A ansiedade patológica é um dos principais problemas de saúde mental da atualidade de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, em torno de 26,8% das pessoas têm o diagnóstico, sendo 31,6% jovens de 18 a 24 anos. Nesta entrevista, o médico psiquiatra Flávio Henrique Nascimento aborda causas, consequências, como tratar e como prevenir.

Nascimento é formado em medicina pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), tem residência médica em psiquiatria pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e mais de 10 anos de experiência na área de psiquiatria. É membro do Centro de Pesquisa e Análises Heráclito (CPAH ) como pesquisador auxiliar.

Por que hoje se afirma que a ansiedade é o mal do século em vez da depressão?

Os transtornos de ansiedade são a categoria mais comum das patologias psiquiátricas (28% dos adultos desenvolvem ao longo da vida), em qualquer faixa etária e têm idade de início mais precoce que a maioria das outras doenças mentais. Também é importante lembrar que o Brasil é o país mais ansioso do mundo e que essa doença pode acompanhar outros transtornos mentais, como a depressão.

Quais são as principais causas da ansiedade patológica?

Desarmonia frontotemporal no cérebro com alterações nos neurotransmissores, por meio da interação entre genética e ambiente, configura o modelo mais aceito de causa da ansiedade. Traumas, cultura imediatista, má qualidade de sono, nutrição inadequada, sedentarismo, uso excessivo de celular, telas em geral, internet e redes sociais podem estar associados ao desenvolvimento dos transtornos de ansiedade.

E o quanto a grande quantidade de informação difundida na atualidade contribui para a ansiedade?

É importante que se continue estudando essa relação, pois o excesso de informações e o encontro do conhecimento de forma muito facilitada, com pouco esforço, podem levar a estímulos excessivos de neurotransmissores na região do córtex pré-frontal (região da inteligência) e sua disfunção, principalmente entre os mais jovens (fase em que essa região do cérebro ainda se encontra em desenvolvimento). Sendo assim, entre as diversas possíveis consequências danosas ao indivíduo com essa alteração, os transtornos de ansiedade podem desenvolver-se (desarmonia frontotemporal no cérebro).

Quais os principais sintomas da ansiedade?

Preocupação excessiva, irritabilidade, tensão muscular, sensação de estar com os nervos à flor da pele, perturbações do sono, palpitações, sudorese, tremores, sensação de falta de ar, náuseas, tontura, medo de morrer, de interagir socialmente ou de falar em público.

Quais os principais prejuízos que ela traz à vida das pessoas?

Situação financeira inapropriada, problemas conjugais e casamento precoce, redução da escolaridade, faltas recorrentes ao trabalho, por exemplo. É um problema significativo de saúde pública.

De que forma é possível tratar a ansiedade patológica?

Pode ser tratada com psicoterapia, com medicamentos ou com a associação de psicoterapia e psicofármacos; a depender de um plano terapêutico individualizado para cada paciente. Também é importante praticar os hábitos de vida saudáveis. Psicólogos e médicos psiquiatras são os profissionais que conduzem o tratamento.

De que forma é possível evitá-la?

Manter o bom funcionamento do córtex pré-frontal pode ajudar na prevenção da ansiedade patológica; para isso, praticar mindfulness (atenção plena), exercícios físicos regularmente, ter qualidade de sono e boas relações sociais, ter cuidado com o uso excessivo de redes sociais, celular e com o conteúdo consumido, alimentar-se corretamente e buscar o autoconhecimento, inclusive procurando um psiquiatra ou psicólogo como prevenção ao adoecimento (entender a formação de sua personalidade e os padrões inadequados de pensamentos que podem favorecer o desenvolvimento dos transtornos de ansiedade), diminuem consideravelmente a chance de ser acometido pela ansiedade patológica.

E quais os benefícios de uma vida com a ansiedade controlada?

Quando falamos em ansiedade, geralmente pensamos em doença, mas a ansiedade normal, adaptativa, que não é patológica, promove o indivíduo a tomar as medidas necessárias para sua sobrevivência, ajudando assim na manutenção da vida. Inclusive estimula adequadamente a região da inteligência no cérebro (córtex pré-frontal) para seu funcionamento harmônico.