Por que a cocaína é tão viciante?

A capacidade de gerar dependência da cocaína é enorme. Isso se deve a uma série de impactos do seu uso na dinâmica cerebral. A cocaína é uma substância extraída das folhas de um arbusto da coca, utilizada comumente por via intranasal, mas na forma de crack também pode ser fumada. Atualmente é uma das drogas ilícitas mais usadas do mundo.

No entanto, até o fim do século 19, a coca era usada apenas pelos incas para rituais místicos e religiosos. Já por volta de 1880, ela passou a ser um dos principais ingredientes de vinhos e tônicos. Algum tempo depois, em meados de 1970, passou a ser usada como droga recreacional, seu consumo foi se popularizando até chegar ao patamar atual.

O potencial viciante da cocaína é enorme e gera dependência rapidamente devido aos seus impactos no funcionamento cerebral, em especial nos sistemas de recompensa e ansiedade. Essa é a base do estudo ‘A neurotoxicidade no transtorno por uso de substância psicoativa derivados de cocaína’, de autoria do neurocientista Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues em parceria com o neuropsiquiatra Francis Moreira da Silveira.

Segundo os autores, os efeitos da cocaína iniciam-se cerca de 30 minutos após o uso, afetando o sistema nervoso central, gerando uma sensação de gratificação e um ápice de êxtase e autoconfiança. No entanto, quando os efeitos da substância começam a declinar, seus impactos no sistema de recompensa dão lugar à ansiedade, o que estimula a necessidade do uso recorrente.

Os efeitos da cocaína têm um curto prazo de duração e geram um acúmulo de dopamina no cérebro, ocasionado as sensações de euforia características da droga, mas ela vem acompanhada da necessidade de fazer uso de doses cada vez mais altas da substância.

O uso da droga está altamente relacionado a episódios de violência, descuidado com a saúde pessoal, afastamento social e diversos danos psiquiátricos e físicos, o que eleva as taxas de mortalidade dos seus usuários.

No entanto, todas essas situações podem ser revertidas se realizados os devidos acompanhamentos profissionais com o paciente e, em especial, o diagnóstico precoce da dependência, evitando que os efeitos se tornem mais “enraizados” no cérebro.