Uma realidade cruel imposta pela pandemia do covid-19 foi a necessidade do isolamento social e do uso de máscaras. Tivemos que nos adaptar às duas situações, que se tornaram, em um primeiro momento, um impeditivo à prática de atividades físicas presenciais na escola. E isso criou um problema de saúde pública de enormes proporções, devido ao agravo da obesidade, dos problemas de saúde derivados da ausência de atividades físicas e dos problemas de saúde mental. Em termos de neurociência, um problema a ser enfrentado é exatamente a questão das competências socioemocionais no pós-pandemia, sendo que a Educação Física, neste sentido, tem uma ótima prerrogativa, a de trabalhar por meio de jogos, brincadeiras e atividades lúdicas, favorecendo a motivação e melhorando a saúde mental dos alunos.
Exercício é saúde
A ausência de atividades físicas está diretamente ligada ao aumento de problemas de saúde física e mental associados ao isolamento social, conforme demonstramos a partir de pesquisas científicas no artigo “Coronavírus, ansiedade, estresse e exercício”, publicado no jornal O Dia em 1/9/2020. Da mesma forma, a atividade física induz ao aumento da imunidade, fortalecendo o organismo, inclusive no combate do Covid-19, levando em conta, por exemplo, que a taxa de mortalidade em indivíduos fisicamente ativos pela doença é significativamente menor.
Porém, apesar da vacinação em massa e dos protocolos sanitários para combate ao Covid-19, ainda há riscos de contágio e propagação, em especial devido às variantes do vírus e às pessoas ainda não vacinadas. Portanto, o grande desafio para a Educação Física é como promover a atividade física com restrições de contato físico e em isolamento social. Para contemplar este fim, organizamos uma coletânea de atividades online e presenciais, levando em conta a perspectiva de retorno presencial às aulas de Educação Física nas escolas.
Distanciamento social
Toda atividade com distanciamento social pressupõe pelo menos duas condições: espaço físico amplo e arejado, e marcações para os alunos aguardarem com distanciamento na fase de espera da atividade.
1 – Contestes – contestes são competições em equipe ou individuais que envolvem corrida e/ou ultrapassagem de obstáculos. Nesta categoria, evidenciam-se as atividades a seguir, sugeridas por Machado (2021) e que podem ter variações, conforme as possibilidades e a criatividade do professor e dos alunos. Embora ele recomende as atividades para Educação Infantil e 1º ano do Ensino Fundamental, por experiência entendo que elas podem ser usadas até mesmo no Ensino Médio, com as devidas adaptações. Caso tenha dificuldades em visualizar as atividades, há figuras ilustrativas no site do autor.
- Saltando Obstáculos – o professor estabelece um ponto de partida e um ponto de chegada, com cones ou outro material (podem ser garrafas pet com água ou areia). Entre estes, coloca obstáculos (cordas, cones pequenos, bambolês, macarrão, p.ex.) para que o aluno salte com um ou dois pés. A cada 4 obstáculos vencidos por um aluno, o próximo da fila pode começar a tarefa. Pode ser feito em uma linha única para todos, ou em duas ou três linhas, para competição entre equipes. Ganha a equipe em que o aluno que começou volte ao início da fila de espera primeiro.
- Corrida de Bolinhas – o professor marca, novamente, um ponto de partida e outro de chegada, sendo estes um cone ou bambolê (que se possa deixar uma bola de borracha em cima ou dentro). Higieniza-se com álcool 70º as bolas e as mãos dos alunos antes e depois da atividade. Ao sinal, os alunos correm para o ponto final com a bola nas mãos, deixando sobre o cone ou dentro do bambolê e voltando de costas à marcação final da fila de espera. Ganha a equipe em que o aluno que começou volte ao início da fila de espera primeiro. Nesta atividade, sugiro que cada aluno tenha uma bolinha e o deposite dentro do bambolê, para que não que se tenha que pegar a bolinha do outro.
- Corrida do Sapo – estabelece-se o ponto de partida e chegada, como anteriormente. Os alunos deverão saltar com os pés juntos e a mão no chão, como um sapo. Para facilitar, pode-se colocar bambolês em sequência para se marcar o ponto do salto. Ganha a equipe em que o aluno que começou volte ao início da fila de espera primeiro.
- Dentro/Fora – desenha-se um círculo (ou mais de um) no chão com giz, e coloca-se os alunos com distanciamento um do outro ao redor do círculo. O professor vai falando “Dentro” ou “Fora”, inicialmente alternando-os, para que os alunos se adaptem ao comando de voz, e posteriormente, repetindo-os ou não. Conforme os alunos errem o comando, eles sairão do jogo até sobrar um só, que será o vencedor. Deve-se ter cuidado com aglomeração após os alunos saírem do jogo.
- Bola ao Cesto – uma variação da corrida de bolinhas, em que se coloca um balde após a marcação final da corrida (um cone, por exemplo), e desta se arremessa uma bolinha para acertar no balde. Embora o professor sugira que não há vencedor, pode-se sugerir que a equipe que acertar mais bolinhas seja a vencedora. Ele também sugere variações, como arremessar com a mão direita, a mão esquerda ou ambas as mãos.
2 – Boliche – o boliche é uma atividade altamente estimulante, pois envolve arremesso a um alvo. Necessita-se de dez pinos e uma bola, que no ambiente escolar pode-se ser adaptado com uso de garrafas pet com água e areia, e bola dente de leite. Os pinos são colocados em forma de triângulo (pino 1 à frente; pinos 2 e 3 atrás e ligeiramente ao lado do pino 1; pinos 4, 5 e 6 atrás e intercalados aos pinos 2 e 3; pinos 7, 8, 9 e 10 atrás e intercalados aos pinos 4, 5 e 6) a uma distância de 5 a 10 metros (dependendo da idade dos alunos) do ponto de arremesso. Deve ser feito em um piso o mais liso possível (sala de aula, quadra ou mesmo num cômodo da casa do aluno). Podem ser criadas várias estações para atividades simultâneas. O site Impulsiona.org apresenta várias possibilidades para o boliche na escola e em casa. Acesse pelas referências ao final deste artigo.
3 – Capoeira – a capoeira é uma atividade física tão versátil que pode ser ensinada até mesmo remotamente. O prof. Diogo Inácio Dias, de São Paulo (FUNDAÇÃO TELEFÔNICA VIVO, 2021), fez um trabalho com seus alunos de ensinar os golpes, os movimentos e as esquivas por vídeo conferência. Ensinou também as batidas do atabaque em baldes virados para baixo. Mas além de ser ensinada remotamente, a capoeira pode ser ensinada com segurança presencialmente, tendo em vista que os movimentos podem ser ensinados com os alunos com distanciamento, e mesmo no caso de um jogo (dois alunos jogando capoeira um contra o outro), pode ser feito sem contato e à distância.
4 – Cabo de Guerra em 4 – esta variação do cabo de guerra foi apresentada por Araújo (2021), e apresenta quatro jogadores divididos em duas duplas. Você pode visualizar a atividade acessando o vídeo do autor, nas referências. Eles seguram cada um uma ponta de uma corda atada, formando assim a figura de um quadrado, com afastamento um do outro. Há, em cada canto do local, um pequeno cone (formando quatro ao total). Ao sinal, cada um tentará puxar os demais para tentar pegar o cone que está em seu quadrante. Ganha o jogador que pegar o cone primeiro.
5 – Salto sobre o bambolê – outra atividade apresentada por Araújo (2021), o professor forma uma fila de alunos, e começa a jogar bambolês (rolando no chão) para que os alunos pulem por cima. Os alunos ficam distanciados um do outro. Pode-se dividir em pequenos grupos para um conjunto de bambolês e fazer equipes para competirem entre si. Da mesma forma que o item anterior, você pode visualizar a atividade no vídeo do autor.
6 – Dança e Ginástica – a dança e a ginástica são atividades grupais que podem ser executadas com distanciamento e material próprio. No primeiro caso, a dança, sequer há a necessidade de material, e no segundo caso, há a possibilidade do uso de materiais alternativos, como pesos feitos com garrafas pet de 250 e 600 ml, possíveis de se segurar com facilidade e que podem ser enchidos com água ou areia.
Alternativas importantes
Os benefícios da atividade física regular para crianças e adolescentes são comprovados e ultrapassam questões de saúde como prevenção de obesidade e doenças crônicas, como diabetes. O exercício ajuda a desenvolver a consciência corporal e o sistema psicomotor das crianças, reduz os sentimentos de depressão e ansiedade e promove o bem-estar psicológico. E além desses fatores, melhora o desempenho acadêmico dos alunos. Por isso é tão importante buscar alternativas que possam manter a regularidade dos exercícios e da prática da educação física, mesmo em tempos que ainda exigem isolamento social.
A criatividade possibilita muitas atividades
Uma plêiade de atividades está disponível no site do Instituto Península, o Impulsiona (impulsiona.org.br). Estas atividades vão desde o surf ao beisebol, passando pelo tiro com arco e o teqball (uma mistura de tênis de mesa e futevôlei). Há ainda recomendações de atividades que proporcionam segurança média e ótima, neste excelente material (https://impulsiona.org.br/papel-educacao-fisica-retorno/). . Nesta última categoria, estão os jogos de perseguição sem toque, os jogos de parede e rebote, os jogos de alvo, os jogos de rede divisória com utilização de implemento (raquete, p.ex.), todos os esportes e atividades individuais, e tênis de mesa e badminton. O mais interessante deste material, porém, são as sugestões de segurança para a prática de esportes conhecidos, como voleibol, futebol e natação, por exemplo.
Isto mostra que com criatividade e segurança, é possível a prática da atividade física escolar, mesmo com as restrições sanitárias impostas pela pandemia.