O mercado de trabalho não tem um histórico acolhedor para as mães. A licença-maternidade surgiu no Brasil em 1943 com a CLT, por meio do Decreto-Lei nº 5452, de 1º de maio de 1943. Inicialmente, era paga pelo empregador e assegurava a ausência do trabalho pelo nascimento de um filho por 84 dias após o parto – o que desestimulava a contratação de mulheres, sendo visto como um prejuízo aos empregadores. Posteriormente, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) determinou que o pagamento da licença-maternidade fosse pago pelos sistemas de previdência social. 

Atualmente, a licença-maternidade é um direito assegurado pelo art. 392 da CLT e prevê que a funcionária gestante tenha direito a se afastar de seu trabalho, sem prejuízo de salário e emprego, por um período de 4 a 6 meses. No entanto, apesar de um cenário muito mais positivo, ainda existem muitas incertezas e preconceitos que envolvem esse tema. Pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas constatou que quase metade das mulheres que tiram licença-maternidade não estarão mais presentes no mercado de trabalho após 24 meses – padrão que se repete até mesmo 47 meses depois.

Sofrimento das mães

O sofrimento das mães ao voltar ao trabalho é marcado pela desigualdade de gênero instituída culturalmente, que determina que a mãe deva ser a responsável pelos cuidados com o bebê. “Mulheres assumem a maior responsabilidade com os afazeres domésticos trabalhando até dez horas a mais do que os homens, de acordo com estudo do IBGE. A licença maternidade é um período de muito trabalho, adaptação, ansiedade, mudanças hormonais, comportamentais e de muita culpa.  Durante esse período 1 a cada 4 mães tendem a se deprimir”, completa a especialista.

Nesse sentido, uma mãe que se encontra imersa nas demandas do bebê pode facilmente negligenciar sua própria saúde emocional e física. “Ela pode não perceber os sinais de exaustão, ansiedade, depressão pós-parto ou outros desafios emocionais que possam surgir durante a transição de volta ao trabalho. Antes de voltar ao trabalho, é necessário cuidar da saúde mental. Isso inclui conversar abertamente sobre sentimentos, buscar ajuda de profissionais de saúde mental, quando necessário, e encontrar maneiras de equilibrar as necessidades do bebê com as suas próprias”, indica Sônia.

O retorno da licença maternidade marca uma transição importante, em que as mães enfrentam uma série de mudanças emocionais, logísticas e sociais que podem ser desafiadoras de gerenciar. Para lidar melhor com a situação, confira cinco dicas da psicóloga:

1. Licença maternidade não é férias

É muito comum que familiares, amigos e vizinhos venham visitar nos primeiros dias do nascimento do bebê. No entanto, a maioria das pessoas volta às suas vidas normais logo depois, deixando a mãe sozinha, com cólicas, choros, fraldas e muito medo.
Para evitar que isso aconteça, é importante fazer uma escala de dias e horários com os familiares e amigos, para que eles possam ajudar a mãe com as tarefas domésticas e com os cuidados com o bebê. A mãe precisa sentir que não está sozinha, e que tem pessoas em quem pode confiar.
Quanto ao pai, é importante que ele também participe das responsabilidades com o bebê, mesmo que esteja trabalhando durante o dia. Dividir as tarefas é fundamental para o bom desenvolvimento da criança e para o bem-estar da família. Além disso, ajuda o casal a se preparar para o retorno ao trabalho da mãe.

2. É possível negociar novos formatos de trabalho

Para isso, você pode pensar em dias de trabalho home office ou trabalho híbrido. Em alguns casos, também pode ser possível estudar mudanças nas suas tarefas. Trabalho presencial e trabalho em casa em períodos alternados também pode ser uma opção, desde que você tenha alguém na sua casa para ficar com o bebê.
O objetivo é que você esteja próxima do bebê, possa amamentar e possa trabalhar. É importante não tentar fazer tudo ao mesmo tempo, pois isso pode gerar ainda mais estresse.

3. O período de amamentação requer cuidados

Antes do retorno ao trabalho após a licença maternidade, fazer pesquisas sobre o tema e preparar o bebê para o caminho escolhido pela mãe é fundamental. Organizar, preparar, congelar leite, treinar e orientar as pessoas que ficarão responsáveis por isso evitará comentários que poderão perturbar esse momento.
A culpa pelo possível mal estar do bebê pode gerar conflitos como: “ eu não sou boa mãe”,“ que vida é essa que estou proporcionando para meu filho?” ,“Será que estou fazendo a coisa certa?” e até mesmo a culpa por ter que voltar ao trabalho pode pairar.

4 . Autocuidado sempre é importante 

Mulheres têm o dobro de chance de desenvolverem transtornos mentais, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). A maternidade é marcada por excesso de trabalho, responsabilidade e culpa. No entanto, delegar as atividades domésticas e ter um tempo para si é fundamental.
O autocuidado pode vir por meio de exercícios físicos, leituras, filmes, dormir, comer com tempo, ficar em silêncio e muitas outras atividades.

E MAIS…

Procure ajuda profissional

A escuta dos medos, ansiedade e culpa é fundamental para mapear os valores que sustentam a forma como a situação está sendo interpretada. É comum após a licença maternidade, haja a constatação da frustração com a sociedade, com o parceiro e com o próprio trabalho.
Nesse sentido, o psicólogo pode ajudar a olhar para as expectativas com relação ao momento, ato fundamental para revisar e buscar outras alternativas. Além disso, compreender quais sentimentos e comportamentos são comuns para essa fase pode acolher essa mãe que muitas vezes se sente sozinha e assustada com tantas mudanças.
Quando é possível compreender que existem padrões comuns para essa fase, a culpa diminui e o sentimento de segurança vai aos poucos sendo retomado.