A música tem grande importância na vida dos seres humanos e contribui imensamente para a saúde mental e também no processo de ensino-aprendizagem. Nesta entrevista, o tema é aprofundado pela musicóloga e musicista Maria Paccelle, mestranda em música, compositora, acadêmica, escritora, radialista e palestrante.

Ela começou a desenvolver laboratórios para aprimorar sua didática musical em 1992 e criou uma metodologia com a qual o aluno aprende com rapidez e eficiência a arte musical. Seus estudos foram além da teoria musical e podem ser aplicados a qualquer disciplina do currículo básico.

Maria usa a própria música como ferramenta para trabalhos interdisciplinares dos quais se tornou especialista em arte-educação. Seu trabalho foi reconhecido e é utilizado em várias instituições educacionais no Brasil, fora dele e nos países de língua portuguesa por meio de suas obras. Entre os livros de sua autoria, está ‘Incluindo com amor’, publicado pela Wak Editora.

Por que resolveu se tornar musicóloga?

O meu sonho de criança era me tornar uma musicista. Consegui realizar esse sonho e, aos poucos, me tornei educadora musical. Então, criei o Centro Cultural Maria Paccelle e percebi que precisava ter um ensino de qualidade com base lúdica, algo que tivesse excelência, com a didática que eu buscava, e que saísse do tradicional. Fui buscar na ciência respostas para minhas necessidades pedagógicas e encontrei no trabalho do PhD David Lewis o pontapé inicial como referência do que a música contribui para o aprendizado global do ser humano.

Nesse ponto, me apaixonei pela pesquisa e continuei. Desde então, não parei mais de pesquisar e de me aprofundar no estudo da própria música. Foi assim, que, aos poucos, me tornei uma musicóloga. É considerada musicologia a atividade do musicólogo enquanto ofício do pesquisador em música, diferenciando-se das outras duas grandes áreas da música: compositor e performance instrumental e vocal.

A musicologia estuda as amplas perspectivas históricas, antropológicas e estético-poéticas da música, abrangendo tanto questões técnico-operativas como filosóficas da música. Também fazem parte da tarefa musicológica a notação em suas relações evidentes com a percepção musical, a organologia ou estudo dos instrumentos musicais e a fisiologia aplicada à técnica dos instrumentos e seu desenvolvimento, métodos didáticos, acústica e, por fim, toda possibilidade de teoria musical e suas várias disciplinas.

Qual a importância da música para a saúde mental/emocional das pessoas?

A música faz toda a diferença na vida do ser humano, principalmente no aspecto cognitivo e psicomotor. A música já é utilizada como terapia há milhares de anos. Só de ouvir música já é o suficiente para equilibrar mudanças de humor. Evidências crescentes apoiam a capacidade da música de promover amplamente o bem-estar e a qualidade de vida relacionada à saúde.

As características rítmicas da música agem no neocórtex, que é uma região do cérebro onde estão as áreas mais desenvolvidas do córtex. Isso pode acalmar e reduzir significativamente o estresse. Baseados em uma metanálise que abrange 26 estudos científicos, os dados obtidos mostraram que o impacto positivo de cantar, tocar ou ouvir música traz o mesmo benefício que, por exemplo, investir em exercícios físicos.

De que forma a música pode ser utilizada para contribuir na prevenção e no tratamento de transtornos mentais?

No início dos anos 1980, pesquisas empíricas, aquelas que se apoiam em experimentos, começaram a ser feitas nesse campo do tratamento dos transtornos mentais. A partir de então, estudos na área vêm sendo desenvolvidos, levando em conta diversas patologias. Já foi comprovado que a musicoterapia tem se mostrado eficaz no tratamento de sintomas como a ansiedade e o isolamento.

Como a música age em diversas razões do cérebro, ela se mostra eficaz no tratamento de vítimas de AVC (acidente vascular cerebral) e auxilia na recuperação das interações sociais. A música é capaz de ativar tantas áreas do cérebro que serve como via terapêutica para tratar sintomas de demência e Alzheimer, por exemplo. Nesses casos, a música ativa diversos padrões neuronais (sinapses), fazendo com que o paciente fique mais presente. A música também pode ser utilizada no tratamento de amnésia e afasia. As crianças com transtorno do espectro autista (TEA) podem, por meio da música, melhorar em muito a comunicação e a autoexpressão, ganhando mais qualidade de vida.

De que forma a música pode contribuir no processo de ensino-aprendizagem infantojuvenil?

A música é uma ferramenta muito importante no processo de ensino-aprendizagem infantojuvenil. Desde o descobrimento do Brasil, já foi utilizada com esse intuito pelos jesuítas e foi conquistando espaço e valorização desde então. A música na escola se confunde com a história do Brasil, pois a mesma começa desde o descobrimento do Brasil, quando os portugueses aqui chegaram e já encontraram manifestações musicais de cunho religioso e/ou festivo e vários tipos de instrumentos de percussão.

Existem inúmeros benefícios que a música pode promover na vida da criança: socialização, desenvolvimento cognitivo, psicomotor, emocional, entretenimento, musicoterapia, etc. Destaco aqui os aspectos que penso serem os mais significativos na escola regular: a música pode ser utilizada para desenvolver o raciocino lógico e como uma ferramenta interdisciplinar, auxiliando na fixação de conteúdo. Desde 1500 até 2019, com idas e vindas, a legislação resgata a obrigatoriedade da música na escola.

Explique sua metodologia com a qual o aluno aprende com rapidez e eficiência a arte musical.

A partir de 1993, me interessei pela pesquisa do PhD em psicologia David Lewis no que se refere ao funcionamento dos hemisférios cerebrais e a relação com a aprendizagem musical. Comecei minha própria pesquisa, inovando no desenvolvimento de material lúdico para facilitar o ensino-aprendizado da arte musical. Tendo como base focar no funcionamento do cérebro e como a música pode interagir no processo, desenvolvi uma metodologia própria que acelerou o aprendizado dos meus alunos de música na qual respeito as características cerebrais de cada um.

No meu método, criei um formato lúdico de ensino por meio de atividades diferenciadas em que alcanço com sucesso o interesse dos alunos que se sentem melhor estudando de forma lógica e os alunos que se sentem melhor estudando de forma subjetiva. Obtenho resultados rápidos e funcionais, pois, desde a mais tenra idade, os estudantes entendem que a teoria musical é uma linguagem completa em que precisamos ler, ouvir, tocar ou cantar.