ESTUDO DE CASO

Aceitei o convite da Sinapsys para finalizar o mês de outubro, marcado pela campanha ao outubro rosa para escrever esse texto como forma de alerta para as pessoas realizarem autoexame para prevenir o câncer de mama.

Sou Psicóloga Clínica, Psicodramatista e Trainer em PNL Sistêmica – e já enfrentei o câncer três vezes, um deles sendo o de mama.

Culpa e medo

Recebi meu primeiro diagnóstico de câncer do tipo ginecológico, em 2014. Nem preciso dizer que meu mundo desabou. Sim, a culpa, juntamente com o medo, tomaram conta de mim. Deixei o consultório, pelo medo de não conseguir mais atender adequadamente os pacientes, passei a questionar o meu autoconhecimento: “de que valeu todo meu trabalho de autoconhecimento se estou com câncer agora?”; e passei a duvidar dos meus recursos enquanto terapeuta: “que metodologia é essa que permitiu que eu não pudesse ter evitado um câncer?”.

Deixei de lado minha missão, visão e meu papel nesse mundo sistêmico. E pior de tudo: recusei a ajuda dos amigos que se ofereciam como apoio, depois que descobriram meu diagnóstico. Na minha cabeça, esse era um fardo pesado demais para dividir com amigos – e acreditei que minha família seria essa rede. O que não aconteceu.

Diagnóstico de mutação de células

Tive uma ótima recuperação ao tratamento e cirurgia mas, em dezembro de 2015, recebi um novo diagnóstico de mutação de células nas duas mamas. Dessa vez, já estava descrente e vivendo a vida automaticamente. Marquei a cirurgia e passei por uma mastectomia total bilateral, em janeiro de 2016. Diferente da primeira cirurgia, passei pelas piores dores físicas e emocionais da minha vida. A descrença virou indiferença, desconexão, síndrome do pânico e depressão. Segui sem o apoio da família.

Hoje, eu entendo porque: ao contrário do que imaginamos, ou que, por força da nossa cultura, aprendemos que família estará sempre à disposição, muitas vezes ela também não dispõe de ferramentas para ser suporte para alguém em casos como este. Eles também sentem medo, ficam apavorados e, diante da sensação de impotência, natural se afastarem.

Aprendizado profundo

Mas esse aprendizado só aconteceu depois que eu enfrentei o câncer pela terceira vez. Diante de acontecimentos como este, a gente cria uma certa capacidade para conversas difíceis – e, ao invés de levar adiante a mágoa pela falta de suporte das pessoas mais próximas a termo, consegui entender também seus limites.

Se algo que posso dizer, hoje, para quem está passando pela situação é: aceite a ajuda de quem a oferece, seja a pessoa quem for, inclusive ajuda profissional com um terapeuta. É possível, sim, passar por essa sozinho, mas é mais desafiador.

Amigos e familiares de pessoas que estão enfrentando a doença também devem contar com a ajuda profissional. Mas, tenham em mente: ao oferecer ajuda para o paciente, pergunte como ajudar.

Escuta empática

Ofereça escuta empática e acolhedora, mas ajude no que o paciente precisa: às vezes ele quer silêncio, ou apoio para resolver aspectos burocráticos do tratamento, ou apenas um abraço. Entenda o que ele precisa naquele momento e respeite sua decisão. E é justamente isso que eu teria feito diferente se tivesse de voltar atrás.

Sobre essa experiência e todos os insights que tive durante meu processo de cura e que estão relacionados à PNL, escrevi um dos capítulos do livro “PNL Humanizada”, que será lançado em 14 de dezembro, na Livraria Cultura. Aguardem!