A timidez é assunto que desperta interesse em uma grande parte das pessoas, pois, pode atingir o dia a dia das relações, sejam elas pessoais, profissionais e ou educacionais.

De acordo com Falcone e Figueira (2001), a reação de ansiedade frente a situações sociais, como iniciar uma conversa, falar em público ou marcar um encontro, constitui uma manifestação normal e até mesmo adaptativa, uma vez que permite às pessoas se comportarem de maneira adequada em interações sociais importantes. Ainda segundo Falcone e Figueira, a timidez corresponde a outra terminologia usada para se referir aos medos sociais. Embora, como dito acima, nas pesquisas relacionadas a timidez não apresente uma relação clara com a fobia social.

Pesquisa sobre inibição social

Pesquisas em desenvolvimento infantil correlacionam inibição social precoce com respostas de proteção e controle exagerados dos pais.

Estas, por sua vez, reforçam o retraimento da criança e, consequentemente, dificultam a exposição a situações sociais, formando um ciclo vicioso.

No tocante à família, devemos buscar na dinâmica existente, interações que gerem ou perpetuem a sensação de envergonhamento.

Muitas vezes, sem se dar conta, os pais ou responsáveis pela criança interagem de forma a desqualificar a criança, gerando raiva e sensações de humilhação. Tais interações precisam ser modificadas.

Sabemos que é nesta interação que a autoimagem e autoestima da criança se formam.

Poucas abordagens na Psicologia

É necessário ressaltar que o sentimento de vergonha é pouco abordado pelos estudiosos da psicologia.

O dicionário Aurélio traz como significado principal para a vergonha a desonra humilhante diante de outrem, sentimento de insegurança pelo medo do ridículo, por escrúpulos, timidez e acanhamento.

Em certo grau, a presença deste sentimento seria essencial ao agir humano. Um sentido positivo e negativo para a palavra vergonha deve ser compreendido.

A vergonha saudável informa o que é aceitável para os elos sociais, mantém os relacionamentos, as normas sociais e o indivíduo coeso.

Significados negativos

Existem significados negativos associando vergonha e humilhação no sentido do rebaixamento e da inferioridade. Há, por parte de quem humilha, uma intenção de violência. Uma forma de abuso psicológico.

Na vergonha negativa, a pessoa percebe que há algo de errado com ela (diferente do que ocorre na culpa em que a questão é com algo que foi feito “fiz algo de errado”).

Na vergonha, a pessoa sente que “há algo de errado comigo”, cria crenças negativas sobre si mesma, que ela não pertence ao grupo havendo a necessidade interna contínua de ser “consertado”.

No caso de crianças, a tendência é ela alienar as partes de si mesma que lhe causam vergonha e fragmentar a sua personalidade como forma de lidar com sentimentos negativos.

Os resultados são variados e tal defesa pode levar a sintomas agressivos e autoagressivos como a própria depressão.

A possibilidade de que tais sentimentos gerem dificuldades de relacionamento com outras crianças e com o próprio conteúdo escolar é grande.

E MAIS…

Prevenção fundamental

Mais do que se falar no tratamento, faz-se fundamental pensarmos na questão da prevenção.

Desta forma, o sofrimento de muitas crianças, adolescentes e adultos pode ser aliviado, facilitando o desenvolvimento de seus potenciais e evitando o desenvolvimento de patologias futuras.

Os pais devem, portanto, estar muito atentos aos filhos que aparentemente não dão problema, por serem muito quietos, as tais “crianças ótimas”.

Apesar de não serem trabalhosos, podem estar escondendo um sofrimento grande que pode vir a trazer dificuldades em várias áreas de sua vida: pessoal, profissional e social, podendo até mesmo gerar transtornos psiquiátricos, tais como transtornos de ansiedade e, mais especificamente, a fobia social.

A escola tem papel importante, pois acompanha a criança no dia a dia e nas relações sociais.

A psicoterapia infantil, o autoconhecimento dos pais, programas de orientação parental são fundamentais nos cuidados a estas crianças. Mais uma vez prevenir é o melhor remédio! E tenha certeza de que a timidez excessiva pode doer, e muito!

Referências:  
Ito, Lígia M ; Roso, Miréia C ; Tiwari, Shilpee; Kendall, Philip C; Asbahr, Fernando R – Terapia cognitivo-comportamental da fobia social Rev. Bras.Psiquiatr. vol.30  suppl.2 SãoPaulo Oct. 2008http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462008000600007  
Cain, Susan in www.ciencia hoje.pt 
Rangé, Bernard – Psicoterapias cognitivo comportamentais – Um diálogo com a psiquiatria – Editora Artmed 2001