esse comportamento é o mais adequado para um homem de verdade.

Até que ponto o “politicamente correto” tão cobrado na atualidade está ou não tirando a espontaneidade dos homens e os confundindo?

Eu entendo que as regras da sociedade nem sempre são tão assertivas assim e que realmente a sociedade, por muitas vezes, valoriza questões equivocadas no momento de considerar um homem como “bom ou mau”. E é por essa razão que o homem precisa desenvolver seu autoconhecimento, pois só a partir do momento em que ele entender seus valores, seus objetivos, seus pontos fortes e suas vulnerabilidades é que estará pronto para aceitar ou não as regras impostas pela sociedade. Do contrário, ele não teria parâmetros para avaliar o que realmente lhe traria um retorno positivo. E é claro que ser politicamente correto confunde o homem, pois o tira de sua zona de conforto e o faz reavaliar seus conceitos que perduram por tanto tempo, sendo mantidos de geração por geração. O certo é que precisamos evoluir em busca de um equilíbrio que minimize atritos entre homens e mulheres para que possamos viver em um mundo bom para todos, sem discriminações, regalias e discrepâncias sociais.